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Associação denuncia que PM baleado no Genibaú foi constrangido por delegado em interrogatório

Conforme a Associação dos Profissionais da Segurança, a vítima foi constrangida por delegado durante interrogatório
18:37 | Ago. 25, 2018
Autor Jéssika Sisnando
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Jéssika Sisnando Repórter
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Tipo Notícia

Atualizada às 20h40min

 

O coordenador jurídico da Associação dos Profissionais da Segurança (APS), advogado Victor Torres, denunciou que policial militar baleado na madrugada deste sábado, 25, foi constrangido em interrogatório. A conduta de um dos delegados da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) é criticada pela associação. O delegado é da 11ª Delegacia da DHPP, a qual investiga crimes praticados contra agentes de segurança. 

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[SAIBAMAIS] O PM foi baleado nas proximidades da ponte do Genibaú, em Fortaleza. Já o interrogatório aconteceu no Instituto Doutor José Frota (IJF), no Centro, onde ele está internado.

 

Ocorrência 

De acordo com Victor Torres, o policial estava a caminho do bairro Genibaú, em uma motocicleta, quando viu dois homens também de moto, em atitude suspeita. O PM então tentou pegar a arma mas sentiu pancada na cabeça. Depois disso, segundo o advogado, o policial não lembra mais do que houve e acordou em outro lugar, cerca de um quilômetro e meio distante.


Quando voltou à consciência, a vítima relata que escutou os criminosos discutindo se iriam matá-lo ou não. Um dos indivíduos sugeriu que o PM fosse morto e que toda ação fosse filmada. Ainda de acordo com o relato do advogado, em momento de descuido, o policial empurrou um dos criminosos e deu um soco em outro. Em seguida, o profissional da segurança fugiu para um matagal, onde permaneceu escondido.

Durante a fuga do PM, os criminosos atiraram cinco vezes. O policial foi atingido por um tiro na altura da costela esquerda que saiu no tórax. Outro disparo o atingiu no braço. Quando percebeu que estava sangrando muito, a vítima correu para uma garagem de transporte público e pediu socorro.

 

Na ação criminosa, a arma e os documentos (identidade funcional) do policial foram roubados. 

 

Victor afirma que a intenção dos criminosos era roubar a vítima, mas ao descobrir que se tratava de um policial, a conduta criminosa mudou. 

 

Interrogatório 

O coordenador jurídico da APS diz que esteve no IJF e presenciou o interrogatório feito pela equipe da DHPP. Um dos delegados pedia para que a história fosse repetida várias vezes, alegando contradições.

 

O PM teria recebido ordens médicas para não falar, haja vista que os primeiros atendimentos ainda seriam realizados. O advogado então interveio. Além da situação de constrangimento, ele relatou prejuízo à saúde do policial.


O advogado diz ainda ter sido solicitado a se retirar no momento do interrogatório, mas insistiu em acompanhar a vítima. Victor disse que, em interrogatório, a esposa do PM baleado também foi constrangida.

 

"O delegado começou a indagar o motivo de a mulher não ter o telefone de um amigo do marido. Ela estava constrangida e passando por pressão. A delegacia que era para investigar o crime contra os agentes de segurança estava tratando ele como o culpado. E, mesmo que ele fosse um culpado, merecia tratamento adequado", completou Victor.

O advogado disse que a equipe da DHPP foi enviada pelo secretário da Segurança, André Costa, para elucidar o caso. E que o próprio advogado entrou em contato com o Comando Geral da Polícia Militar relatando a situação. A APS deve oficiar a SSPDS com orientação sobre tratamento adequado aos agentes lesionados ou que estejam sobre cuidados médicos.

 

No momento dos levantamentos no hospital, o advogado relata que não estava presente nenhuma autoridade policial da cúpula da SSPDS ou do Comando do Batalhão para dar suporte à vítima. Apenas a esposa, a mãe, uma policial e dois agentes da Coordenadoria de Inteligência da PM.


Divergência
O comandante-geral da Polícia Militar divulgou áudio explicando que o policial não esteve de serviço naquela madrugada e nem estava fardado. Na situação, Victor diz que houve conflito de informações, pois o policial sustentava para a esposa que iria trabalhar. Ele é lotado no Batalhão de Policiamento Turístico (BPTur).

 

No áudio do comandante, entanto, a versão dada para a esposa foi desmentida. Ou seja, o PM não estava de serviço na madrugada deste sábado.  

O POVO Online não divulga a identificação do policial sobrevivente por questões de segurança da vítima. O policial enviou áudio agradecendo o apoio dos amigos policiais:

 

"Infelizmente, fui acometido de entrar nos índices de violência de Fortaleza, onde indivíduos me abordaram, levaram minha moto, a arma e minha carteira. No momento que eles iam provavelmente me executar, Deus me deu o livramento e consegui me evadir. Foram feitos cinco disparos na minha direção. Dois deles acertaram meu braço e dois deles o meu peito (...). Qualquer bizu fora dessa realidade é mentiroso. Estamos aqui vivos para contar a história. Estamos unidos, estamos juntos, força a todos".  

 

DHPP  

Uma fonte ligada à SSPDS repassou nota informal da DHPP informando que estava no IJF e que o policial havia se negado a fornecer detalhes da ocorrência. Ainda confirmaram que o nome do policial não constava nas escalas do BPTur e que houve desinteresse do agente de segurança em ajudar na investigação, além de que a "perda de tempo" atrapalha o início e não possibilita um norte para as investigações.  

 

O POVO Online solicitou nota à Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) sobre a reclamação da APS e o órgão respondeu que o policial estava consciente e orientado no momento da ação. 

 

A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) informa que uma equipe da 11° Delegacia do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), unidade responsável por investigar crimes contra agentes de segurança, investiga a ocorrência de lesão à bala contra um policial militar do Batalhão de Policiamento Turístico (BPTur), ocorrida na madrugada deste sábado (25). Visando identificar e prender os responsáveis pelo crime, a equipe da DHPP se dirigiu a unidade hospitalar, onde o policial lesionado se encontrava consciente e orientado, visando obter informações necessárias para a investigação no tempo mais rápido possível, sem prejuízo para o estado de saúde dele. Os policiais civis adotaram os procedimentos regulares nesse tipo de caso e que já foram empregados em outros semelhantes a esse, levando a um índice de resolutividade de 92% em ocorrências contra servidores do Sistema de Segurança.

 

Ainda tentamos contato com a Associação dos Delegados de Polícia (Adepol), mas as ligações não foram atendidas.  

 

 

 

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