Um em cada cinco domicílios cearenses é alugado, aponta IBGE
Mais de 42 milhões de pessoas moram de aluguel em todo o Ceará; modelo é o segundo tipo de moradia mais recorrente no Estado
Cerca de 20,5% dos domicílios cearenses são alugados, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O dado faz parte do Censo Demográfico por Características de Domicílios 2022, divulgado nesta quinta-feira, 12, que indica um total de 1,8 milhão de cearenses morando de aluguel.
Conforme a pesquisa, o aluguel é a segunda modalidade mais adotada no Estado, atrás dos imóveis próprios já quitados, que somam 67,6% das residências. O IBGE considera como moradias já quitadas as residências que já foram totalmente pagas, herdadas de parentes ou recebidas como doação.
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O Ceará apresenta números similares à média nacional, já que em todo o Brasil, um quinto dos lares também são provenientes de contratos de aluguel. Segundo dados do Censo, o Brasil tem seguido uma tendência de crescimento no número de imóveis alugados, saindo de 12,9% no Censo de 2000, para 16,4% em 2010 e 20,9% na atual edição do levantamento.
Com ápice percentual no ano 2000, quando representava 76,8% das residências, o índice de casas já quitadas caiu para 75,2% em 2010 e 72,7% no Censo de 2022. O período de queda no número de casas próprias coincide com os anos de incremento das moradias por aluguel.
Além destas modalidades, imóveis próprios em pagamento e cedidos ou emprestados por familiares e empregadores também foram registrados pelo IBGE. Ao todo, 3,9% dos domicílios cearenses são cedidos aos moradores por familiares, 0,9% por empregadores e 1% em outras condições.
Por fim, 0,6% dos cearenses mora em lares não condizentes com nenhuma das opções apresentadas pelo IBGE.
Número de casas alugadas é maior entre pais e jovens com filhos
Ainda de acordo com o Censo Demográfico, cerca de 35% dos domicílios cearenses onde residem uma pessoa acima dos 15 anos e pelo menos uma criança até os 14, são alugados. Em comparativo, o percentual é 13% maior que os 22% de casas alugadas em números gerais do Estado.
O levantamento também reforça que esse público, de pessoas acima dos 15 anos responsáveis por crianças, é composto em maioria por pais e mães solo, especialmente por mulheres.
"Predominantemente eram arranjos domiciliares monoparentais tipicamente femininos e não masculinos, muitas mães morando com os filhos", destaca o chefe da Seção de Disseminação de Pesquisas do IBGE, Helder Rocha.
"Os dados levantados pelo IBGE é uma provocação para que os pesquisadores, estudiosos da academia possam, diante dessas variações, ver essa dinâmica, essa evolução", complementa Helder.
A publicação do IBGE ressalta ainda que no processo de saída da casa dos pais, os jovens encontram no aluguel uma forma de independência e de iniciar a vida adulta junto ao filho recém chegado. Em alguns casos, esse movimento é acompanhado por uma mudança ainda maior, quando a pessoa vai morar em outra cidade.
Foi isso o que aconteceu com Dandara Silva, 26, estudante de gastronomia, que aos 20 saiu de Cuiabá, no Mato Grosso, para fazer faculdade no Ceará. Desde a chegada ela começou a morar de aluguel em Baturité, onde estudava no Instituto Federal de Ciência e Tecnologia (IFCE).
Em 2019, ela obteve transferência para a Universidade Federal do Ceará (UFC), em Fortaleza, e posteriormente engravidou. Desde então, a bacharelanda tem acumulado as rotinas acadêmicas, domésticas, laborais e maternas
“É bem corrido. Às vezes vou para faculdade, minha aula acaba 17h30min, mas tenho que falar para o professor ‘olha eu tenho que sair mais cedo, porque meu filho sai 17h da escola’. Vou lá buscar ele, venho para casa, começa a rotina de fazer a janta, arrumar o que precisa arrumar dentro de casa. Quando você vai ver são 23 horas”, conta a estudante.
A pesquisa ainda conclui que o número de casas alugadas em outros grupos tende a ser menor do que os de pai e mãe solo. Nos domicílios onde reside apenas uma pessoa, o quantitativo de alugueis é 27,8%. Em casas com duas pessoas acima de 15 anos e pelo menos uma criança (cenário comum a casais com filhos) o número cai para 25,1%.
O doutor em Geografia Humana, Alexandre Queiroz Pereira, explica que o aumento no quantitativo de domicílios alugados, se dá, principalmente, à falta de políticas públicas de moradia.
"Houve uma retração das políticas habitacionais, pensando em investimentos públicos, tanto nas moradias populares para pessoas de menor renda e menos incentivos à aquisição de imóveis às famílias com renda média. A dificuldade de acessar o imóvel próprio no Brasil leva as famílias à aquisição de imóveis alugados", pontua.
Atualizada às 11h16min
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