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Tendência é que prova do Enem seja digital,diz ex-coordenadora do Inep

Em entrevista ao O POVO, a ex-coordenadora geral de Instrumentos e Medidas do Inep, Camila Karino, afirma que o Instituto já pesquisa meios de tornar o Enem uma prova realizada em computadores

01:30 | 29/03/2015
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Os alunos poderiam agendar, dentro do prazo estabelecido, as datas de acordo com suas disponibilidades para realizar o exame. E os resultados seriam divulgados com maior velocidade. Na visão da doutoranda em Psicologia e ex-coordenadora geral de Instrumentos e Medidas, do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Camila Karino, a tendência é que o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) se torne uma prova realizada em computadores.

"Aplicação no computador tem algumas facilidades para o estudante: ele pode, por exemplo, agendar sua aplicação. Não precisa ser tudo no mesmo dia", aponta Camila, em visita a Fortaleza para participar do seminário Trilhas do Conhecimento, promovido pela empresa de complemento educacional, com reforços escolares Geekie.

O POVO - Existe a proposta de que o Enem seja realizado online. De que forma isso se daria?
Camila Karino -
Transformar o Enem numa prova online é uma tendência do exame, é uma tendência mundial. Todos os países caminharam para ter uma avaliação no computador e uma avaliação online. Tem uma diferença: não necessariamente no computador tem de ser online. O Inep pensa nisso há um tempo, acompanha o que está ocorrendo de avaliação no mundo e tem feito esforços internos para que o Brasil esteja à frente disso. É de imediato? Eu não sei. Não é só uma questão de crescimento de avaliação. Tem de ter um crescimento em termos de País. Quando falamos de aplicação em computador, temos de ter polos no País todo que possam suportar essas aplicações. Se for online, a gente tem uma infraestrutura de Internet que possa permitir que realmente seja uma aplicação nacional? O Enem é muito grande. Qualquer medida que você tomo de um exame desse porte, é preciso cautela. Você tem de trabalhar bem o cenário antes de fazer qualquer tipo de modificação ou implantação. Não é uma tarefa fácil. É um desafio para o Inep pensar em como o exame futuramente pode vir a ser no computador. No exterior, quando uma aplicação é no computador, o aluno não leva as questões da prova. Hoje, eu não sei se a sociedade já aceitaria fazer uma prova de seleção em que você não está levando o material embora. Tem toda uma mudança cultural . Outra diferença é que, não necessariamente, as provas vão ser iguais. A gente pode estar concorrendo a uma mesma vaga, mas você vai fazer uma prova e eu, vou fazer outra.

OP – De que forma o Brasil deve se encaixar nesse processo de provas Online?
Karino – O Brasil quer se encaixar. O mundo está mudando para ser mais tecnológico. Aplicação no computador tem algumas facilidades, algumas vantagens para o estudante: ele pode, por exemplo, agendar sua aplicação, não precisa ser tudo no mesmo dia. Mas tem outas coisas que o Brasil não tem a cultura e a gente deveria desenvolver. Estamos passando por instrumentos diferentes, as questões são equiparáveis e a gente pode colocá-las todas numa mesma escala. Tem toda uma mudança de sociedade para que isso dê certo. Mas já temos algumas iniciativas. O Brasil participa do Pisa (Programme for International Student Assessment), que é o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes. Nesse programa, estudantes de 15 anos são avaliados mundialmente e se verifica seus níveis educacionais. O Brasil se colocou como um País que vai fazer aplicação no computador, junto com outros países. Tem outros países no Pisa que não aceitaram ainda, declararam: “a gente vai continuar fazendo no papel”.

OP – No caso do agendamento vir a ser usado, o aluno não teria a possibilidade de informar a outros candidatos como está sendo a prova?
Karino –
Um dos requisitos para você ter uma aplicação (online) é a de vários cadernos diferentes e ter um banco muito grande de questões. Com isso, a possibilidade de aquela mesma questão cair para a pessoa que ele comentou é muito pequena. Existe, mas é mínima. A segurança estaria no tamanho de banco gigantesco que, mesmo que você fale que viu algumas questões, isso não seria suficiente para você ir bem na avaliação.

