Poliomielite: seis em cada dez crianças de Fortaleza estão desprotegidas

Baixa cobertura vacinal é preocupação em todo o Brasil, e campanha nacional busca conter risco de reintrodução da doença no País. Em Fortaleza, a aplicação da vacina está disponível nos 116 postos de saúde, de segunda a sexta-feira

Apenas 44% das crianças fortalezenses com até 5 anos incompletos foram imunizadas contra a poliomielite neste ano. É o que mostram dados do Sistema de Informações do Programa Nacional de Imunizações (SI-PNI) referentes à cobertura vacinal de Fortaleza para a doença em 2022. Assim, seis em cada dez crianças estão desprotegidas.

O número está bem abaixo do patamar necessário para que a população seja considerada resguardada (a meta é 95%) e vem caindo. Em 2021, a cobertura vacinal foi de 73%. Nos anos anteriores, a meta foi atingida, observando queda somente em 2017.

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No Ceará, o declive da proteção é mais evidente. Na última década, a meta foi atingida até 2018. Desde então, os números saíram de 93% em 2019 para 72% em 2021. Neste ano, a cobertura está em 52%. 

A expectativa é que a realidade melhore a partir desta segunda-feira, 8, com o início da Campanha Nacional de Vacinação contra a Poliomielite. Entre os pequenos vacinados está Arthur de Paula Guimarães, de 4 anos. “Acho fundamental manter as vacinas em dia. A Ciência para a gente é tudo, e, se tem que tomar, ele vai tomar todas que vierem”, conta a mãe, Camila Guimarães. “Eu fico sempre atenta, até porque ele vai para a escola, tem os amiguinhos. O quanto antes ele estiver imunizado, é uma preocupação a menos”, acrescenta quando saía do posto de saúde Dr. Luis Costa, no Benfica, na manhã desta segunda. 8.

Vanessa Soldatelli, coordenadora de imunização da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), explica que as ações da campanha seguem durante 30 dias. “Por ser uma campanha de atualização do esquema vacinal, não há meta definida. O intuito é que todas as crianças fiquem protegidas”, aponta. “A pólio é uma doença que precisamos estar ativamente combatendo. A baixa cobertura é uma preocupação; não só aqui em Fortaleza, mas no Brasil e no mundo. É importante que os responsáveis busquem o posto mais próximo; todos estarão disponíveis para atender”, completa.

No Brasil, duas vacinas diferentes são oferecidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para a imunização contra a pólio: a inativada, aplicada por injeção, e a atenuada, em gotas. A primeira deve ser aplicada nos bebês aos 2, 4 e 6 meses de idade. Já o reforço da proteção contra a doença é feito com a vacina atenuada entre os 15 e 18 meses e depois, mais uma vez, entre os 4 e 5 anos de idade.

Em Fortaleza, a aplicação das vacinas acontece nos 116 postos da Capital, de segunda a sexta-feira, das 7h30min às 18h30min. Até 9 de setembro, os postos de saúde estarão envolvidos também na campanha para atualizar as carteiras vacinais de crianças e adolescentes. Entre os imunizantes estão aqueles contra a hepatite, a meningite e o papilomavírus humano (HPV).

Risco de reintrodução do poliovírus

Dilene Raimundo do Nascimento, pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), analisa que “a pandemia [de Covid-19] veio acentuar ainda mais a vulnerabilidade das populações em relação às doenças infecciosas”. “Hoje, o deslocamento de pessoas é muito mais fácil e rápido, logo, a possibilidade de circulação do vírus aumenta. Há uma grave possibilidade de a pólio ressurgir no Brasil, como foi com o sarampo, em 2018. Por isso, precisamos chamar a atenção para o risco e para a necessidade de vacinação”, afirma.

Segundo dados do Sistema de Informações do Programa Nacional de Imunizações (SI-PNI), a cobertura vacinal no Brasil contra a poliomielite atingiu a meta pela última vez em 2015, quando chegou a 98,29%. De 2018 a 2021 a queda é contínua, indo de 89,54% para 69,93%. Até o momento, a cobertura em 2022 é de 46,88% no País.

Para Fernando Verani, epidemiologista da Fiocruz, também é motivo de preocupação a pouca eficiência nas estratégias de vigilância da doença para a contenção de possíveis surtos. “Há cerca de três anos, os protocolos de vigilância epidemiológica ficaram enfraquecidos no Brasil”, aponta. “Se o vírus for reintroduzido e não houver uma notificação rápida do caso, podemos ter uma epidemia. Com as baixas coberturas vacinais que temos hoje, as crianças estão desprotegidas.”

O Brasil não detecta casos de poliomielite desde 1989. Em 1994, a certificação de área livre de circulação do poliovírus selvagem foi concedida em conjunto com todo o continente americano pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS). 

Casos registrados no mundo em 2022

Uma cobertura vacinal baixa aumenta em muito as chances do retorno do vírus ao país. Em fevereiro deste ano, as autoridades do Malaui, na África, declararam um surto de poliovírus selvagem tipo 1 após a doença ser detectada em uma criança de 3 anos. O último caso de poliomielite no país africano havia sido notificado em 1992 e a África, declarada livre da doença em 2020.

Em maio, Moçambique também notificou a presença do vírus; o país não registrava casos de pólio há 30 anos. A cepa do vírus responsável por esses casos está geneticamente relacionada à cepa circulante no Paquistão que, junto com o Afeganistão, é um dos dois países do mundo onde a pólio continua endêmica.

No mês passado, autoridades do estado de Nova Iorque, nos Estados Unidos, confirmaram que um homem adulto não vacinado contraiu a doença. A pólio foi declarada erradicada no país em 1979. Casos importados foram registrados depois, sendo o mais recente em 2013.

Transmissão e Sintomas

A paralisia infantil pode ser transmitida por meio da saliva, do contato direto com fezes contaminadas ou por água e alimentos contaminados por essas fezes. O vírus se multiplica, primeiramente, nos locais onde está alojado no organismo, como boca, garganta e intestinos.

Na maioria dos casos, os infectados manifestam poucos ou nenhum sintoma, apresentando um quadro semelhante a gripes e resfriados. No entanto, por meio da corrente sanguínea, o poliovírus pode chegar até o sistema nervoso, provocando sintomas graves, como paralisia flácida aguda permanente, insuficiência respiratória e, em casos extremos, morte. Crianças com menos de 5 anos têm maiores chances de desenvolver a doença de forma grave.

Com informações da Agência Fiocruz

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