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Militante do Levante Popular da Juventude é assassinado no Barroso

Carlos Ridson foi morto a tiros na madrugada desta quinta-feira, 17, na rua Nova Conquista. Ele foi o quarto jovem do Levante Popular morto no Estado, desde 2012
18:22 | Nov. 17, 2016
Autor Amanda Araújo
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Tipo Notícia

O jovem Carlos Ridson Correia Damasceno, 18, militante do movimento Levante Popular da Juventude e da cultura Hip-Hop, foi assassinado a tiros na madrugada desta quinta-feira, 17, no Barroso. A Polícia Civil realiza buscas na área, mas até o momento nenhum suspeito foi preso. Com essa morte, sobe para quatro o número de jovens do Levante Popular no Ceará mortos desde a criação da organização no Estado, em 2012.

A morte foi registrada às 0h40min, na rua Nova Conquista, e as investigações estão a cargo da equipe da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).

"Ele estava ingressando no movimento como forma de uma ressocialização. Nós sabemos que trabalhar na periferia envolve a violência e o extermínio da juventude, mas é onde nós temos o potencial de resgatar vidas", diz o coordenador do movimento, Miguel Braz.

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Carlos havia saído de uma unidade de acolhimento do sistema socioeducativo há cerca de duas semanas e era o mais o velho de uma família de três irmãos. Ao todo, cerca de 200 jovens integram a militância do Levante Popular na capital cearense, atuando nas 25 células localizadas em bairros da periferia da cidade.

Miguel explica que a organização utiliza, além do Hip-Hop, outras ferramentas culturais para resgatar jovens em situação de vulnerabilidade social, como teatro, capoeira e dança popular.

Juventude criminalizada
O Nordeste é a região que teve a maior escalada de violência entre 2004 e 2014, segundo dados do Atlas Violência 2016, estudo desenvolvido pelo Instituto de Pesquisa Econômica aplicada (Ipea) e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FPSP).

O aumento de homicídios no Ceará, nessa série histórica, foi de 166,5%. As chances de jovens pretos e pardos morrerem por homicídio são 147% maiores do que de jovens de outros grupos étnicos, ainda conforme a pesquisa.

O sociólogo e professor da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), Marcos Silva, explica que nesse contexto é necessário levar em conta duas dimensões: criminalização da juventude e negação de direitos na periferia.

"Quem morre mais no Brasil são os jovens pretos, pobres e da periferia, onde as políticas públicas não atendem de maneira efetiva", explica o sociólogo, que também é pesquisador do Laboratório de Estudos da Violência (LEV) da Universidade Federal do Ceará (UFC).

Além da negação de direitos, Marcos cita a violência institucional e física contra a juventude. "O estado produz crimes ao mesmo tempo que o seu efetivo policial é o que mais mata jovens dentro dessa sociedade historicamente conservadora e racista. No caso de Fortaleza, os espaços periféricos são excluídos das políticas, é uma cidade ainda muito segregadora", continua.

Para ele, a juventude ainda é cooptada para o tráfico de drogas, mas persiste com a produção de movimentos sociais que buscam driblar a condição de vulnerabilidade. "Esses jovens conseguem produzir movimentos de hip-hop e grafite, por exemplo, para modificar a vida de muitos outros", frisa.

 

 

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