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Ruas da Paz que de tranquilidade não têm nada

A palavra que remete ao sossego que perseguimos dá nome a, pelo menos, nove logradouros de Fortaleza. No Dia Mundial da Paz, O POVO conversou com moradores de três destas ruas da Capital para levantar a questão: a tranquilidade caminha por essas vias?
10:05 | Jan. 01, 2016
Autor Angélica Feitosa
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Tipo Notícia
Para chegar à rua da Paz e Prosperidade, na Barra do Ceará (Regional 1), é preciso persistência. O caminho é atravessado por becos e vielas, que dificultam quem quer chegar ao destino. “Se o problema fosse só esse, ave Maria, ia ser bom demais!”, adianta a vendedora de praia, Samara Silva, 21 anos. Da janela de casa, esquina com a rua Brisa do Mar, é possível ver o calçadão do Vila do Mar.“Só tem de bom morar aqui essa vista. Só isso. Porque você não pode nem sentar na calçada”, diz, saudosa.

No Dia Mundial da Paz, O POVO visitou três das nove vias que levam a tranquilidade no nome. Samara conta que a rua, de paz e prosperidade, não tem nada. “De vez em quando, matam um nessa esquina aqui”, conta ela, que reside na mesma casa há 20 anos. Quando criança, lembra, costumava ir para a rua brincar com as bonecas. Hoje, não permite que o filho de dois anos nem sente na calçada. “Tem muita gente de bem, pessoas boas mesmo. O problema é outro”, conta, sem querer dar pistas.
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O pequeno empresário Heitor Farias, 39 anos, tem uma pista. Ele conta que o nome da rua poderia ser também sorte e felicidade. Com uma pequena empresa de turismo localizada justamente na via da Paz e Prosperidade, os negócios vão muito bem, obrigado. “O problema são as gangues que vêm de outros bairros para vender drogas aqui”, rebate.

De forma alguma, o traçado dessas ruas - e das vias que a cercam - seguiu o modelo xadrez da primeira Fortaleza. Delineado pelo engenheiro Adolfo Herbster, no primeiro bairro da Capital, o Centro, nem de longe se assemelha às ruas da Barra e Cristo Redentor. Aqui, o desalinho prevalece.

A empregada doméstica Rossaneide Moreira de Castro, 54 anos, sabe bem disso. Moradora da Rua da Paz, no Cristo Redentor (Regional 1), há 16 anos, ela conta da violência, mas afirma que é feliz no bairro. “Temos essa violência, mas a maioria dos moradores é gente boa”, acentua. Ela receita que a solução para que a rua fosse homônima à prática do dia a dia era preciso mais oportunidade para os jovens. “Eles não têm o que fazer. Então o que resta é se envolver com o crime”, avalia.

No Mucuripe (Regional 2), a Rua da Paz é morada, há 11 anos, do italiano Michelle Caputo, 46 anos. “Aqui é bem tranquilo, como você pode ver”, conta, enquanto aponta para a via, sem um pé de gente. A aposentada Maria Dulce Pereira Lima, 80 anos, é da rua desde que a paisagem em frente à casa dela, uma das poucas que não deu espaço a espigões, dava para um sítio. “De vez em quando, fazem uma danação por aqui, principalmente quando tem festa na (avenida) Beira Mar”, ameniza.
 
Redação O POVO Online 

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