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Testemunha relata que Stefhani era vítima de estupro em relação abusiva com ex-companheiro

Em entrevista ao O POVO Online, a blogueira feminista e pedagoga argentina radicada no Ceará, Lola Aronovich, explica que não é incomum haver estupros em relacionamentos abusivos
19:00 | Jan. 04, 2018
Autor Jéssika Sisnando
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Jéssika Sisnando Repórter
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Tipo Notícia

[FOTO1]Stefhani Brito, de 22 anos, era vítima de estupro em relação abusiva quando mantinha relacionamento. A informação é de uma fonte que prestou depoimento à Delegacia de Defesa da Mulher, na última quinta-feira, 4, e que acompanhava o dia a dia do casal. A jovem foi morta no dia 1º de janeiro e o principal suspeito é o homem com quem ela vivia.

 

Conforme a fonte, Stefhani era estuprada e contou à testemunha que, antes de terminar o relacionamento, não mantinha mais relações sexuais com consentimento dela com o autor do crime. Em várias situações foi espancada, amarrada e estuprada.

A testemunha relata ainda que ela não usava biquíni, pois as marcas eram visíveis. "Havia marcas de garfo nas pernas dela. Ficavam os três dentes do garfo", disse.

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Análise

A blogueira feminista e pedagoga argentina radicada no Ceará, Lola Aronovich, explica que não é incomum haver estupros em relacionamentos abusivos, pois é uma situação que parte do princípio que o homem se sente dono da mulher ou da ex-mulher, e na cabeça dele, pode fazer o que quiser com ela e com o corpo dela.

 

"É difícil sair de um relacionamento abusivo, mesmo quando se tem o apoio da família, como foi o caso de Stefhani. Ela seguramente foi ameaçada durante a maior parte do tempo em que estiveram juntos. Li numa das matérias que ela dizia que "precisava salvar a família", então ele provavelmente dizia que, se ela o deixasse, iria atrás de parentes dela. E certamente prometeu matá-la se ela o deixasse", explica.
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Para Lola, o fato dele estar em outro relacionamento e por terem terminado há seis meses podem ter feito com que Stefhani pensasse que não corria mais risco. "Infelizmente, também não é incomum que alguns homens em novos relacionamentos persigam, ameacem e até matem as ex-companheiras. Só ele estar com uma nova mulher não faz com ele deixe de se ver como dono da ex-mulher. Muitos continuam tendo ciúmes da ex e monitoram seus novos relacionamentos", relata a especialista.
[SAIBAMAIS]
A professora diz que vê essa situação com frequência nos casos de pornografia da vingança, com casos de homens que espalham fotos e vídeos íntimos de ex-mulheres. Esses homens fazem isso quando estão com outra mulher e quando, segundo Lola, o relacionamento devia ser "coisa do passado".

 

A especialista ainda ressalta que nos relacionamentos abusivos, a vítima, muitas vezes, sofre em silêncio, mas que em outras situações, ela denuncia. "A denúncia é sempre difícil porque a vítima sabe que corre sérios riscos de ser morta. Mas muitas vezes uma mulher consegue deixar um relacionamento abusivo, denuncia, pede medida de segurança porque é constantemente ameaçada", comenta.

Como agir

[FOTO3] Lola diz que aproximadamente 10 mulheres são mortas todos os dias no Brasil, pelo parceiro ou ex. Ela explica que a mulher deve observar como o homem lida com frustrações, se ele costuma ser violento, se é ciumento e possessivo, se tem uma visão machista das mulheres e o que ele fala das ex-parceiras. "Se ele trata as ex como loucas histéricas, é bastante provável que ele seja perigoso, não elas", ressalta a professora.

A blogueira ainda alerta que se notar essas atitudes, que a mulher se afaste ou nem comece o relacionamento. "Quando terminar, sugiro cortar todo tipo de contato, não responder e-mails, WhatsApp, telefonemas, e muito menos aceitar se encontrar com ele, nem que seja em lugar público, claro que isso tudo é difícil de fazer se há filhos", explica.

Em caso de ameaças escritas ou gravadas, Lola orienta que guarda as mensagens e informe à Polícia, família e amigos. "O agressor, ao ver que está sendo ignorado pela vítima, pode tentar contato através da família e amigos dela, então todos precisam saber o que está acontecendo. Até no local de trabalho ou estudo pode ser bom a vítima informar os colegas que está sendo perseguida", ressalta.

O papel da família

A professora ressalta que a família, ao perceber um relacionamento abusivo, deve conversar, apoiar a vítima e tentar alertá-la sobre os riscos. "Imagino que, no caso de Stefhani, ela teve este apoio, porque se mudou para o interior e conseguiu terminar o relacionamento. Mas, quando um psicopata está decidido a matar, é difícil impedi-lo", finaliza Lola.

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