Igreja Nossa Senhora do Carmo inicia celebrações de 120 anos com feira de Natal
Aniversário da igreja é apenas em março, mas comemoração já começa neste mês de dezembro; expectativa é de que 3 mil pessoas passem pela paróquia nos três dias de feira
A igreja de Nossa Senhora do Carmo, no centro de Fortaleza, dará início a comemoração de seus 120 anos na próxima quinta-feira, 11. Apesar de a data de aniversário ser apenas em março, a paróquia fará a abertura dos festejos já neste mês de dezembro, com a realização da sua primeira feira de natal.
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A programação se estende da quinta até o sábado, 13, com celebração de missa, venda de produtos e apresentações musicais. De acordo com o pároco da igreja do Carmo, padre Paulo Sérgio, a ideia da feira surgiu como convite aos paroquianos que já se confraternizam anualmente no local e àqueles que não a frequentam regularmente, mas possuem lembranças com a igreja.
"A gente promove isso porque é uma igreja central, central eu digo no Centro, né? Tem os nossos paroquianos mesmo aqui do bairro, mas também vêm pessoas de vários pontos da cidade, que têm um carinho pela igreja. Porque casaram aqui, ou porque foram batizados aqui, os pais ou até avós", afirma o sacerdote.
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A expectativa é de que 3 mil pessoas participem do evento, entre expositores, paroquianos e visitantes em geral. Os 30 stands de vendas estarão abertos nos três dias a partir das 17 horas na área externa da igreja, com opções em alimentação, vestuário, artesanato, entre outras áreas..
Dentro do templo, serão realizadas missas às 18h e apresentações artísticas entre 19h e 22h. Confira a programação:
- Quinta-feira: orquestra de câmara Heitor Villa Lobos
- Sexta-feira: coral Arautos do Evangelho
- Sábado: cantata de natal com participação de Guilherme Pontes e família
Igreja acompanhou mudanças na cidade
Quarta paróquia fundada em Fortaleza, a igreja figura entre as mais tradicionais da cidade, colecionando histórias memoráveis e sendo testemunha material das mudanças da cidade. Uma de suas principais características é a forte relação com o entorno, já que devido à localização central na cidade, sempre foi cercada e visitada por um grande número de pessoas.
“Sempre vêm. Os meninos do Ari de Sá (escola vizinha à igreja) estão sempre aqui rezando. O pessoal do banco (do Brasil) quando vem passa aqui para rezar. Aqui de terça a sexta tem adoração, terço que o povo sempre participa”, conta João Marcos Rodrigues, 65, sacristão da igreja há 43 anos.
As comemorações são de 120 anos de existência, entretanto, os trabalhos feitos à comunidade cearense são bem anteriores à data oficial de criação, em 1906. Antes de ser a Igreja do Carmo, a paróquia foi Capela do Livramento, construída em 1850, mesmo contra a vontade de alguns religiosos e sacerdotes da época.
Um dos principais motivos para essa aversão era o fato de a praça do Carmo, onde hoje fica a igreja, à época ser apenas um terreno vazio, que abrigava apenas cajueiros, mangueiras e algumas choupanas de palha.
Teve na década de 70 um período de grandes dificuldades financeiras, devido à seca dos três 7, nos anos de 1877, 1878 e 1879. Em 1892, a Arquidiocese transferiu a gestão da igreja para uma associação de devotos à Nossa Senhora do Carmo, que decidiram homenagear a santa no nome da igreja.
Com o crescimento econômico e populacional de Fortaleza, o espaço que antes era apenas areia e árvores ganhou cada vez mais gente, levando à promoção da então igreja para paróquia em 1915.
“Naquela região já havia um fluxo maior de pessoas que participavam das missas e das novenas dentro da igreja Nossa Senhora do Carmo. Essa expansão urbana e essa necessidade que a igreja local tinha de estar perto dos seus fiéis fez com que a arquidiocese visse naquela igreja a possibilidade de se tornar uma matriz”, conta o historiador e fundador do projeto Fortaleza de Fé, Lucas Costa.
Outro sinal dessa companhia ao avanço da cidade é a estrutura da igreja. Com o passar dos anos e aumento do público, o templo ganhou corredores laterais e tribunas, a fim de atender à maior demanda.
Logo na entrada, as grades que cercam todo o perímetro do prédio mostram que a igreja precisou se adaptar também à violência que cresceu com o passar das décadas na Terra do Sol.
"Uma vez o cara quis até matar o padre aqui na sacristia. Entrou com um gargalo de garrafa querendo matar o padre. Nesse tempo eu era mais jovem e tomei da mão dele. Disse 'meu filho vá embora'. Aqui já teve muita marmota", lembra João Marcos.
Paróquia guarda obras de alto valor histórico e cultural
Quem entra na igreja do Carmo, não deixa de perceber a gama de obras dispostas por toda a estrutura. Imagens de santos nas colunas e no altar, além de quadros católicos fazem do templo uma referência além de histórica, também artística da Capital.
Um dos objetos mais emblemáticos da igreja é a imagem de Nossa Senhora do Carmo, que fica acima do altar da igreja. Importada de Portugal no início do século XX, a imagem ficou retida na alfândega, e sem que a paróquia tivesse dinheiro para resgatá-la, foi arrematada por um comerciante local, de nome José Rosas.
Admirado com a beleza da obra, o novo dono não quis doá-la, cenário que só mudaria quando ele fora acometido por uma grave doença intestinal. Rosas então prometeu à Nossa Senhora do Carmo que caso fosse curado da doença, entregaria a imagem para a igreja, como forma de agradecimento.
“É interessante essa história toda, porque ela explica porquê que a imagem do altar mor é até hoje objeto de profunda veneração popular. Ela não é apenas uma escultura, ela é um símbolo de devoção, de promessa, cura e gratidão”, pontua o também historiador e presidente do Instituto Municipal de Desenvolvimento de Recursos Humanos (Imparh), Evaldo Lima.
Olhando para cima, surge outra obra de muito valor da igreja, um quadro pintado em 1904 pelo alencarino Raimundo Ramos de Paula Filho, popularmente conhecido como Ramos Cotoco.
A tela demonstra a virgem Carmo retirando as almas do purgatório. Em seu colo está o menino Jesus, representado em posse de escapulários, símbolos da devoção católica.
“Dentro da igreja existem várias obras com extraordinário valor histórico, cultural, enfim. Diante do altar mor está a grande tela do Ramos Cotoco. É uma das mais importantes e das mais belas pinturas sacras do estado do Ceará”, complementa Lima.
A “igreja dos governadores”
Ao longo desses 120 anos de história a igreja teve diversos públicos, dentre os quais um chama a atenção, o de governadores do Estado. Com presenças como Virgílio Távora, César Cals e Gonzaga Mota, a missa das manhãs de domingo sempre era carimbada com a presença do executivo estadual.
“Essa aqui é uma igreja histórica. Antigamente vinham para cá os governadores do Estado, o prefeito… Quando era o Gonzaga Mota ela vinha aqui para a missa. O Virgílio Távora e o César Cals também, mas já morreram, então…”
Para os frequentadores da igreja era comum dividir o espaço com as autoridades. Evaldo, por exemplo, conta que por vezes já encontrou outros governadores no local, que faziam questão de assistir a missa na Nossa Senhora do Carmo.
“Eu mesmo frequentava muito essa igreja e a gente tem alguns fiéis que só assistiam missa naquela igreja. Dou o exemplo do ex-governador Lúcio Alcântara. Encontrei com ele diversas vezes, especialmente nas missas que eram celebradas pelo padre Haroldo”, conta.
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