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Falta de leite especial para crianças alérgicas preocupa mães

A fórmula de aminoácido para crianças alérgicas é fornecida gratuitamente pela Sesa há nove anos, mas mães denunciam que não há estoque neste mês. No Brasil, 350 mil crianças têm alergia à proteína do leite

16:20 | 14/10/2015
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Atualizada às 18h

O leite especial destinado a crianças com Alergia à Proteína do Leite da Vaca (APLV) está em falta neste mês de outubro, no Ceará. Representantes da Associação das Famílias e Amigos de Crianças com Alergia Alimentar (Afaca) denunciaram ao O POVO Online que várias mães foram buscar a fórmula e não receberam nenhuma previsão de abastecimento. A Secretaria Estadual da Saúde (Sesa) fornece a substância por meio do Programa de Alergia à Proteína do Leite da Vaca (PAPLV). A lata do Neocate, marca da fórmula subsidiada pelo Estado, custa R$ 142.

A Sesa informou, em nota, que ''a compra do leite Neocate está sendo providenciada''. Sem divulgar prazos, a pasta explicou que 880 crianças de até dois anos, alérgicas à proteína do leite de vaca, são atendidas com a fórmula no Estado. Os recursos são oriundos do Governo do Estado, e o programa foi ampliado desde 2007, quando cem crianças eram atendidas com o leite. Por mês, são distribuídas 2 mil latas de Neocate para os beneficiados no PAPLV.

A fórmula a base de aminoácidos substitui o leite na alimentação de crianças como Enzo, 5, diagnosticado com alergia múltipla desde um ano e três meses. A pedagoga Aline Saraiva, mãe dele e presidente da Afaca, possui apenas quatro latas para o restante do mês, mas o filho utiliza uma média de dez. “O número de crianças alérgicas cresceu. Apesar das mães se ajudarem com doações de latas, é um valor muito alto, a maioria das famílias não tem condições financeiras".

O número de latas disponibilizadas para cada criança depende do grau da alergia, mas os bebês com menos de seis meses dependem, exclusivamente, do leite especial. "A fórmula é um complemento, mas o meu filho, por exemplo, não pode comer proteína animal. A gente soube que não foi feita a licitação. Além disso, eles cortam o benefício quando as crianças fazem dois anos. Eu só continuo a receber porque tenho um mandado judicial", diz a corretora Ana Roberta Pereira, mãe de Arthur, 5 anos.


A terapeuta ocupacional Nicole Veríssimo foi buscar a fórmula na sexta-feira, 9, e obteve a mesma resposta relatada em outras denúncias: "não há previsão para a chegada do Neocate". "Vou esperar até amanhã para poder comprar, porque ninguém pode mais doar, está faltando geral”, diz ela. O filho de Nicole, João Gabriel, 11 meses, costumava apresentar assaduras e cólicas até ser diagnosticado corretamente. "Quando ele fez seis meses, pudemos introduzir frutas, mas é uma incógnita, você nunca sabe como vai reagir. Agora ele está só no leite, já reagiu mal a carne e frutas''.

De acordo com a Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI), 30% da população possui alergias em geral, sendo 20% delas crianças. Entre 700 mil a 1 milhão de crianças no País (média de 5% a 8%) têm algum tipo de alergia alimentar. E dessas, 350 mil têm alergia especificamente à proteína do leite. O número de alérgicos aumentou 18% nos últimos dez anos, segundo a médica alergista Fabiane Pomiecinsk, presidente da ASBAI na regional do Ceará.

[SAIBAMAIS 2] As alergias dependem de fatores genéticos e ambientais, podendo aparecer não somente com a ingestão da substância, mas também com o cheiro ou contato do alimento. "Essas crianças não podem tomar o leite comum de jeito nenhum. Para elas, a fórmula de aminoácidos é indicada porque possui os nutrientes que se assemelham ao leite materno, que ajudam, principalmente, no crescimento ósseo'', frisa Fabiane.

Os sintomas variam de leves a greves, com coceiras, manchas vermelhas, vômito, diarreias, chiado no peito, queda de pressão, desmaio e irritabilidade. A criança não ganha peso e pode ter um déficit de crescimento. Liana Gonçalves, que parou de trabalhar para cuidar das duas filhas alérgicas, teme a falta do Neocate para a mais nova, Pietra Valentina, 2 anos e seis meses. "Estou morrendo de medo, porque minha data de recebimento é agora no dia 15. Fico bem apreensiva".

A Afaca é composta por uma média de 330 mães de crianças alérgicas, mas Aline contabiliza cerca de cinco mil dependentes do leite especial no Ceará. "A saúde é um direito incontestável, mas está sendo negado pelo Estado. Enquanto não resolvem a burocracia, o que a gente faz com os nossos filhos? Tem criança que só ingere Neocate e água", finaliza a presidente da associação.

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