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Fortaleza tem estrutura para receber chuva? Especialistas explicam

Especialista afirma que alagamentos são causados pelo entupimento da rede de drenagem de resíduos sólidos
23:10 | Fev. 04, 2019
Autor Rubens Rodrigues
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Rubens Rodrigues Repórter do OPOVO
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Tipo Notícia

Chuva intensa e transtornos são palavras constantemente vistas juntas quando o lugar em questão é Fortaleza. É comum ver alagamentos em diversos pontos de grande fluxo da cidade, como em trechos inteiros das avenidas Duque de Caxias e Heráclito Graça, no Centro. Especialistas ouvidos pelo O POVO Online destacam causas e debatem soluções.

A principal causa é o entupimento da rede de drenagem por resíduos sólidos. É o que afirma o especialista em drenagem urbana Marco Aurélio Holanda, professor do Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental da Universidade Federal do Ceará (UFC). O lixo jogado indevidamente nas calçadas e nas vias é carregado pelas chuvas para as bocas de lobo. De lá, acabam entupindo as galerias.

"Outro motivo é não ter um sistema de macrodrenagem eficiente para escoar aquela vazão quando chove. Existem medidas simples que a Prefeitura de Fortaleza poderia adotar e que minimizam bastante o problema", frisa. Ele diz que, ao invés de fazer a tradicional boca de lobo - "que é simplesmente um buraco no qual a água é engolida e passa para o sistema de drenagem" - o indicado é colocar grades que impeçam a passagem de resíduos considerados de grande porte, como latas, garrafas, pedaços de plástico e de madeira.

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Ele destaca que a simples medida pode impedir ainda que esse lixo chegue ao mar e seja engolido por golfinhos, por exemplo. "São medidas que exigem manutenção. Depois da chuva, é preciso limpar essas grades. É preciso também que a população ajude e não jogue lixo nas ruas", afirma.

Período de retorno

Para além das justificativas mais comuns, o especialista em drenagem fala da capacidade da obra de engenharia. Isso é medido por uma grandeza chamada período de retorno. Ele explica que uma obra de macrodrenagem é projetada com o limite para aportar chuvas pelo período de 20 a 50 anos. Já para as obras de microdrenagem, esse período reduz de um a cinco anos.

"O sistema entra em colapso se a chuva for maior ao limite para o qual é projetado, mas não é um erro do sistema. Por mais que a manutenção funcione, haverá chuvas que o sistema de drenagem não tem condições de escoar. Isso é normal", explica. Ainda assim, ele lembra que o poder público precisa olhar mais para a manutenção dos espaços. "Considero a manutenção do serviço público no sistema de drenagem muito falha. O problema é que você só nota quando chove. Como na maioria das vezes não chove, a manutenção é inexistente".

O que diz a Prefeitura

Coordenador do Comitê de Ações para a Quadra Chuvosa, Renato Lima reconhece o fato de Fortaleza não ser uma cidade preparada para as chuvas e que muitas áreas ainda carecem de rede de drenagem. "Temos um grande problema na cidade que é a colocação do lixo fora dos dias e horários da coleta residencial. É nosso grande gargalo", diz.

Além dos problemas causados pelo lixo colocado em local e horários impróprios, há também os transtornos que resultam do acúmulo de restos de obras e podas de árvores nas ruas e canteiros centrais, que, eventualmente, colaboram com a obstrução da rede de drenagem.

A Prefeitura de Fortaleza deve lançar, até o fim deste semestre, um projeto de ação de drenagem e pavimentação em mais de 60 comunidades para minimizar os efeitos da chuva. Ação será encabeçada pela Secretaria Municipal da Infraestrutura (Seinf).

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