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'Fiquei apavorado, pensei em me salvar', diz motorista acusado de atropelar estudantes da Uece

Após cinco dias do acidente, O POVO Online conversou com Atylla nesta terça-feira, 14, que afirmou ter saído do local sem socorrer as vítimas por medo de ser linchado

20:56 | 14/07/2015
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A rotina de Carlos Atylla Amaral Souza, 27 anos, mudou depois da manhã da última quinta-feira, 9, quando atropelou quatro estudantes durante protesto em frente à Universidade Estadual do Estado do Ceará (Uece), na avenida Silas Munguba. Após cinco dias do acidente, O POVO Online conversou com Atylla nesta terça-feira, 14, que afirmou ter saído do local sem socorrer as vítimas por medo de ser linchado.

Minutos antes do acidente, Carlos relata que deixou a esposa em uma parada de ônibus localizada na avenida Silas Munguba, já próximo da Uece. Em seguida, seguiu reto e encontrou a manifestação bloqueando a via. Atylla relatou que estava na faixa do meio e tentou passar pelo protesto ao ver dois veículos passando pela faixa da esquerda, desviando dos manifestantes e dos pneus queimados. Segundo ele, era o único caminho para sair do bloqueio.

"Antes de atropelar os estudantes, filmaram minha placa. Então, eu estava devagar. Vieram todos para cima do meu carro. Não foi pedindo de forma amigável. Vieram chutando e jogando pedras no meu carro. Fiquei apavorado, pensei em me salvar. Se estavam depredando o meu carro antes mesmo de sair, poderiam ter entrado (no veículo), me tirado e me linchado", comentou Carlos ao O POVO Online.

Segundo o motorista, ele não parou para prestar socorro às vítimas atropeladas por medo de ser agredido. Cerca de uma hora depois do atropelamento, ele afirma que se apresentou no 34º Distrito Policial (DP), no bairro Farias Brito, para prestar os devidos esclarecimentos.

No dia do acidente, Atylla iria para uma entrevista de trabalho no período da tarde, segundo informou à reportagem. Desempregado, o rapaz conta que, por causa da exposição do caso, ele e a esposa não saem do imóvel onde moram por medo de retaliação. De acordo com Carlos, a companheira dele foi demitida do emprego após o atropelamento ganhar repercussão.

Fotos do casal e de um Boletim de Ocorrência (B.O.), contendo todas as informações sobre Carlos Atylla, como o nome dos pais e o seu endereço, foram divulgados na página do DCE da Uece, em uma rede social. "Estavam postando coisas minhas, mas mais da minha esposa sendo exposta por um crime que não cometeu, não tem nada a ver com o caso. Ela até perdeu o emprego".
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Exposição

Ir à esquina da própria residência virou raridade na rotina do casal após o acidente. De acordo com Carlos, ele se isolou com a companheira e teme sair de casa com medo de ser agredido. O rapaz e seus familiares apagaram os perfis nas redes sociais por causa da exposição.

"Da maneira como está sendo exposta e repercutindo no próprio Facebook, estamos assustado em ir à própria esquina. Guardamos o carro, ficamos com medo de sair na rua. Não sei, qualquer tipo de pessoa pode querer fazer justiça com as próprias mãos.

Atylla acredita que qualquer pessoa "faria a mesma coisa", na situação dele. "Se pegar o vídeo do começo até o final, você verifica que não parti porque quis. Eu não quis em nenhum momento prejudicar ninguém. Acredito que no susto, qualquer pessoa faria a mesma coisa. Você sendo atacado no seu carro, podendo ser você depois, poderia ser algo pior", se defende.

Inquérito
Carlos Atylla vai responder criminalmente pelo atropelamento dos estudantes. Um inquérito foi aberto e o caso está com a Delegacia de Acidentes e Delitos de Trânsito (DADT). De acordo com o delegado César Wágnar, titular da unidade, Atylla será reinquirido, já que a versão apresentada por ele vai contra todos os depoimentos de testemunhas.

Na opinião do delegado, pelo vídeo do atropelamento, “não foi acidente”. “Resta saber se ele foi realmente compelido a fazer isso. Esse detalhe definirá se será acusado por tentativa de homicídio por dolo eventual ou por lesão corporal dolosa”, disse.

Estudantes
As vítimas prestaram depoimento nesta segunda-feira, 13. De acordo com Pedro Henrique Alexandre de Araújo, 22, que sofreu luxações, escoriações e queimaduras, os manifestantes estavam liberando os carros para fazerem o retorno, quando Carlos Atylla teria avançado contra o grupo. O jovem deverá utilizar uma cadeira de rodas por duas semanas.

Além dele, também se feriram Mayara Adila Albuquerque, 22, que sofreu uma lesão na bacia; Pedro Bernardino Farias de Sousa, 20, que ficou sobre o capô do carro; e Pedro Almeida Tavares, 19, que teve escoriações leves.

Vídeo do acidente:

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Redação O POVO Online

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