OP – O Enem foi criado em 1998, com o objetivo de avaliar o desempenho do fim da educação básica. Que balanço você da relação do Enem do ensino médio?
Karino -
O Enem, quando nasce, é com uma proposta de ensino de uma avaliação de proposta de competências e habilidades, em contraponto a um ensino muito conteudista. A provocação é de se formar o estudante para a vida, para que ele use o conhecimento no dia a dia dele. De (19)98 para cá, vemos muito mais esse discurso utilizado no dia a dia das escolas, de ter professores pensando em como poder formar o estudante para a vida e não vê-lo como alguém que tenha apenas de reter informações. Ele tem de saber utilizar a informação. Ele (exame) direciona, também, na medida em que ele torna algumas matérias mais evidentes, por exemplo, Sociologia, Filosofia, são áreas que, talvez, não tivessem tanta influência no ensino médio, passam a ter mais importância na grade horária das escolas. O Exame acaba direcionando as práticas de ensino. Esse efeito retroativo é interessante, porque as escolas passam a tentar evoluir, a tentar se aperfeiçoar para acompanhar a forma como os seus alunos estão sendo avaliados. Nesse contexto, o Enem tem contribuído, sim, para o desenvolvimento da educação básica desse País.

OP – Grandes escolas em todo o País, em particular aqui no Ceará, tiveram de se adaptar para que o aluno seja preparado para o Enem, que é a principal forma de ingressar nas universidades públicas. De que forma você avalia essa adaptação dos colégios?
Karino –
A escola não tem, na minha concepção, que formar o aluno para um exame específico. Ela tem de formar o aluno. A educação que a gente dá em uma escola não é somente na questão de conteúdo ou de conhecimento. Ela tem um papel muito maior que isso, de forma cidadãos, um indivíduo muito mais complexo, muito mais global que um único exame. Quando o Enem passa a ser usado pelo Sistema de Seleção Unificado (Sisu), a intenção do Governo era, sim, de democratização de acesso à educação superior. No sentido de que, um aluno que faça uma prova na sua cidade tenha oportunidade de concorrer a vagas que estão disponíveis em todo o País. Enquanto essa oportunidade de acesso, antes, era muito mais restrita a um aluno de classe social mais alta, que tinha acesso a mais vestibulares, o aluno poderia ser financiado para fazer várias provas em todo o País, isso acabava dando a ele maior oportunidade de acesso do que ao estudante de escola pública . A ideia de democratização de acesso é de dar oportunidade aos estudantes de concorrerem em vagas públicas. Mas todos eles precisam mostrar um domínio para conseguir entrar numa vaga, independente da classe social.

OP- Muitos dos alunos que entram pelas cotas atualmente nas universidades e institutos federais tem pouca base no ensino médio. Essa forma de acesso à Universidade não estaria maquilando uma falha do ensino médio público?
Karino –
Na minha opinião, tem muitas falácias (mentiras). Deveriam ter estudos mais claros e resultados mais claros para ver se realmente está tendo um prejuízo ou favorecimento. Tem muitas opiniões e poucos dados. Emitir uma opinião sobre isso, também não contribui.

OP – De que forma o Inep lidou com o escândalo do vazamento das questões em 2011?
Karina –
A posição do Inep foi institucional. O Inep ficou esperando os resultados das investigações. Quando se comprovou o vazamento de algumas questões, os itens foram excluídos do banco, foram retiradas para não ser mais usadas porque perderam o valor delas. E o Inep se colocou à disposição para o que fosse necessário. A gente teve de dar depoimentos, explicar o processo e conversar com o delegado que estava à frente na época para que a verdade fosse revelada e a Justiça fosse feita.

OP – Quais são os benefícios da consulta pública do Enem?
Karina -
A consulta pública aconteceu para que estudantes, professores e a sociedade em geral pudessem dar sugestões. E eu acho válido, o exame é feito para o benefício da sociedade. E para conseguirmos pensar em quais rumos esse exame deve tomar no País. Ele contribuiu em avançar com uma política de ensino voltada para potências e habilidades e mostrar que o estudante é mais que uma mera de composição de informações. Ele tem contribuído para o a formação dos estudantes em geral.

 

 

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