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Fim da proteção ao etanol nos EUA não deve elevar exportação brasileira

07:36 | 12/01/2012
Após 30 anos de protecionismo, EUA derrubam tarifa de importação sobre o etanol. Produtores brasileiros celebra decisão, mas dizem que as exportações não deverão subir no curto prazo por causa da alta demanda interna. Depois de mais de 30 anos de uma intensa batalha de bastidores, o Brasil celebra uma vitória sobre o protecionismo norte-americano. Desde 1º de janeiro, os Estados Unidos deixaram de cobrar uma tarifa de importação sobre o etanol que, como disse Géraldine Kutas, chefe de relações internacionais da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica), tornava muito difícil a entrada do produto brasileiro no mercado norte-americano. Polo mundial de produção de biocombustível à base de cana-de-açúcar, o Brasil é o segundo maior produtor de etanol. Os Estados Unidos são o primeiro do ranking e usam o milho como matéria-prima. Juntos, os dois países respondem por mais de 70% da produção e mais de 80% do comércio mundial. "Esse é um aceno muito forte para outros países, e também para a União Europeia, que é superprotecionista em matéria de etanol. O fato de os maiores mercado terem um comércio livre deve colocar muita pressão sobre a União Europeia, que tem um mercado cada vez mais fechado", analisou Kutas, do escritório da Unica em Bruxelas. Mais mercado para o Brasil? A abertura de mercado não deve provocar, no entanto, um crescimento imediato das exportações brasileiras. "Não vai existir um boom para os Estados Unidos. Não estamos em condições de exportar grandes quantidades. Essa é a situação atual e será assim pelo menos nos próximos dois anos", pontuou Kutas. A indústria nacional passa por um momento delicado. Para atender à crescente demanda interna, o país precisaria de 120 novas usinas até 2020, segundo cálculos do setor. "O Brasil não pode suprir sua própria demanda interna, que dirá exportar para os Estados Unidos", respondeu à DW Brasil o especialista Bruce Babcock, da Universidade de Iowa. Para o pesquisador norte-americano, o comércio pode aumentar no sentido inverso: "O preço do etanol nos Estados Unidos é menor do que no Brasil. Isso quer dizer que os brasileiros terão mais incentivo para importar o biocombustível de milho." Analistas brasileiros duvidam dessa possibilidade. Isso porque, reconhecidamente, o combustível à base de cana-de-açúcar é mais eficiente e mais limpo que o rival. A própria agência de proteção ambiental dos EUA, a EPA, classificou o etanol de cana como "biocombustível avançado", com até 90% de redução de emissões de CO2 comparado com a gasolina. A Unica afirma que a abertura do mercado externo não trará riscos de elevação dos preços para o consumidor brasileiro. "O setor produtivo do Brasil está comprometido com o consumidor brasileiro. O foco sempre será o mercado doméstico, mas os excedentes serão obviamente exportados." Venda aos poucos As exportações para os EUA deverão aumentar gradativamente, à medida que o país implementar seu ambicioso programa de promoção dos biocombustíveis, que visa reduzir as emissões de gases do efeito estufa. A meta é tida como a mais ambiciosa do mundo: até 2022 o mercado norte-americano deverá consumir 136 bilhões de litros de etanol por ano. Desse total, o volume de consumo para o etanol "avançado", onde o de cana-de-açúcar se encaixa, é de pouco mais 15 bilhões de litros. "Isso dá toda a segurança para o produtor brasileiro poder planejar uma expansão gradativa. Não se trata de desviar etanol doméstico para o mercado internacional. O produtor tem tempo suficiente para se adaptar e adaptar a sua produção." Cautela e limitação Nos Estados Unidos, a extinção da tarifa de importação sobre o etanol está ligada ao fim de um subsídio dado às empresas que fazem a mistura dos combustíveis: para cada galão de etanol misturado à gasolina, o governo concedia um crédito de 0,45 centavos de dólar. Paralelamente, o Congresso impunha uma tarifa sobre o etanol importado, que era de 0,54 centavos de dólar por galão. Dessa maneira, o governo evitava que o etanol estrangeiro se beneficiasse do subsídio. O fim da proteção ao produto nacional deverá gerar uma economia anual de 6 bilhões de dólares aos Estados Unidos. "A indústria norte-americana do etanol não precisa desse crédito porque ainda há uma lei que estimula o consumo de etanol, e o alto preço do petróleo tem mantido a demanda pelo biocombustível em alta", afirma Babcock. A lei a que ele se refere é a mesma que prevê que até 2022 o mercado norte-americano consuma 136 bilhões de litros de etanol por ano. A Coalizão Nacional do Etanol não gostou das mudanças. "O fim do subsídio vai custar empregos e cortes substanciais na produção de etanol nos Estados Unidos", protestou o grupo de lobby do setor, afirmando que 112 mil postos de trabalho serão perdidos e a queda na produção doméstica será de 38%. Em números Em 2010, os carros brasileiros consumiram 22,6 bilhões de litros de etanol em 2005, esse número era de 15 bilhões. Dados do Canasat, sistema que monitora via satélite o plantio de cana-de-açúcar, indicam que 8,6 milhões de hectares são cultivados atualmente, ou seja, 80 mil quilômetros quadrados quase o território da Áustria. A pressão da demanda e o avanço da fronteira agrícola preocupam ambientalistas brasileiros. A Unica diz não ignorar essa cobrança. "A grande promessa para o futuro é aumentar a produtividade: mais etanol em menos terra. E poder aproveitar a celulose da cana: dois terços da energia da cana estão na biomassa, na palha e no bagaço", comentou Kutas. Autora: Nádia Pontes Revisão: Roselaine Wandscheer / Alexandre Schossler

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