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Moradores denunciam invasão e agressão de policiais durante festa da crisma de jovem autista

Testemunha que estava na confraternização conta ao O POVO Online sua versão de como foi a abordagem dos agentes e as consequências da ação
14:22 | Mai. 20, 2019
Autor O POVO
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A confraternização de amigos e familiares de um adolescente no Lagamar se transformou em minutos de terror após suposta abordagem desastrosa de policiais militares na noite do último sábado, 18. De acordo com testemunhas que estavam no local, os agentes teriam invadido o evento e atacado os convidados. O POVO Online conversou com testemunha que estava na festa. A denúncia também foi realizada na página do projeto Jovens em Busca de Deus, que atua no bairro. Fotografias e vídeos mostram vítimas com marcas no corpo e a casa onde acorria a festa revirada e com objetos quebrados.

Conforme a vítima, que pediu para não ser identificada, o adolescente havia sido crismado naquela noite, em cerimônia em igreja localizada no bairro São João do Tauape. Em seguida, familiares e amigos do menino – cerca de 20 pessoas – foram convidados para uma confraternização na casa dele. "Ele tem autismo, então aquele momento era especial para todos nós", disse a testemunha. 

De acordo com o relato, no momento da festa, policiais faziam perseguição a suspeitos em ruas do entorno e um dos supostos criminosos foi capturado em frente a residência onde ocorria o evento. "Depois que eles fizeram a prisão, ficaram dando tiros para cima. O pai do adolescente foi lá perto e disse que não precisava daquilo, que estava ocorrendo uma festa e as crianças estavam assustadas dentro da casa dele", relatou. 

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Segundo a testemunha, os policiais chamaram reforço e minutos depois teriam invadido a casa do homem. "A mãe, o pai, o irmão e uma vizinha tentaram proteger o menino, porque ele é autista, mas eles agrediram todos. Quando viram que tinha muita gente, adolescente, criança, usaram spray de pimenta. Pegaram a mãe do menino pelos cabelos e botaram para fora, algemaram o marido dela e colocaram de joelhos na calçada", disse. 

Imagens enviadas ao O POVO Online mostram que o adolescente ficou com o braço enfaixado após a agressão. Uma familiar com cortes e hematomas nos braços e o pai do menino está com ferimentos nos joelhos. Ele teria sido levado à Delegacia, onde assinou Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO) e foi liberado logo em seguida. 

"Estamos muito assustados aqui, com medo de represália. Ontem a noite alguns policiais passaram aqui na rua e ficamos com muito medo do que pode acontecer. É a quarta vez que acontece coisas desse tipo, só que dessa vez foi muita violência, não pediram documento, não falaram nada, só invadiram e bateram nos meninos", disse a testemunha. 

Imagens obtidas pelo O POVO Online mostram o resultado das agressões
Imagens obtidas pelo O POVO Online mostram o resultado das agressões (Foto: via Whatsapp O POVO)

Em texto publicado em redes sociais, os integrantes do grupo Jovens em Busca de Deus lamentaram a ação. "Aqui no Lagamar criamos o costume de celebrar quando nossos jovens concluem os sacramentos como forma de difundir que os nossos jovens também são vitoriosos e são luzes de amor e esperança, mas esse ano terminamos a crisma no hospital com as jovens que passaram muito mal depois do spray de pimenta que a Polícia jogou nas pessoas dentro da casa do crismado, e outros na delegacia, pois algumas pessoas foram presas por desacato a autoridade", escreveram.

Para o grupo, a dignidade das pessoas foi violada. "Estávamos todos celebrando a vida de jovens que burlaram as estatísticas de morte e concluíram um sacramento, porém a Polícia com toda a sua agressão acabou tudo, acabou por um momento. Nós não vamos recuar na luta por cada jovem do Lagamar", criticou.

O POVO Online questionou a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), a Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública (CGD) e a Polícia Militar do Ceará (PM) sobre a conduta dos agentes. Os questionamentos foram enviados na noite de domingo, 19.

A SSPDS informou que a demanda é de responsabilidade da Polícia Militar.

Em nota, a PMCE informou que as pessoas presentes na residência onde a festa estava ocorrendo teriam jogado pedras contra a viatura, que patrulhava pelo local. Segundo a corporação, quatro suspeitos foram encaminhados à Delegacia da região e procedimentos para apurar possível desacato foram instaurados. 

"A PMCE informa que vai investigar a conduta dos policiais militares envolvidos nesse caso, haja vista a informação de que houve excesso durante o atendimento da ocorrência. Vale salientar que a Corporação não compactua com quaisquer tipos de desvios de conduta e garante que ações indevidas são devidamente apuradas e, caso comprovado irregularidades, serão devidamente penalizados", conclui em nota a instituição. 

Já a CGD informou, após a publicação desta matéria, que determinou investigação para identificar os agentes envolvidos no caso. "Ao identificá-los, a Controladoria instaurará o competente procedimento disciplinar para devida apuração da conduta dos policiais na seara administrativa", afirma o órgão em nota.

Atualizada às 14h35 com as notas da CGD e da PMCE

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