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Moradores da Praça do Ferreira temem despejo; Prefeitura diz que faz "abordagem social"

Os relatos entre os que moramsão de que guardas municipais farão "uma limpeza" para a realização do Natal de Luz. Segundo a Prefeitura, os moradores terão a opção de sair ou não do local
12:09 | Nov. 21, 2018
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[FOTO1]Ao lado de uma grande estrutura de árvore de Natal no centro da Praça do Ferreira e das preparações para o Natal de Luz, pessoas que fazem aquele espaço de casa se acomodam em colchões. O clima entre eles não é festivo com a chegada do bom velhinho. Os moradores de rua da região têm medo que guardas municipais apareçam de madrugada jogando fora pertences e expulsando pessoas, como, segundo eles, já aconteceu em anos anteriores.

[SAIBAMAIS]“Falaram que ia vir a Prefeitura com os caminhões para tirar a gente daqui, a abertura (do Natal de Luz) vai ser agora (nesta sexta-feira, 23). Eles não querem mais ninguém aqui não porque vão reformar a praça. Eles vão tirar a gente daqui e a gente tem que se virar”, relata Samuel da Silva de Sousa, que mora na Praça do Ferreira há dois anos e vende água e jujubas para conseguir o sustento. O auxiliar de armador Eduardo da Silva, 32, também se preocupa. Ele mora na pousada social da Prefeitura e vive na Praça apenas nos finais de semana, quando o estabelecimento fica fechado. “Vão tirar todo mundo daqui. Fazer uma limpeza aqui na praça, levar tudo”, garante. 

Conforme Samuel, em anos anteriores eram retirados apenas os colchões e caixas, sendo os pertences posteriormente devolvidos. Ele acredita que, neste ano, a atuação deve mudar e diz que os guardas municipais agem com violência na área. “Quando eles vêm para despejar eles só vêm altas horas. Nem se eu tiver com uma criança perdoam. É sair fora”, se revolta. Uma moradora que não quis se identificar disse que ano passado houve despejo. “Obrigaram: ou vai (embora) ou vai para cadeia e apanha. Quem não quiser sair leva pau”, conta. “A gente mora na Praça do Ferreira e não tem para onde ir, a gente quer uma casa”, reivindica. 

[FOTO2]A secretária-executiva da Secretaria dos Direitos Humanos e Desenvolvimento Social da Prefeitura (SDHDS), Patrícia Studart, garante que ninguém será retirado da Praça do Ferreira caso não queira. “Não existe essa metodologia de tirar ninguém da Praça do Ferreira. A gente segue a Constituição Federal do direito de ir e vir”, frisa. Ela destaca que a Prefeitura realiza, durante o ano inteiro já há oito anos, abordagens sociais, oferecendo aos moradores de rua serviços como aluguel social e vagas na pousada social ou em centros de convivência.

Conforme Patrícia, essas ações são mais frequentes na época de fim de ano, já que aumenta o número de moradores de rua e, principalmente, de crianças em situação de trabalho infantil. Ela afirma que, na última pesquisa realizada pela SDHDS, no ano passado, havia 247 moradores na Praça do Ferreira. Desses, 170 já foram contemplados por aluguel social e 30 famílias conseguiram moradia por meio do Minha Casa Minha Vida. 

A assessoria da Regional do Centro citou que, desde agosto deste ano, a Prefeitura está com um plano de ações para a requalificação do Centro, o que inclui questões de habitação, segurança, comércio informal, turismo e cultura e, também, pessoas em situação de rua. O setor informou que está sendo intensificada a oferta de pousadas, abrigos solidários e aluguel social. E isso ocorrerá não apenas na Praça do Ferreira, mas em outros locais do Centro que normalmente são utilizados por moradores de rua. A segunda reunião do Fórum que discute essas ações foi realizada na última terça-feira, 20. 

[FOTO3]O presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas de Fortaleza (CDL), responsável pela organização do Natal de Luz, Francisco de Assis Cavalcante, elucida que não é função da CDL “tirar de lá as pessoas que estão em situação de rua”. “O Natal de Luz, com as pessoas em situação de rua ou não, sempre foi feito. Eles sempre estiveram lá”, pontua. A programação na praça começa às 17 horas desta sexta-feira, 23.

Em entrevista à Rádio O POVO/ CBN, a defensora pública do Núcleo de Direitos Humanos e Ações Coletivas Aline Marinho disse que o órgão irá agir da mesma forma que agiu nos anos anteriores, acompanhando as ações de desocupação na Praça do Ferreira “para que não haja nenhum tipo de violência”. “A Prefeitura tem que disponibilizar moradia para todos aqueles que estão lá”, lembra. 

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