Ceará teve 11 operações contra abuso sexual infantil na Internet e 9 presos em 2023

Foram 32 mandados de busca e prisão nos anos de 2022 e 2023. Para o chefe da Delegacia de Repressão aos Crimes Cibernéticos, as operações são sempre a "ponta do iceberg" para um contexto maior de crimes

A Delegacia de Repressão aos Crimes Cibernéticos (DRCC), em Fortaleza, é uma das que mais atua com operações da Polícia Federal (PF) no combate ao abuso sexual infantil na Internet no País, conforme o delegado titular Victor Mesquita. No Estado, no ano de 2022, foram 13 operações com 8 presos, conforme a PF. Já em 2023, nos primeiros sete meses, foram 11 operações com nove pessoas presas.

Entre as operações do ano passado estão a Escudo de Ouro 2, a Betume, Taciturno, Santos Pecados, TEPT, Vigiai, Guardiões da Infância, Arraial dos Horrores, Voraz, Quebrando Pontes, Voraz 2, Avassalador e Psique Sombria. A última envolvia um psicólogo que divulgava imagens de crianças e adolescentes e possuía fóruns para ensinar outras pessoas a aliciar mães, com filhos e filhas pequenos, a repassarem imagens de abusos sexuais das próprias crianças.

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A partir da prisão desse psicólogo, a Polícia Federal chegou até as mães. A operação Anêmona, que aconteceu em julho deste ano, prendeu seis mulheres e cumpriu seis mandados de busca e apreensão. As mulheres eram aliciadas pelo psicólogo para praticarem estupro contra as crianças. 

Foram 31 mandados de busca e apreensão nos anos de 2022 e 2023. As operações, como a Santos Pecados, por exemplo, teve cumprimento de mandado de busca e apreensão em Caucaia, na Região Metropolitana de Fortaleza, contra um suspeito de compartilhar arquivos de abuso sexual. A operação Guardiões da Infância, a nível nacional, possuía mais de 100 mandados de prisão, sendo que três foram cumpridos no Ceará. 

Crimes estão nas redes sociais comuns do dia-a-dia 

Titular da Delegacia de Repressão aos Crimes Cibernéticos (DRCC), delegado Victor Mesquita, em entrevista ao O POVO, destaca que o perfil desses casos é sempre de criminosos do sexo masculino e de idades variadas.

O chefe da delegacia explica que o abuso sexual na Internet não se restringe à dark web, mas muitas vezes nas redes sociais comuns que usamos no dia-a-dia. Ele aponta grupos de Telegram, WhatsApp, Instagram, entre outros. No caso da operação Anêmona há uma exceção. Conforme o delegado, chefe da DRCC, foi a primeira operação com alvo mulheres, especificamente mães. 

A deep web é composta por servidores que não são encontrados nos mecanismos de buscas. Já a dark web é uma parte, na área mais profunda da deep web, que é usada com intenções maléficas. "Exige um preparo maior do usuário", ressalta. 

Na dark web, a intenção é dificultar a descoberta das suas identidades. "As pessoas sabem que é errado socialmente, juridicamente e até dentro do mundo do crime, no sistema penitenciário, o abuso sexual contra crianças e adolescentes é reprovável", continua o delegado. 

As operações são "a ponta do iceberg" 

Para o chefe da delegacia, as operações são sempre "a ponta do iceberg", onde se descobre uma série de outros crimes. Quando a Polícia Federal pede uma prisão, há uma certeza do fato. "Aquilo que a gente tem é uma pontinha de alguma coisa", ressalta.

O delegado federal aponta que, em algumas situações, a pessoa é presa por um compartilhamento realizada em um momento específico. No entanto, no momento da oitiva, o suspeito relata que já pratica os atos criminosos há anos.

"A grande maioria dos abusos ocorrem em ambientes familiares com pessoas próximas ou da família. Aquilo era uma parte do que realmente ocorre", descreve Victor.

Grupos de trocas de mensagens são alvos

Fóruns, grupos de Instaram, WhatsApp, Telegram, todos são alvos. Existem grupos de troca de pornografia em que os pedófilos participam e enviam fotografias. Lá, eles verificam outras pessoas que têm o costume de compartilhar e trocar imagens e eles seguem para conversas no privado. Naqueles grupos há pessoas que aceitam e há pessoas que tiram o print e denunciam.

A PF identificou grupos com mais de 100 participantes de compartilhamento, específico, de pornografia infantil. Não é crime participar do grupo, mas o compartilhamento e armazenamento dessas mensagens, além da produção de conteúdos, que dependendo da situação, será classificado como crime de estupro. 

No mundo virtual, os jogos on-line e redes sociais são os ambientes preferidos dos abusadores  

O delegado destaca que, no mundo real, os pais devem ficar atentos com a produção de conteúdo sexual com crianças e adolescentes. O momento de troca de roupa da criança, de fralda, em público, que é considerado normal para os pais, para os abusadores pode ser a oportunidade para produção de conteúdo.

Nos parques, pula-pulas, o cuidado deve ser redobrado. Nas redes sociais, a foto da criança tomando banho, imagens sem qualquer ideia sexual, produzidas pelos responsáveis e, divulgadas na Internet, são usadas por pedófilos, que se apropriam dessas imagens para divulgação. Os responsáveis devem verificar se pessoas fotografam ou filmam as crianças. 

Outro detalhe, citado pelo delegado, é que, no mundo virtual, os abusadores se concentram em fóruns, jogos onlines, redes sociais, se passam por mulheres, por crianças. 

A maior parte das denúncias vem por meio do do NCMEC – National Center for Missing and Exploited Children (organização não governamental sem fins lucrativos), que tem o apoio do governo americano. O relatório do NCMEC vem por meio das empresas de tecnologia, dos próprios aplicativos de conversas, das redes sociais. Os usuários tem a possibilidade de denunciar, dentro dessas ferramentas, imagens de pornografia infantil. 

Esses dados passam por Inteligência Artificial, são verificados por pessoas das respectivas plataformas e em seguida são enviados essa entidade e à Polícia Federal.   

O delegado explica que o próprio WhatsApp, por exemplo, detecta que está circulando uma imagem de abuso sexual, bloqueia grupos e perfis. código aponta por onde a aquela imagem circulou. Qual o material é marcado como conteúdo sexual infanto-juvenil, entra em ação a inteligência virtual, a pessoa humana valida e envia para a denúncia.

Para o delegado, as pessoas têm que saber lidar com a evolução tecnológica e não "demonizar" as redes. Os grandes conglomerados estão atuando na defesa e na proteção das crianças e adolescentes.

Veja lista de operações 

2022

3/6/2022 - Escudo de Ouro 2
7/7/2022 - Betume
17/8/2022 - Taciturno
06/9/2022 - Santos Pecados
22/9/2022 - TEPT
7/10/2022 - VIGIAI
11/10/ 2022 - Guardiões da Infãncia
3/11/ 2022 - Arraial dos Horrores
7/11/2022 - Voraz
11/11/2022 - Quebrando Pontes
18/11/2022 - Voraz 2
21/12/2022 - Avassalador
24/12/ 2022 - Psique Sombria

2023 

24/1/2023 - Sorriso Macabro
7/2/2023 - Prófugo
15/2/2023 - O contador de Crianças
7/3/2023 - Quietus
5/4/2023 - Salvaguarda
5/4/2023 - Destronado
30/6/2023 - Nada Liberado
4/7/2023 - Arimã
7/7/2023 - Mega Voraz
13/7/2023 - Salvaguarda 2
31/7/2023 - Anêmona

 

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Polícia Federal operações abuso sexual infantil

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