Marcha da Periferia cobra por justiça após 8 anos da Chacina do Curió

Além de segurança, Marcha da Periferia também reivindicou condições básicas e ações culturais e educativas em comunidades de Fortaleza

Na manhã deste sábado, 11, o Centro de Fortaleza foi palco da 11° Marcha da Periferia. O evento teve como objetivo a busca por justiça à violência contra pessoas negras e residentes de localidades periféricas, bem como ações sócio educativas em áreas de vulnerabilidade social.

A marcha teve início por volta das 8h, com concentração na Praça dos Leões, e seguiu até a Estação das Artes.

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Neste ano, o evento traz evidência às medidas de reparação reivindicadas pelo movimento Mães do Curió, que são objeto de Ação Civil Pública.

Dessa forma, a marcha teve como tema "O Curió canta Justiça, Memória e Reparação. Contra o Genocídio Negre: Liberdade para Viver e (R)Existir!".

O crime, considerado uma das maiores chacinas do Ceará, aconteceu em novembro de 2015. Na ocasião, 11 pessoas foram mortas, sendo oito delas adolescentes.

Segundo o Ministério Público do Ceará, os crimes teriam sido motivados por vingança pela morte do soldado Valtemberg Chaves Serpa, assassinado horas antes ao proteger a esposa em uma tentativa de assalto, no Bairro Lagoa Redonda.

Durante a Marcha da Periferia, representantes do Mães do Curió relembraram a noite de 11 de novembro de 2015 e a dor da perda de seus familiares. Uma delas foi Edna Carla, 52, mãe da vítima Alef Souza Cavalcante, que tinha 17 anos.

“A perda de um filho não significa apenas perder um ente querido, mas também perdemos nossa história, saúde e paz. O que perdemos não será recuperado, mesmo com a justiça, mas ainda assim buscamos por ela. A polícia deve parar de matar na periferia, não podemos mais aceitar mães enterrando seus filhos com toda a juventude”, comenta a representante do movimento.

Edna Carla, mãe da vítima da Chacina do Curió, Alef Souza Cavalcante(Foto: FÁBIO LIMA)
Foto: FÁBIO LIMA Edna Carla, mãe da vítima da Chacina do Curió, Alef Souza Cavalcante

A Marcha ocorre justamente no dia que marca os oito anos da Chacina do Curió. Um dos objetivos da manifestação é mobilizar pela implementação no Ceará de um modelo de segurança pública com participação popular.

“Queremos uma polícia mais participativa, que aborde de maneira justa, sem violência. Uma polícia em que possamos confiar, não aquela que chega na periferia com discriminação”, ainda comentou Silvia Helena de Lima, 52, que perdeu o marido na madrugada que ocorreu a Chacina.

Percorrendo as ruas do Centro, ainda compareceram à Marcha membros de movimentos de juventudes e organizações da sociedade civil. Durante o trajeto, o toque de instrumentos de percussão entoaram em conjunto com gritos por justiça e reparação social nas comunidades.

De acordo com Nayma Lima - uma das organizadoras da Marcha e também representante dos coletivos Alium Resistência e Pira Roots - além de segurança, também são reivindicadas condições básicas em comunidades de Fortaleza.

“São questões que muitas vezes são negligenciadas, como saneamento, em bairros como o Grande Bom Jardim, Pirambu e Curió. Além da falta de cultura e lazer, que desempenham um papel vital na transformação das comunidades. Para muitos jovens, ter acesso a atividades culturais e de lazer pode afastá-los da criminalidade”, comenta a ativista.

A Marcha também foi acompanhada por parlamentares e integrantes da Defensoria Pública do Ceará. Em caminhada, os manifestantes seguiram até a Estação das Artes, onde teve início programação cultural com artistas locais como Mazé MC, Yanã, Duda Rodrigues, Buja, Cecéu, entre outros.

Conflito de trânsito durante a Marcha da Periferia

Durante a Marcha da Periferia, enquanto o grupo percorria trecho da rua Doutor João Moreira, no Centro, uma confusão se formou entre manifestantes e motoristas.

Na ocasião, participantes do evento bloquearam temporariamente as ruas que o grande grupo passava para evitar que veículos adentrassem vias.

Irritados com a situação, alguns motoristas e motociclistas tentaram violar as barreiras humanas. Um piloto chegou a descer de uma moto e bater no braço de uma jornalista, além de tentar derrubar a câmera de um fotojornalista.

O conflito, contudo, rapidamente foi desfeito após o movimento seguir para outra rua e a barreira humana ser desfeita. Após isso, o trânsito fluiu normalmente na via.

Questionada pela equipe do O POVO, a organização do evento informou que, apesar de ter solicitado o serviço de apoio ao trânsito (por e-mail) para a Autarquia Municipal de Trânsito (AMC) e para a Regional 12, os pedidos não foram respondidos.

A Prefeitura de Fortaleza, por sua vez, informou que verifica se algum pedido de apoio foi protocolado para a realização do evento Marcha da Periferia.

“No entanto, salienta que nenhuma solicitação foi registrada no âmbito da Secretaria Municipal de Gestão Regional (Seger). Quanto à operação de tráfego, a Autarquia Municipal Municipal de Trânsito e Cidadania (AMC) esclarece que nenhuma demanda foi encaminhada ao Núcleo de Operações do órgão, responsável pelo planejamento das operações de trânsito”, informaram em nota.

 

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