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Batalhão de Choque expulsa moradores da comunidade Alto da Paz

Moradores estão sendo despejados para construção de um conjunto habitacional que vai atender famílias do Serviluz
08:11 | Fev. 20, 2014
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Tipo Notícia

Atualizada às 16h29min

Agora à tarde, o clima está mais tranquilo e as pessoas estão saindo amigavelmente. Elas estão com os pertences embalados para ir à casa de parentes. Uma família de sete pessoas não tinha para onde ir. Nesse caso, a Defesa Civil vai levá-las para um abrigo, segundo informações da Habitafor. Ainda há muita fumaça dos pneus queimados. Um trator está no local derrubando as casas.
Cerca de 300 famílias assinaram o termo nas últimas semanas, concordando com a desapropriação. Elas terão vagas preferenciais quando o conjunto habitacional (do Minha Casa, Minha Vida) ficar pronto. A previsão da prefeitura é que em 12 meses, os primeiros blocos estejam concluídos. 18 meses é o prazo total para as obras ficarem prontas.  

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Desde as 6 horas da manhã desta quinta-feira, 20, cerca de 150 homens do Batalhão de Polícia de Choque estão na comunidade Alto da Paz, no bairro Vicente Pinzón. Segundo o comandante Alexandre Ávila, houve confronto com moradores que se recusaram a sair do local. A Prefeitura afirma que as famílias já haviam concordado com a saída do local. O motivo do despejo é a construção, no terreno onde 350 famílias se alojaram, de um conjunto habitacional que atenderá famílias do Serviluz.

Ainda segundo comandante, a desocupação continua durante todo o dia. O POVO apurou que cinco pessoas ficaram feridas, sendo duas mulheres - uma delas grávida -, dois homens e um policial militar. As vítimas foram atendidas por uma ambulância do SAMU.

Em entrevista à reportagem, uma jovem grávida, identificada como Girlane de Queiroz da Silva, 21 anos, disse que se machucou porque estava perto de um policial da cavalaria, que caiu chutando e acabou lhe atingindo. O pai de Girlane informou que foi atingido com bala de borracha na perna, mas também passa bem. Segundo o Samu, os outros três feridos foram um PM, que teria levado uma pedrada, uma senhora, que caiu e bateu cabeça, e um homem que se machucou com uma telha.

O POVO também apurou que os policiais usam bombas de efeitos moral. Neste momento, as casas estão sendo derrubadas por três tratores e os moradores tentam levar os objetos que conseguem.

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Os moradores montaram barricadas com objetos queimados para evitar que os caminhões entrem nas casas. Até o momento, houve quatro confrontos, com duração de dez minutos. A Polícia está usando munição de pacto controlado, segundo o major Ávila. População reage com pedras.

[SAIBAMAIS 1] O motivo do despejo é a construção, no terreno onde 350 famílias se alojaram, de um conjunto habitacional que atenderá famílias do Serviluz. De acordo com o grupo, eles não têm para onde ir e afirmam que foi oferecido R$ 100 como ajuda de custo durante a mudança.

Segundo a comunidade Alto da Paz, a decisão da Prefeitura teria sido tomada sem consultá-los e a maioria das pessoas não quer ir para o local. A Prefeitura Municipal alega que as famílias foram indenizadas e notificadas da retirada. 

DESPEJO

A Fundação de Desenvolvimento Habitacional de Fortaleza (Habitafor) afirma que as famílias já haviam concordado com a saída do local até o término das obras, mas uma parcela resiste por se tratar de uma área de especulação, sendo constatados aluguéis, vendas de lotes e outros usos econômicos da área.

De acordo com a Habitafor, 80% das famílias assinaram um termo de compromisso que permitiria a reintegração de posse amigável da área. Um levantamento da fundação verificou que maioria dos habitantes tem para onde ir após a desocupação. 

Eliana Gomes, presidente da Habitafor, disse que a ajuda de custo de R$ 100,00 será dada às famílias pela empresa responsável pela obra, a IRS Engenharia. A periodicidade do repasse vai depender da empresa e de um levantamento da Defesa Civil, que está no local para o remanejamento dos moradores após a desocupação.

A presidente adiantou ainda que os moradores da comunidade poderão ser integrados à mão-de-obra da construção do conjunto habitacional, proposta que já foi acatada pela IRS Egenharia. A previsão é de que os primeiros lotes sejam entregues em janeiro do próximo ano.

No terreno serão construídas 1.472 moradias para a população carente das comunidades do Titanzinho e do Serviluz, no âmbito do projeto Serviluz, que vai compreender uma série de ações, como a construção da via paisagística na orla do Serviluz e a recuperação de ruas das comunidades; construção de praça no entorno do Farol do Mucuripe, com 26.000 m²; e melhorias em 1.181 unidades habitacionais do Serviluz, com instalação de kits sanitários e reformas.

Assista ao Vídeo:

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Imagens: Fabio Lima

 

Redação O POVO Online com
informações das repórteres Sara Oliveira e Isabel Costa

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