Morre o arquiteto Liberal de Castro, aos 96 anos, em Fortaleza

Profissional foi referência na arquitetura do Ceará, onde projetou edifícios como Palácio Progresso, no Centro de Fortaleza, e Estádio Castelão, em 1969

18:48 | Set. 09, 2022

Morreu, nessa sexta-feira, 9, o arquiteto e urbanista José Liberal de Castro, aos 96 anos (foto: Reprodução/Facebook)

Morreu, nesta sexta-feira, 9, o arquiteto e urbanista José Liberal de Castro, aos 96 anos, na sua residência, em Fortaleza. Liberal foi referência na arquitetura do Ceará, onde projetou edifícios como Palácio Progresso, no Centro de Fortaleza, e Estádio Castelão, em 1969. 

Em nota de pesar, o Instituto de Arquitetos do Brasil, Departamento do Ceará (IAB-CE), lamentou o falecimento do professor e arquiteto. “Neste momento de tristeza, manifestamos nossa solidariedade à sua esposa D. Iva, filhos, netos, demais familiares, amigos, colegas e confrades”, disse a entidade que declarou luto de sete dias.

O arquiteto Liberal de Castro foi fundador da IAB-CE, em 1957, e ex-presidente da entidade, além de ser fundador da Escola de Arquitetura da Universidade Federal do Ceará (UFC), em 1964. O profissional se destacou pela sua produção arquitetônica, ensino, pesquisa e defesa do patrimônio histórico, artístico e cultural do Brasil.

O Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Ceará (CAU/CE) também comentou, em nota, sobre o falecimento do arquiteto. “O CAU/CE lamenta profundamente a partida e compartilha sua solidariedade e respeito com todos que são atingidos agora por essa falta”, disse.

Em entrevista ao O POVO, o arquiteto e urbanista Totonho Laprovitera comentou sobre a perda do profissional.

“O Ceará perde um dos maiores estudiosos da arquitetura antiga do Brasil. Liberal de Castro foi professor de gerações de estudantes do curso de arquitetura da UFC. A arquitetura e cultura brasileira estão de luto com o falecimento do professor. Uma perda enorme”, disse.

A governadora do Ceará, Izolda Cela, comentou pelas redes sociais a morte do arquiteto.

"Uma das maiores referências da arquitetura do país, participou da fundação da Escola de Arquitetura da Universidade Federal do Ceará (UFC) e foi responsável por obras icônicas, como estádio Castelão. Meus sentimentos a todos os familiares, amigos e admiradores do professor Liberal de Castro", escreveu a gestora.

Velório e sepultamento

O velório do arquiteto José Liberal de Castro será realizado neste sábado, 10, a partir das 9 horas, na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Ceará (UFC), localizada na Avenida da Universidade, 2890, no bairro Benfica, em Fortaleza.

O momento será aberto ao público. A partir das 14 horas, será realizada uma missa no local. Em seguida, o sepultamento do corpo do professor e arquiteto ocorrerá no Cemitério São João Batista, no Centro da Capital.

Referência na arquitetura e cultura cearense

O professor e arquiteto e urbanista Romeu Duarte, em texto publicado no Anuário do Ceará, edição 2017-2018, sobre os 80 anos do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), cita o profissional em relação à sua contribuição na pesquisa e defesa do patrimônio cultural cearense.

Conforme Duarte, a partir da mediação e condução do arquiteto José Liberal de Castro, um dos paladinos do Modernismo em terras cearenses e ex-professor da Escola de Engenharia da UFC, o Ceará conseguiria dar seus primeiros passos no sentido do reconhecimento federal do seu acervo construído dotado de interesse cultural.

Tratava-se do reconhecimento e cuidado do patrimônio cearense de valor nacional. “Os trabalhos tiveram início em 1964 com os tombamentos do Theatro José de Alencar e da Casa Natal de José de Alencar”, disse Romeu, na época.

A pesquisa ocorreu, segundo Duarte, a partir do funcionamento da Escola de Arquitetura e Artes da UFC, onde Liberal de Castro passou a contar com “apoio institucional e humano para realizar suas pesquisas relativas ao patrimônio construído cearense”.

Para Duarte, Liberal era como elemento balizador dos tombamentos da arquitetura cearense. Ele elegeu os processos sociais e históricos de ocupação do território da província, com suas penosas lidas civilizatórias ligadas à formação e evolução dos núcleos urbanos.

Em outro texto, desta vez publicado na edição 2016-2017, do Anuário do Ceará, o arquiteto Romeu Duarte compartilha a visão do profissional sobre o início da arquitetura metálica no Ceará.

Para Liberal de Castro, esse sistema construtivo tinha apenas vantagens em relação aos tradicionais executados em madeira. Devido à resistência a incêndios, à criação de grandes vãos e à pré-moldagem de componentes e peças relacionadas a essa arquitetura portátil.

Conforme Liberal, a partir do texto de Duarte, o emprego das estruturas metálicas importadas constituiria o prolongamento desse capítulo da europeização da vida brasileira. Agora se contava com o produto original, elaborado pelas matrizes culturais de além-mar.

Romeu Duarte explica, no texto, que a construção metálica no Ceará se inicia com a ampliação da rede de estradas, em meados do século XIX, quando são substituídas as pontes em madeira por outras erguidas com perfis metálicos.

Atualizada às 21 horas