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Mais de mil pessoas ainda aguardam na fila de espera por transplantes no Ceará

Foram realizados 996 transplantes de órgãos e tecidos no Ceará, até esta quinta-feira, 24, segundo a Sesa. Domingo, 27, é celebrado o Dia Nacional da Doação de Órgãos

17:40 | 24/09/2015
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O menino Fábio Rocha, de apenas 10 anos, é um dos 1105 pacientes que aguardam na fila de espera de transplantes de órgãos no Ceará. A maioria dessas pessoas necessita de córnea, seguido de rim, fígado, coração, pulmão e pâncreas/rim. Em 2015, já foram realizados 996 transplantes de órgãos e tecidos no Estado. Conscientização é a palavra de ordem da Semana Nacional de Doação de Órgãos, que segue com programação em Fortaleza até domingo, 27.

Somente no Hospital de Messejana Dr. Carlos Alberto Studart Gomes (HM), onde Fábio está internado, são seis crianças no aguardo por um coração, além de outros quatro adultos. A anomalia no coração dele foi detectada após sintomas de vômito e diarreia, há cerca de quatro meses, quando ele vivia como uma “criança sadia”, conforme a mãe Rosanilda de Sousa Rocha, 28 anos. “Não tem reversão, nem cirurgia nem tratamento adiantam, só mesmo transplante. Viemos de Salvador porque lá o atendimento era fraco. Eu tenho esperança, mas é ansiedade em cima de ansiedade”.

Segundo o secretário-adjunto de Saúde do estado, Marcus Antônio Gadelha, um dos obstáculos enfrentados no Estado é a rejeição das famílias em doarem órgão dos parentes falecidos. “Tivemos, no 1° semestre, um problema com o fornecimento de medicamentos, mas o outro fator que detectamos foi essa relutância das pessoas. A ideia é trabalhar com a sensibilização”, disse nesta quinta-feira, 24, durante atividade no HM. De janeiro a junho deste ano, 64 famílias de possíveis doadores recusaram a doação (43%) em 150 entrevistas da Sesa para captação de órgãos e tecidos.

Para as crianças como Fábio, encontrar um coração compatível é mais difícil, pois a maioria dos doadores são vítimas de acidentes automobilísticos, informou a cardiologista pediátrica do HM, Isabel Cristina Leite Maia. “Esse tipo de infortúnio é mais comum de ocorrer com adultos. E quando aparece um doador compatível, muitas vezes, a família não doa. Ou por falta de informação ou por achar que a pessoa ainda pode sobreviver”, frisou.

O medo de danos ao corpo do ente querido, ainda segundo Isabel, é um mito que precisa ser trabalhado com a população. “As pessoas têm medo de danificar o corpo do familiar, acham que eles vão ficar esfacelados. O doador passa por cirurgia para a retirada de órgãos, mas existe todo um cuidado para manter a integridade externa e, justamente, não haver esse impacto”, explicou a médica.

Rosanilda contou que o filho já planeja ser, ele próprio, um futuro doador. “Ele vive dizendo que quando conseguir um novo coração quer doar o que for aproveitado do dele, como as válvulas. Eu fico num desespero quando ele me pergunta por que ainda tem gente que não quer doar. Um sorfimento de ver ele sendo todo 'furado' para receber tanto remédio”, relatou.

Vida após transplante
O analista financeiro Jonatas César Cabanelas, 33 anos, passou por um transplante de coração em março e agora comemora uma vida nova. “Acho que sou uma prova viva de um milagre de Deus, sou muito grato aos profissionais e, claro, à família doadora”, disse. “Olha, eu sabia que ia melhorar minha qualidade de vida com o transplante, mas eu não achava que fosse dar tão certo. Voltei 100%”, completa a gestora de recursos humanos Tassilla Maria dos Santos, 28 anos, que recebeu um novo pulmão seis meses atrás.

[SAIBAMAIS 4] A superlotação das unidades de saúde também é desafio para o aumento dos transplantes do Estado, como lembrou o coordenador de transplantes pulmonares do HM, Antero Gomes Neto. “Nosso hospitais estão lotados, o que influencia nos cuidados para a viabilidade dos órgãos transplantados. O pulmão, em especial, é o órgão que se perde primeiro sem o aparato adequado”, explicou.

Em 2014, foram realizados 21 transplantes de coração (19 em adultos e dois em crianças) e 11 de pulmão no HM. Neste ano, apenas um transplante de pulmão foi realizado, e o último transplante de coração foi feito nessa quarta-feira, 23, em uma criança. “Os adultos entendem mais, mas como explicar essa fila pra criança? A gente nem pode gerar expectativa, é mais delicado. Eu menti até o final no procedimento de ontem, dizendo que era só exame. Depois que dá certo o transplante, é só alegria”, contou a enfermeira Silvânia Ribeiro, 37 anos.

''O paciente ás vezes não tem tempo de expressar essa vontade, mas a doação é o ato mais altruísta que uma família pode ter”, afirmou a diretora-geral do HM, Filadelfia Passos. A doação de órgãos é autorizada pela família, não sendo mais necessário deixar nenhum documento por escrito. Para a doação em vida, a lei determina que o receptor seja parente até quarto grau ou cônjuge. Em casos de não parentes, a doação é permitida apenas com autorização judicial, segundo a Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO).

Cidadão
Murilo Emanuel Aguiar, 3, filho da corretora Neide Aguiar, 30, ficou um ano na fila de espera por um coração. Os dois vieram de Belém para realizar o procedimento no HM, onde ela conheceu o atual companheiro. “No dia 23 de outubro de 2013, uma família disse sim. O transplante foi um sucesso e hoje o Murilo faz tudo, corre de um lado pro outro, gosta de cantar. Nós ficamos morando aqui e, inclusive, vou casar com um funcionário do hospital. Para as famílias que esperam, só posso dizer para ter muita fé. Tem que se apegar a Deus e acreditar que vai dar certo” .

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Tranplantes em 2015 (até 24 de setembro):193 transplantes de rim, 3 de rim/pâncreas, 14 de coração, 141 de fígado, 1 de pulmão, 53 de medula óssea (47 autólogos e 6 alogênicos), 571 de córnea, 12 de esclera e 8 de valva cardíaca.
Fonte: Sesa

Serviço
Semana Nacional de Doação de Órgão em Fortaleza
- Treino de Corrida Reabilitação Cardíaca
Data: Sábado, 26, a partir das 8h30min
Local: Pátio Cocó, na avenida Engenheiro Santana Júnior
- Caminhada na Avenida Beira Mar
Data: Domingo, 27 - Dia Nacional da Doação de Órgãos
Local: Concentração em frente ao Boteco, na esquina da avenida Rui Barbosa.

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