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De Michael Jackson à cena punk: conheça a trajetória de Jonnata Doll

Líder dos Garotos Solventes tem trajetória marcada por experiência com drogas, descobertas na música e família evangélica. O POVO Online inicia a série Safra 2017 - Música CE com entrevista do cantor Jonnata Doll
10:00 | Jan. 13, 2017
Autor Lucas Mota
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Lucas Mota Repórter na editoria de Esportes
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Tipo Notícia

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O ano de 2017 chega de forma promissora para os protopunks Jonnata Doll e Os Garotos Solventes. Criado em 2010, o grupo deve circular pelo Brasil apresentando o novo álbum e segundo disco dos cearenses, "Crocodilo", lançado em novembro passado. O primeiro compromisso da série de shows de lançamento do atual trabalho foi em Fortaleza, cidade-natal da banda, na última sexta-feira, 6.


Jonnata dos Santos Araújo, conhecido como Jonnata Doll, subiu ao palco do anfiteatro do Dragão do Mar e comandou os Solventes na apresentação ao público das 12 faixas do vibrante disco "Crocodilo". Antes de se entregar em mais um show performático, ele conversou com O POVO Online em entrevista para a série Safra 2017 - Música CE - que traz histórias de bandas e artistas cearenses que estão lançando discos no mês de janeiro -, e demonstrou certa ansiedade para saber como os fãs reagiriam ao novo álbum.

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"Vamos ver hoje", disse em voz mansa e sorriso no rosto delineado por um bigode a lá Freddie Mercury.


Horas depois, assumindo os vocais dos Solventes, entregou uma apresentação forte e marcante. O público não se segurou nas cadeiras do anfiteatro e pulou e cantou junto do palco. Para fechar o show, Jonnata tocou aquela que é considerada o hino da banda, "Cheira Cola", transformando o local em um caldeirão punk, se despedindo do palco com direito a nudes.


No bate papo pré-show, Jonnata relembrou a infância, o início na música, as inspirações, a relação de experiência com as drogas, o encontro com o Legião Urbana, a nova fase dos Solventes, entre outras curiosidades da trajetória.


Infância e inspirações
Cria de família evangélica, Jonnata dos Santos Araújo cresceu num ambiente dominado por mulheres, na casa dos avós maternos, onde viviam a mãe dele, Miriam, mais três tias, a avó e o avô. A rotina no bairro Álvaro Weyne, à época, era preenchida em três espaços: casa, igreja e escola.
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Na escola, a hora do recreio era o momento de liberdade na vida do garoto. Na vida colegial, Jonnata buscava chamar a atenção com ações escatológicas diante dos colegas, "esquisitice", como ele mesmo define, que teve espaço ao descobrir o rock.


E o despertar para a música veio com o interesse pela cultura pop, a partir de filmes como Superman e Star Wars. "Ao mesmo tempo que eu tinha uma família afetuosa, havia uma situação sufocante. Eu deslumbrava o mundo que queria participar na TV, nas mídias da cultura pop, e não poderia estar lá por causa da família", comenta. "Superman explodiu minha cabeça. O Superman era como se fosse Jesus, mas mais legal, sem a parte do inferno. E mais cool", completa.

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A trilha sonora desses filmes era a parte que mais fisgava a atenção do menino Jonnata. Na escola ganhou o apelido de "Jonnata Tantantan" porque cantarolava as músicas tema de clássicos do cinema, como a marcha imperial de Star Wars. "O que me viciava era a trilha sonora. Cantarolava direto nas aulas, e a galera ficava puta. Depois comecei a gostar muito de videogame".


O interesse pelos games marcou a primeira inspiração musical do vocalista dos Solventes. Frequentador da locadora do "Senhor Walber", figura do Álvaro Weyne que mais tarde virou canção da banda punk, Jonnata se encantou com o jogo "Moonwalker" da plataforma Megadrive. "Eu acho que o cartucho havia acabado de chegar. Comecei a jogar o jogo e pirei no Michael Jackson. Passei a imitar o Michael Jackson e a dançar, meio tosco, mas dançava. E isso que me trouxe para a música. Dançava na sala de aula. A primeira menina que me apaixonei pedia para eu dançar".

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Até os 13 anos, Michael Jackson foi a principal referência de Doll. Na fase adolescente, ele descobriu o rock e decidiu que era por esse caminho que seguiria. Três bandas o inspiraram: Pink Floyd, Queen e Legião Urbana, na qual participou da turnê de 30 anos do grupo brasiliense. Do âmbito familiar, Jonnata também tirou inspirações da mãe, da tia Zu e do tio Sam, que escutavam rock em casa.

[QUOTE2]Depois de descobrir o rock e entrar em contato com ideias Darwinistas, o adolescente resolveu se rebelar e parar de ir à igreja. Juntou-se aos amigos Caetano e Peter, amigos do Álvaro Weyne, trio que mais tarde fundaria a banda Kohbaia (1997 a 2009), e passou a "tocar o terror" na região.


