Mulheres com deficiência falam sobre ser mãe
Amor e criatividade são essenciais para vencer barreirasCarlos Viana*
Especial para O POVO Online
Neste Dia das Mães, O POVO Online conta as histórias de Antonia Medioneira, Renata Passos e Kátia Lucy. Em comum: elas são mães com algum tipo de deficiência, o que não as impede de exercer a maternidade com plenitude.
Antonia Medioneira ficou cega aos 14 anos de idade, após ter contraído tuberculose ocular, doença infecciosa que é transmitida por uma bactéria. Mas isso não impediu Medi, como é chamada pelos amigos, de realizar o sonho de ser mãe. Por não poder gerar filhos, ela e o marido Martônio, que também é cego, adotaram André, quando ele tinha um ano e sete meses.
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AssineMedi afirma que o processo de adoção foi rápido. “Entramos com o processo em abril [de 2000] e em agosto já estávamos com ele”. Segundo ela, o fato de o casal querer um filho, sem especificar idade, cor ou sexo, facilitou o processo.
Sorrindo, Medi relembra que uma das principais dificuldades durante a infância de André foi não poder ver onde ele estava na casa. “Tivemos que colocar porta na cozinha para ele não entrar enquanto eu estava cozinhando”.
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Dar remédio para o filho também foi outra dificuldade. O casal socorria-se da ajuda de vizinhos e, quando o medicamento era noturno, Medi pedia para os vizinhos colocarem a quantidade certa no dosador e na hora prevista ela medicava o filho.
André não tem vergonha dos pais. Na escola, quando fala para os amigos que tem pais cegos, é repreendido, porque seus colegas acham a palavra “cego” ofensiva. A resposta de André é objetiva: “Eles não podem ver, então são cegos, né?” Medi sente-se realizada como mãe, e deseja que André, hoje com 15 anos, “ande por caminhos certos e seja feliz”.
Medi aconselha a casais que se propuserem a adotar uma criança para irem “de coração aberto, porque tem muita criança precisando de amor”. Para ela uma criança que espera adoção não tem cor nem sexo. “Ela tem amor e alegria”.
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Renata Passos era modelo e apresentadora de televisão. Aos 26 anos, devido a um acidente de carro, ficou viúva e perdeu a perna esquerda e 30% da direita. Com dois filhos pequenos, ela teve de readaptar tudo em sua vida e contou com a ajuda da família. Durante o processo de recuperação, os filhos de Renata ficaram com sua família, e só após alguns anos voltaram a morar com ela.
Depois do acidente foram dois anos de intenso tratamento, com 11 cirurgias e acompanhamento psicológico. Para Renata, “o amor de Deus é capaz de resolver todos os problemas”, e foi com essa confiança que ela superou a deficiência e conseguiu ir adiante.
Agora Renata é mãe de três filhos: Priscila,21, Bruno,14, e Lucas, 8. O mais novo nasceu após o acidente. Ela diz que chama o menino de “filho do milagre”, porque ela o criou sozinha. Indagada sobre as principais dificuldades para cuidar do bebê, Renata afirma que “um deficiente tem que se virar para fazer as coisas, e muitas vezes não sabe como consegue”.
Em 2009, Renata escreveu o livro ''O despertar do equilíbrio'', em que conta sua trajetória. Atualmente, ela trabalha na Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social do Ceará (STDS).
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Kátia Lucy é surda. Teve uma gravidez muito jovem e não planejada, causando, grande impacto na família. Seu filho, Kevin, é ouvinte, porém, a sua primeira língua foi a Libras (Língua Brasileira de Sinais), o que facilitou a comunicação entre mãe e filho.
Para Kátia, a principal dificuldade era levar seu filho ao médico, pois nem ela nem o menino podiam comunicar-se com os médicos, que não compreendiam a língua de sinais. “Então eu apelava para papel e caneta para me comunicar”. Para Kátia, pessoas que trabalham em hospitais deveriam saber Libras, “para que a comunicação ocorra de maneira plena”.
Atualmente, Kátia é professora de Libras da Universidade Federal
do Ceará (UFC).
*Carlos Viana é cego desde a infância.