Detentos do IPPOO II comemoram mutirão que beneficia mais de 200 internos

Esperando atendimento no Instituto Penal Professor Olavo Oliveira II (IPPOO II), em Itaitinga, Região Metropolitana, um detento que participava do projeto Justiça no Cárcere, na manhã desta quarta-feira, 11, aguardava na área administrativa da unidade entoando os versos de uma música.

"Liberdade vai cantar para todos os irmãos. Prenderam o seu corpo e não seus pensamentos, bate a maior neurose vendo os parceiros lá dentro. (...) Paz, Justiça e Liberdade para todos os irmãos ", diz a letra da música que tem o lema do Primeiro Comando da Capital (PCC), facção criminosa fundada em São Paulo, da Paz Justiça e Liberdade.

Há cinco anos preso por um roubo, um interno de 26 anos, que preferiu não ter o nome identificado, cria expectativas para a vida fora do muro de pedra, voltar para o bairro de origem, o Serviluz.  "Há cinco anos estou esperando esse momento de ir embora. Tenho dois filhos para criar e não quero mais essa vida para mim. Participei de um assalto e não tenho advogado, nem ninguém por mim, só a minha mãe que vem me visitar toda quarta", relata.

Com a notícia do mutirão que leva o Judiciário até as unidades prisionais e que acaba com a espera e a incerteza de quem anseia a liberdade, o clima entre os internos é de alegria.

[FOTO2] "O clima lá dentro está animado, na paz. Não está mais tendo derramamento de sangue. Tá todo mundo querendo ir embora. Acalmou muito. Tem que entrar em acordo com os presos para dar melhoras, acredito que houve um acordo para ter paz e ter benefícios para a gente" ressaltou.

Segundo a estatística da Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), de janeiro a abril deste ano foram 14 mortes dentro de unidades prisionais, sendo cinco em janeiro, uma em fevereiro, quatro em março e quatro em abril.

 Outro preso que responde na Justiça por um homicídio que aconteceu em 2001 e diz que a rotina será o cuidado com os filhos e o caminho de casa para o trabalho. "As cadeias estão superlotadas e gera muita violência. É inimigo com inimigo", explica. Indagado se tinha medo, ele diz que "medo tive desde que entrei. Foi a primeira vez que estive preso e nunca pensei passar por tanta coisa", revelou.

Secretário planeja mutirão carcerário em todas as unidades prisionais do CE
 
O atendimento intensivo é uma parceria da Secretaria da Justiça e Cidadania do Estado e Varas de Execuções Penais e tem o apoio da Ordem dos Advogados do Brasil, Defensoria Pública e Ministério Público. A ação acontece no Instituto Penal Professor Olavo Oliveira II (IPPOO II), durante os dias 10 a 13 deste mês os juízes das 2ª e 3ª varas estarão despachando dentro da unidade, com uma equipe de técnicos das respectivas varas, além de um reforço da equipe de advogados da Sejus.

Segundo o Secretário da Justiça, Hélio Leitão, a ação é a garantia de direitos dos internos. "Concluindo os juízes, que essas pessoas reúnem condições de progredir o regime e trabalhar extra muros, tudo isso ajuda na redução do excedente nas unidades. Faremos essas ações em todas unidades prisionais. É um processo lento, tem a preparação dos processos, situação dos presos, vamos fazer em todas até meados do próximo semestre", revela.

[FOTO3]O juiz César Belmino Barbosa Evangelista, titular da 3ª Vara de Execuções Penais, diz que o projeto foi idealizado por ele e pela juíza Luciana Teixeira de Souza, titular da 2ª Vara de Execuções Penais. O magistrado explica que somente na 3ª Vara, mais de 200 internos serão beneficiados.

 "Entre os benefícios estão a saída temporária, o induto de comutação e progressão de regime", relata Também é dado ao preso o documento que consta o quanto de pena ele foi condenado, o quanto já cumpriu e o que será cumprido. No caso do IPPOO II, onde estão os presos condenados que cumprem pena de regime aberto, mais de 800 processos foram analisados, conforme a juíza Luciana Teixeira informou.

 Liberações 

No primeiro dia do projeto 30 detentos ganharam liberdade. Conforme o secretário da Justiça Hélio Leitão. Na manhã desta quarta-feira, 11, haviam sido realizados pelo menos 40 tornozelamentos, em detentos que foram beneficiados com medidas.  

Ao fim do projeto, que será na próxima sexta-feira, 13, o juiz César Belmino diz que seriam 203 detentos soltos e somente três deles com saída temporária.