"Antes de ter a banda (Kohbaia), não sabia tocar. Nos vestíamos a caráter e saíamos com o microsystem no ombro ouvindo punk pelo Álvaro Weyne. Rodava o bairro, fazia vandalismo, jogava lixo na casa dos outros e apedrejava ônibus. Saíamos para tocar o terror", relembra.


Drogas
No início da vida de roqueiro, Jonnata tinha aversão às drogas. Antes de ter uma relação próxima com os entorpecentes, o líder dos Solventes tinha orgulho de não se envolver com substâncias ilícitas por causa da família. "No início, não usava drogas porque não me interessava. Meu lance era o som. E também minha família era oito ou 80. Ou era evangélico ou era cachaceiro drogado. Então eu tinha resistência, até certo orgulho de não usar drogas e me declarar roqueiro", explica.


O primeiro passo da trajetória de experimentação de drogas veio com o contato com a cola de sapateiro. "Uma vez experimentei ouvindo rock. Quando vi o efeito na realidade, o som, o ego se dissolvendo. Vi que não bastava fechar os olhos e ouvir o som. Isso não era o suficiente para quebrar a barreira. Comecei a ter relação de experimentar diversas drogas. Lia muito sobre as drogas, gostava de fazer sessões com alguma substância e gravava, tocava sob efeito para ver como era", afirma.


O músico acabou descobrindo na morfina o seu "calcanhar de Aquiles". Ele conta que quase todos da antiga banda, Kohbaia, ficaram dependentes de droga. Doll começou a ver os sonhos na música morrerem por conta das drogas. "Não conseguia botar nada em prática por causa da necessidade de dose diária. Muitas vezes estava trabalhando (fora da música) e toda a grana que ganhava torrava na morfina".


Virada com os Garotos Solventes e Crocodilo
Após o fim da Kohbaia, Jonnata Doll criou os Solventes, em 2010. A banda ganhou um tom de ressurgimento na carreira do vocalista, principalmente, na produção do novo álbum. Apesar de Crocodilo ter sido lançado no fim de 2016, quase todas as faixas do disco foram compostas ainda em 2012, quando a banda estava prestes a gravar o primeiro CD.

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Naquele ano, o cantor se refugiou no sítio do avô Bibiu por cerca de três meses, descobriu um novo amor, se afastou da morfina e ganhou inspiração para escrever as letras de "Crocodilo". "Encontrei uma menina pela qual me apaixonei, a Carmen, uma espanhola, morando no sítio (do avô) no Iguape. Daí veio grande parte das músicas de Crocodilo, para Carmen, do renascimento da morfina que tive uma volta ao corpo não drogado, digamos. Tem também músicas antigas que sempre quis gravar, como Cheira Cola".
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Encontro com Dado Villa-Lobos e o Legião
Uma das figuras determinantes na carreira de Jonnata é o músico Fernando Catatau, do Cidadão Instigado, que o levou pela primeira vez para São Paulo e ascendeu a chama no Garoto Solvente. Foi através dele também que Doll conheceu Dado Villa-Lobos, que o convidou para participar da turnê de 30 anos do Legião Urbana.


"Cresci ouvindo as guitarras do Dado no Legião. Tocar com o Dado foi uma realização muito grande. Como músico, acompanhar a turnê do Legião, vi o que é estar no topo do rock no Brasil. Uma coisa que talvez eu nunca alcance com o meu trabalho, mas pude viver isso com o Legião. Aprendi muito. E ele me fez expandir o público dos Solventes", conta. A participação no Legião rendeu críticas positivas na imprensa especializada e encantou os fãs da clássica banda do rock brasileiro. Um fã clube de São Paulo do Legião chegou a comprar uma geladeira para ajudar os Solventes, que estão morando na Capital paulista.

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O encontro com Dado ocorreu em um almoço "exótico" na casa do amigo Catatau, que rendeu uma situação inusitada. "O Catatau fez um prato exótico das Arábias: frango com manga. O Dado tinha um trauma. Quando pivete, ele comeu muita manga e teve intoxicação. Quando ele viu o Catatau fazendo o prato, por etiqueta, resolveu comer e gostou. Mas depois confessou. E o Catatau aproveitou e confessou que meses antes foi para o aniversário da Fernanda (esposa do Dado), que serviu um prato com camarão. O Catatau achava que tinha alergia ao camarão, mas comeu também e não passou mal".

 
Após o almoço exótico, Jonnata passou a tarde ouvindo música com Dado e apresentou a música "Namorada Fantasma" no violão. O guitarrista do Legião gostou e, desde então, os dois já emplacaram algumas parcerias. No disco Crocodilo, Villa-Lobos coloca seu som em "Swing de Fogo" e "Quem é que precisa?".

 

[SELOMUSICADRAGAO]

 

 

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