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Lojistas da Major Facundo concordam que estrutura de prédios no Centro é precária

Fachada da loja que desabou foi demolida, mas apenas um tapume impede o acesso ao local. Na rua, vários prédios apresentam rachaduras, mas funcionários citam reformas

15:30 | 19/08/2015
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As falhas de estrutura dos prédios do Centro de Fortaleza são, na maioria das vezes, facilmente identificadas com uma vista rápida pelo local. Os lojistas da rua Major Facundo, onde um desabamento deixou duas crianças mortas, na última segunda-feira, 17, ainda estão apreensivos e buscam reforçar os cuidados. Apesar disso, a maioria deconhece a lei de inspeção predial e a data de construção dos imóveis.

Vaneide Guimarães, 52 anos, consultora de uma ótica que funciona no térreo de um prédio, acredita que falta fiscalização dos órgãos públicos. “Tem muito prédio que fora é uma maravilha, mas dentro está acabado”, opina. Para a ela, outra dificuldade é o controle de reforma nos pisos superiores, alugados para proprietários diferentes. “Aqui tivemos três reformas, mas não tem como controlar em cima, ninguém sabe se não pode cair e afetar”, diz ela.

No 2° andar do edifício onde Vaneide trabalha, funciona um consultório de oftalmologia. A má conservação externa do imóvel é visível. O POVO Online procurou o proprietário do local, mas ele não foi encontrado.

O oftalmologista Armando Moreira, 77 anos, funcionário do ponto, garante que o imóvel passou por reformas. “Fazem manutenções periódicas aqui, mas concordo que tem muito prédio no bairro que pode cair. A [rua] Barão do Rio Branco ainda é mais perigosa, as lojas são uns buracos”.

Uma lanchonete da rua passa por reforma, que conforme a caixa Raquel da Silva, 26 anos, não mexe na estrutura. “Eu trabalho aqui há cinco anos, tem reformas internas para ir ajeitando rachadura, reboco”, explica.

Há dois anos gerente de um estacionamento da Major Facundo, Cristiano Araújo acredita que o acidente foi uma “fatalidade”. “O que me deixa mais tranquilo é porque era uma loja, então o ponto foi reformado para virar estacionamento. Tiveram que derrubar as paredes, agora tem vigas para ficar mais forte. Ainda assim, eu penso que tudo pode acontecer”, completa.

Em uma loja de esponjas, a estrutura aparentemente bem cuidada destoa das outras edificações na rua. O estabelecimento, alugado há quatro anos por Elisete Almeida, 67 anos, ocupa dois andares, ambos reformados para evitar acidentes, conforme a irmã de Elisete, Oliete Almeida, 55 anos.

“Como é um prédio antigo, e esponja já é um bicho perigoso [inflamável] para se trabalhar, estamos sempre sendo vistoriados pelos bombeiros, fazendo reforma aqui e acolá”, defende Oliete. Dona Elisete, porém, não faz ideia de qual o ano do prédio, como todos os outros lojistas entrevistados. “Só Deus sabe quando foi construído. Eu quando soube desse desabamento nem tive coragem de ir lá, uma mãe não aguenta saber que criança morreu não. Sempre vejo reformas assim, o povo é pão duro, quer gastar pouco e às vezes paga mais caro”, lamenta.

Enquanto O POVO Online percorria a rua, na manhã desta quarta-feira, 19, uma parte da fachada da loja Coliseum caiu. O acidente foi pequeno e dois funcionários começaram a fazer a limpeza na entrada, por volta das 10h20min. “Assim que caiu nós acionamos o dono, mas não foi grave, foi só na parte do PVC. Tiramos fotos e preparamos os reparos, até porque uma reforma da fachada já estava planejada para mudar o layout”, diz a gerente do ponto, Silvana Fontele, 45 anos.
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Um prédio antigo, porém, nem sempre significa estrutura comprometida, como é o caso da farmácia Oswaldo Cruz, tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e bastante conservada. “O prédio é de 1890, somente algumas paredes laterais são de alvenaria, o resto foi trocado por cedro branco, tudo com o formato antigo. Aqui, nós temos uma pessoa só para fazer a manutenção, verificar os riscos de eletricidade também. Essa fiscalização aí precisa ir no Centro todo, na Rio Branco”, avalia José Adeson Tavares, 67 anos, gerente da farmácia há quase 50 anos.

Imóvel não foi interditado
A Defesa Civil determinou a demolição da loja que desabou no Centro, mas não há uma data definida e apenas um tapume impede o acesso ao imóvel. Por enquanto, o ponto segue atraindo olhares de transeuntes, que se aglomeraram para tirar fotos e até arriscam chegar mais perto, como o ambulante identificado apenas como Sérgio, que bate ponto exatamente na coluna ao lado do imóvel.

Vendedor de ervas, ele diz ter corrido quando o prédio desabou, no dia do acidente, mas resolveu voltar ao seu ponto. “Tiraram mais ou menos uns entulhos aqui, acho que daqui para sábado vão demolir. No dia foi aperreio, eu corri, todo mundo gritou, mas eu já costumava ficar aqui, voltei para poder vender”.

Segundo o coordenador da Defesa Civil Municipal, Cristiano Ferrer, a fachada do imóvel foi demolida e o proprietário contratou uma empresa para completar o serviço. Somente neste ano, 130 prédios com risco de desabamento foram notificados em Fortaleza. A fiscalização educativa, estabelecida pela lei municipal nº 9.913/2012, deve ser iniciada somente na próxima semana.

%2b Leia amanhã: O POVO traz matéria sobre a lei de inspeção predial, que entra em vigor em janeiro de 2016.

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