Unidade do Caps do bairro Mondubim está desativada há quase dois anos
Psicóloga aponta falta de estrutura como principal entrave no tratamento psicossocial em Fortaleza[FOTO1]
“Estamos fechados. Desativado”. Aviso em folha de papel informa suspensão do atendimento no Centro de Atenção Psicossocial - Álcool e Drogas (Caps AD), da Regional V, no Mondubim. Entretanto, mesmo há quase dois anos fechada, pacientes ainda são encaminhados à unidade, segundo moradores da região. A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) afirma que os serviços foram realocados em nova sede. O atendimento perto das residências dos pacientes é a principal pauta da luta antimanicomial em Fortaleza.
“Se está desativado, não deveria mandar ninguém para cá”, afirma o comerciante Josenildo Soares, que mora em frente ao local, ao relatar que pacientes ainda são encaminhados ao Centro. A mesma versão tem o comerciante Marcelo Cassies. “Tem gente que chega aqui e não tem dinheiro para ir ao outro local indicado”. Segundo eles, o vigilante direciona as pessoas à Regional V. Perguntado sobre o que fazia com os encaminhados à unidade, o segurança do local sustentou que encaminha para a Regional V. “Uma senhora passou aqui agora, agora”, relata.
Em nota, a SMS afirma não proceder a informação de que pacientes estejam sendo encaminhados para o endereço anterior. De acordo com a SMS, todos os usuários que antes eram atendidos no Caps AD da Regional V (Mondubim) agora são atendidos na nova sede situada no bairro Granja Portugal, que fica localizado na rua Antonio Neri.
Atendimento territorial
Prefeito José Walter é um dos 20 bairros atendidos pela nova sede. Além dele, outros 19 recebem atendimento: Granja Portugal, Bom Jardim, Canindezinho, Genibaú, Conjunto Ceará, Parque São José, Parque Santa Rosa, Conjunto Esperança, Vila Manuel Sátiro, Maraponga, Mondubim, Novo Mondubim, Siqueira, Aracapé, Planalto Airton Sena, Jardim Jatobá e Parque Jerusalém.
Nesta sexta-feira, 18 de maio, no dia Nacional da Luta Antimanicomial, um dos principais entraves encontrados na Capital é o não atendimento territorial dos pacientes. Mayrá Lobato, psicóloga e integrante do Fórum Cearense de Luta Antimanicomial, classifica a situação dos Caps em Fortaleza como “precária”. De acordo com ela, não tem número de unidades adequadas para a população, como é previsto na legislação. Mayrá afirma que o principal problema é a falta de estrutura. “Por conta disso, tem um número pequeno (de Caps) para a população, por isso eles ficam longe do território de moradia”.
Segundo a psicóloga, o trabalho no lugar de morada do paciente é a principal questão durante o tratamento, que precisa ser feito envolvendo a comunidade. “Os profissionais precisam conhecer a situação dos territórios”, pontua. Atividades realizadas em conjunto como, por exemplo, com os postos de saúde, visitas residenciais, articulação de trabalho e renda, incentivo a participação em atividades desenvolvidas no território são ações que, segundo Mayrá, ajudam na recuperação e evitam agravamento na situação do paciente.
“Para um enfoque no tratamento, não internamento, mas o trabalho territorial, tem de fazer organização da demanda na saúde mental. Trabalhar para que os casos dos pacientes não se agravem”, afirma Mayrá Lobato. A psicóloga aponta como solução a criação de Centros de Assistência Psicossocial em funcionamento 24 horas por dia, para atender pacientes em crise.
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O prédio
Entulhos e muito mato. Essa é a situação dentro e fora do prédio de dois andares onde funcionava o Caps AD do Mondubim. Do muro para dentro, a área externa da casa é tomada pelo mato alto; internamente, o duplex está sem equipamentos ou mobília. O espaço ofertava atendimento psicossocial e contra o uso abusivo de álcool e outras drogas. A limpeza, segundo moradores, é feita pelos vigilantes do prédio.
Morando próximo ao duplex inutilizado, Josenildo recebeu tratamento contra o alcoolismo na unidade. Sem entender o porquê do fechamento do local, a única informação dada foi a de que os serviços seriam ofertados na unidade do bairro Granja Portugal. De acordo com ele, todos os dias cerca de 50 a 60 pacientes com atendimento marcado transitavam na unidade.
Amplo e arejado, o local onde o atendimento era ofertado possui grande área externa e dois andares. No primeiro andar, um salão de recepção e um refeitório, além de dois quartos com banheiros, usados como ambulatórios. Na parte superior, três quartos com banheiros também eram usados para receber os pacientes.
Na nota, a SMS cita o motivo pelo qual a unidade foi transferida. De acordo com a Secretaria, o novo lugar é “mais amplo e arejado”. Inaugurada em outubro de 2016, a SMS afirma que a nova sede segue os “parâmetros e requisitos preconizados pelo Ministério da Saúde”.