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Um nobre vendedor de água

Ivonildo Teixeira Lopes vende água no Montese vestido a rigor. A nobreza também faz dele um líder comunitário

12:42 | 28/07/2015
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"Olha a água, geladinha só um real". Como todo fortalezense, Ivonildo Teixeira Lopes, 48 anos, já tinha o mantra dos vários vendedores de água ambulantes incorporado à atmosfera urbana. Como, então, ele poderia sobressair em tal ramo, a fim de sustar os baixos rendimentos de sua lan house? A apurada visão de mercado dele o deu a resposta. E se o sedento fortalezense fosse atendido por alguém de camisa e calça social, luvas, gravata borboleta e óculos escuros que servisse em uma bandeja a garrafa de água mineral? Surgiu assim, em 27 de outubro de 2014, o garçom do sinal. Assim, lá se está, no cruzamento das ruas Três Marias e Antônio Fiúza - bairro Montese - Ivonildo Teixeira, segurando uma bandeja com a água acompanhada de um canudinho em um balde digno de refrigeração de champanhe. Quem quiser, ainda pode saborear uma barra de cocada. Tudo isso, respeitando-se as sempre negligenciadas normas de higiene: nada de tocar diretamente, por exemplo, na borda da garrafa. Tal aprumo não encareceu o serviço: a água mineral custa R$ 1 e a cocada, R$ 2. O empreendedorismo não parou aí: ele mapeou as ruas do bairro para saber onde seria melhor instalar-se. O cruzamento em que hoje fica, percebeu, não é abastecido por outro comerciante e, ficando próximo do Aeroporto, pode desfrutar da clientela vinda dos aviões - dos quais já decorou os horários dos pousos. Ainda implantará, em agosto, um serviço de entrega de brinde, onde, após comprar dez garrafas, o cliente ganhará uma surpresa. As decorrentes fotos de celular dos transeuntes e as várias equipes de reportagens que já registraram o "garçom do sinal" apenas estenderam para fora do Montese o prestígio de Ivonildo. Ele é reconhecido como líder comunitário, organizador de aulas de zumba e do Cinema da Lauro Viera Chaves, que, de 15 em 15 dias, leva filmes às ruas do bairro, com direito à pipoca e a refrigerante. Também é porta-voz do movimento dos atingidos pelas obras do Veículo Leve Sobre Trilhos (VLT) - que também o atingiu, fazendo com que tenha de completar os R$500 de aluguel social que recebe do governo com R$ 400 reais que tira do bolso, enquanto o condomínio prometido pelo Estado não sai. Menos mal que da venda das garrafas de água, ele não pode reclamar. "Enriquecer, não enriqueço, mas me mantenho muito bem".
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