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O que esperam os cearenses que sonham em morar em outros países

Pesquisa Datafolha diz que 62% dos jovens brasileiros pretendem ir embora do Brasil. O POVO Online conversou com três cearenses para entender seus sonhos e motivações
15:30 | Set. 10, 2018
Autor Wanderson Trindade
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Wanderson Trindade Repórter
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Tipo Notícia
[FOTO1]Imagine um cenário em que as palavras “violência”, “falta de oportunidades” e “desemprego” não estejam presentes cotidianamente no noticiário, nas rodas de conversa e no feed das redes sociais. Agora some isso à vontade de descobrir o mundo, a vida, ao passo em que é decidido o próprio futuro, quando ainda se tem pouca idade e experiência. Toda esta “loucura” está viva e fervilhando na mente de muitos jovens brasileiros que têm atravessado uma das maiores crises econômicas, políticas e de segurança da história do País.
  
Pesquisa Datafolha, publicada em junho último, mostra que 62% dos jovens entre 16 e 24 anos têm vontade de pegar seu passaporte para sair do Brasil rumo a uma nação estrangeira, onde supostamente serão apresentados melhores cenários – ou menores dificuldades, pelo menos.
  
O quadro não traz detalhes quanto aos motivos de cruzar as fronteiras, mas para a estudante de Moda Thamires Brito, de 22 anos, as oportunidades encontradas lá fora são as principais responsáveis por seu sonho de deixar do País. A família de seu namorado tem intenção de levá-lo para morar em Portugal, que é o segundo principal destino dos brasileiros (8%), atrás apenas dos Estados Unidos (14%). Em terras lusitanas o plano com o companheiro é certo: o casamento.
  
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“Mas nós (brasileiros) estamos vivendo um caos. Tem a questão da insegurança, da falta de oportunidades e de emprego, que nos pegam”, constata a jovem, que está desempregada há pouco mais de um mês. Tendo como “calcanhar de Aquiles” as dificuldades econômicas, Thamires tem preparado outras frentes para “não chegar de paraquedas” a terras lusitanas. “A língua facilita muito, mas a cultura se distancia, às vezes, da nossa. (Por isso) Sempre procuro saber de tudo sobre Portugal”, afirma.
[SAIBAMAIS]
Divagando pelo universo da ideias, ela se considera um camaleão, que se adapta facilmente às diversas condições apresentadas. “Não tenho medo de enfrentar, descobrir outros lugares. Único receio que posso ter é por ser muito risonha e as pessoas me entenderam mal”, disse, deixando um sorriso lhe escapar pelo canto da boca.

Ásia 
  
Ter no rosto a alegria estampada, também chama atenção em Fernanda Nobre desde o primeiro olhar. Com 16 anos, Nanda, como gosta de ser chamada, pretende ir para a Ásia. “Sempre quis sair do País e nunca soube ao certo para onde. Mas, recentemente, nasceu uma paixão pela Ásia. Japão ou Coreia do Sul, talvez...”, conta a jovem.
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Se para o amor não existe explicações, para a paixão talvez haja. E boom do K-pop aumentou em Nanda a curiosidade pela cultura oriental. “Mas, além da música, lá existe também uma cultura mais tradicional. Gosto do respeito com que tratam as pessoas”, costura suas preferências.
  
Cursando o segundo ano do ensino médio, ela mora com os pais e, em meio às notas de seu violão, carrega na mente objetivos firmes para alcançar seus sonhos. “Estudo coreano como segunda língua. Financeiramente estou me organizando, pois os custos para viajar, por exemplo, são muito altos. E claro, tenho de terminar o ensino médio, primeiro”, diz, tecendo o próprio futuro.

 
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Desilusão 
 
Tão objetivo quanto Nanda, Myke Guilherme sente certa “desilusão” com o Brasil, motivando-se a encontrar novas aventuras. “É uma sensação que me impulsiona a querer desbravar outros países”, considera o estudante de jornalismo, de 24 anos.
  
Ele conta já ter conhecido 17 estados, apenas com uma mochila nas costas, pedindo carona. “Depois que você começa a sair pelo mundo e vê o quanto ele é enorme, uma cidade como Fortaleza parece pequena demais para nela querer ficar o resto da vida”, diz o rapaz, nascido na Capital, mas que viveu dos 3 anos aos 18 anos em Tejuçuoca.
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Do município de apenas 18.902 habitantes, ele se mudou para Fortaleza para estudar. Agora, pretende ir para Amsterdam, nos Países Baixos. “Sempre foi um lugar que me atraiu. E pesquisando sobre a cidade, percebi que posso ter uma qualidade de vida muito boa por lá”, arquiteta.
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Myke tem planos de conseguir trabalhos que lhe permitam ter a dinâmica de continuar a estudar jornalismo, ao tempo em que aperfeiçoa seu inglês e, principalmente, reúne quantias monetárias que o levem à Europa. De acordo com ele, tais projetos devem ter alguma pressa. “Tenho um certo medo de que, se eu não for embora enquanto ainda sou jovem, talvez eu perca a coragem de ir. Não posso eu ficar protelando”, calcula.
  
Com a comunicação pulsando em seu peito, Myke se posiciona de forma dupla, não descartando a possibilidade de permanecer no Brasil, mas sempre com o retrato da estrada em mente. “Se nada der certo, tenho também um plano B. Pretendo criar um blog especializado em viagens a baixo custo”, discorre por seus pensamentos, assim como muitos jovens brasileiros, que idealizam oportunidades de serem adotados por uma nação estrangeira.
 
%2b Escute também Conversa de Estagiário #02 - Os jovens que querem morar fora pelo Spotify e Spreaker.

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