Participamos do

Crise na segurança pública: é preciso admitir a realidade para retomar o controle

09:45 | Jan. 30, 2018
Autor Ítalo Coriolano
Foto do autor
Ítalo Coriolano Editor-chefe
Ver perfil do autor
Tipo Notícia

[FOTO1]

O discurso das autoridades estaduais é no sentido de afirmar que está tudo "sob controle",  que "não há motivo para pânico",  que chacina é algo "pontual". Claro que o objetivo do Executivo com esse tipo de fala é tentar transmitir tranquilidade à população, algo correto, mas por meios um tanto equivocados,  visto que a realidade vem mostrar exatamente o contrário:  há uma visível dificuldade em se manter o controle do sistema de segurança pública do Ceará.

O diagnóstico não vem só das sequentes matanças coletivas que já fizeram 31 vítimas apenas em janeiro deste ano, mas é também resultado dos números alarmantes de 2017 - mais de 5 mil homicídios,  um recorde histórico. Algo está muito fora da normalidade. Diante das últimas tragédias, a pergunta que todos nós nos fazemos agora é:  o que será que vem por aí? O que fazer para o futuro não se mostrar tão assustador quanto o presente, levando-se em consideração a crueldade e o poder das facções envolvidas, o sentimento de vingança que as movem, e a certa fragilidade do nosso aparato institucional?
[QUOTE1]
Afinal, existe o risco de o conflito se aprofundar caso o governo não tome medidas emergenciais. E o primeiro passo para tentar contornar a situação é admitir que a crise existe e é profunda. Resultado de um contexto nacional caótico? Sem dúvidas. Mas também de decisões equivocadas tomadas localmente, de ações com efeitos nulos. É inadmissível que a inteligência da nossa polícia não tenha tido condições de se antecipar ao planejado massacre das Cajazeiras, que pessoas armadas executem rivais dentro de uma cadeia, que bandidos definam quem fica e quem sai de um presídio, que famílias continuem sendo expulsas de suas residências pelo tráfico, que sequentes fugas de presos aconteçam, que fóruns sejam invadidos e depredados. Admitir erros nunca será sinônimo de fraqueza, mas prova de maturidade e predisposição para consertá-los, numa estratégia que precisa mobilizar toda a sociedade.

É triste admitir que, hoje, poucos se sentem seguros no Ceará,  seja dentro de um ônibus, seja andando nas ruas, seja numa ambiente de festas,  seja em casa. Se os estados paralelos se organizaram numa velocidade e com uma força que nossos governantes não conseguem mais enfrentar à altura,  é sinal que muita coisa precisa mudar. A filosofia do "justiça ou cemitério" se mostra falida. O Estado que ameaça precisa se transformar no Estado que age com eficácia. E também não dá para ficar rejeitando ajuda, seja ela de quem for. Interesses políticos jamais podem se sobrepor a vidas.

Dúvidas, Críticas e Sugestões? Fale com a gente