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Moradores de rua ceiam com voluntários na Praça do Ferreira

Coordenado por membros da Igreja Batista Central (IBC), o projeto Ceia Natal proporcionou um momento de comunhão às pessoas que vivem nas ruas de Fortaleza
21:38 | Dez. 24, 2017
Autor O POVO
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[FOTO1]A tradição de se reunir com a família para a ceia de natalina, há 25 anos, não faz parte dos dezembros de Rogério Pinto Nascimento, 42. Em situação de rua desde 2015, o homem de riso frouxo lembra com saudade das vésperas de Natal que passou com familiares, tempos atrás, no bairro Tancredo Neves. Porém, na noite deste sábado, 24, Rogério voltou a experimentar um momento de comunhão.

Ao lado de amigos que têm a rua como moradia, ele ceou com cerca de 500 voluntários que participaram da 4ª edição do projeto Ceia Natal, no Centro, promovido pela Igreja Batista Central (IBC). “É uma atitude muito linda. Muita gente que está aqui hoje abriu mão de estar com as suas famílias para cear com a gente. Eles dizem que é uma forma de demonstrar amor por nós e também a Deus. E eu acredito”, agradece Rogério.
 
A refeição foi servida em uma mesa farta, ladeada pela Coluna da Hora, em plena Praça do Ferreira. Contudo, não somente o jantar foi ofertado. Além de atividades recreativas para as crianças, e da apresentação de musicais, foram oferecidas oportunidades de recomeço. Em conversas com os voluntários, que também sentaram à mesa e cearam junto com os moradores, vagas em abrigos e clínicas de recuperação para dependentes químicos foram disponibilizadas àqueles que desejassem.
 
“A gente não divulga que vai oferecer essas vagas. Enquanto conversamos, identificamos quem demonstra interesse e encaminhamos. Nosso objetivo não é tirar ninguém daqui por impulso. E sentar à mesa, para além dessa conversa, é uma forma de não apenas presentear com a refeição, mas de estar presente. Viemos passar o Natal com eles, não apenas servir”, conta o coordenador da ceia, Fellipe Sousa, 24, estudante de psicologia.

Segundo ele, nos últimos três anos, cerca de 30 pessoas foram retiradas das ruas. Era a oportunidade que o técnico de som Flávio da Silva buscava. Há cinco anos na rua, saído da Barra do Ceará, ele diz que ainda trabalha, mas não tem dinheiro suficiente para manter uma moradia. “Passei alguns anos presos, por conta de algumas besteiras que fiz, mas não me envolvo mais. Hoje eu trabalho e pretendo sair dessa situação em janeiro. Por enquanto, minha família é essa aqui”, disse, apontando para outros moradores de rua.


Não foram somente os fiéis da IBC que participaram como voluntários da ceia. Muitas pessoas de fora da igreja, e inclusive de outras religiões, souberam do evento, se prontificaram e foram acolhidos para servir. É o caso da estudante de engenharia Bruna Guilherme, 24, que se define como “cristã” ou “católica pouco praticante”. Ao lado da mãe e do namorado, ela soube da iniciativa por meio de uma amiga e resolveu participar.

“É um gesto incrível! Sentar com eles à mesa torna tudo mais humano. Fazemos, mas não para nos tornarmos bons samaritanos. Na verdade, nós é que crescemos com isso. Conhecemos as histórias deles, ajudamos. É impressionante como eles se sentem acolhidos”, resume.

Preparação

O projeto Ceia Natal, de 2017, vem sendo planejado há cerca de cinco meses, quando foi solicitada a permissão da Prefeitura de Fortaleza para a utilização do espaço, e o apoio da Polícia Militar foi pedido. Já a preparação dos alimentos começou ainda pela manhã, quando os voluntários, divididos em grupos, se revezaram na cozinha da sede da IBC, no bairro Ancuri.

No total, foi preparada quase meia tonelada de alimentos arrecadados em campanha na igreja e através das redes sociais. A comida foi posta à mesa por volta das 20 horas. A ceia se estendeu até às 22h30min, supervisionada por policiais e guardas municipais.

Saiba mais

“Bem por alguém”

Nos meses de dezembro, fiéis da IBC são estimulados pela liderança da igreja a realizar algum ato de solidariedade e amor ao próximo, seja individualmente ou em grupo. Assim surgiu o Ceia Natal, além de outras ações que beneficiam várias pessoas que necessitam de atenção, estejam elas em abrigos, comunidades terapêuticas, presídios ou centros socioeducativos.

Para concentrar as ações, divulgá-las e mobilizar o maior número de pessoas para participar das iniciativas, um hot site foi criado pelo grupo: http://atosdecompaixao.com/.
 

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