Estratégias para mamães lidarem harmonicamente com o fim da licença-maternidade
A medida, que tem como período obrigatório quatro ou seis meses, causa preocupações às mães que precisam voltar à rotina de trabalho. Melhor aproveitamento do tempo com o recém-nascido e cultivar a relação do pequeno com a família podem ser auxíliosAs preocupações maternas vão além dos cuidados diários com recém-nascidos quando o assunto é a chegada do fim da licença-maternidade. No Brasil, direito assegurado desde 1988, a medida possui duração obrigatória de seis meses para funcionárias públicas e quatro meses para funcionárias de empresas privadas, podendo nesse caso estender-se até seis meses, a critério da contratante. Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que busca ampliar o período obrigatório para seis meses tramita no Senado Federal, ainda sem data para ser votada em plenário.
O retorno ao trabalho, em geral, desperta insegurança, sobretudo nas mamães de primeira viagem, e produz receios como a gerência do menor tempo de que dispõe agora mãe de recém-nascido. É o caso vivenciado pela analista de marketing Priscila Ribeiro Mihaliuc, que em fevereiro de 2018 entrou em licença-maternidade, retornando em agosto, já que havia um mês de férias pendente. Para Priscila, a principal preocupação com o retorno profissional foram as mudanças que precisou enfrentar na empresa em que trabalha.
“O departamento de marketing em que trabalho vive em constante mudança. De 2016 para cá, tivemos três diretores diferentes. Hoje, me sinto um pouco dividida. Antes, eu estava só na empresa e hoje estou pensando no meu trabalho e na minha casa. Mas a maternidade também me trouxe benefícios. Antes, eu me estressava mais facilmente. Entendo que há uma coisa muito maior, que é minha filha. Para me chatear, tem que ser uma coisa muito séria. Minha percepção de vida mudou”, relata Priscila.
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AssineImpactos na vida das mulheres
Segundo Raíssa Serpa, psicóloga do Hapvida, uma das principais angústias das mães que precisam retornar ao trabalho é como manter o vínculo com o filho em uma carga horária que pode ser excessiva e, assim, ocupar bastante o tempo da mãe. Para Raíssa, a cultura presente no mercado de trabalho é outro desafio. “Como a empresa receberá a mãe? Ao sair de licença, a profissional tinha determinado estilo de vida. Como a empresa vai olhar pra ela, que demanda certa flexibilidade de horário?”
Para esses casos, a psicóloga sugere que a mãe procure a empresa a fim de explicar as demandas que surgiram com a vida materna. “Ela precisa falar das necessidades enquanto mãe. É interessante que a própria empresa também valorize essa profissional. Não é uma regra geral, claro. Acho que cada uma vai encontrar uma forma de lidar com essa nova realidade, mas tentar esse contato com a empresa é interessante.”
Como manter um vínculo saudável com o filho?
Muitas mães se questionam sobre como manter um vínculo saudável com o filho após o retorno ao trabalho. Raíssa pondera que valorizar o tempo com o filho é uma das estratégias mais pertinentes para potencializar o elo entre os dois. Ela explica também que durante a licença, apesar de ser um período em que é muito forte o vínculo com a criança, que a mãe tenha, um tempo para si, para o autocuidado.
A psicóloga argumenta, ainda, que pedir apoio ao parceiro ou a outras pessoas da família que possam dar suporte à criança é uma forma de driblar a barreira física. “É muito difícil ter um sentimento de naturalidade com relação à distância do filho, considerando que ele nasceu há pouco meses. De certa forma, é muito complicado tanto para a mãe como para o filho encarar como natural. Porém, tentar equilibrar, ainda durante a licença, o tempo que o recém-nascido passa com outra pessoa da família pode ajudar a suavizar a percepção do distanciamento.”
Para as mulheres que amamentam, pondera Raíssa, os desafios tendem a serem maiores. “Em geral, as mães pensam como vão lidar com isso, porque a amamentação não será da mesma forma.” Sobre esse tópico, é importante destacar que, para as mães que têm quatro meses de licença, a legislação brasileira prevê dois intervalos de 30 minutos durante a jornada de trabalho para amamentação ou retirada de leite, até o sexto mês de vida da criança.
Ainda não está tudo bem
Raíssa fala que, se depois de alguns meses do retorno ao trabalho a mãe perceber que ela ou o bebê precisam de ajuda, o ideal é procurar uma rede de apoio para ambos. “Procurar uma pessoa que possa ajudá-la e um profissional que fique com a criança, ajudando a própria mãe a lidar com suas questões emocionais, é bastante benéfico. Procurar um profissional da psicologia pode também ser muito produtivo”.
No caso de mamães de primeira viagem, finaliza Raíssa, em geral, é um período totalmente diferente do que ela já viveu até então e que esse estranhamento pode estender-ser a mulheres que já tiveram filhos. “Mesmo para mães que já tiveram outro filho, cada gestação é diferente. Então, pode sim suscitar questões de medos, inclusive durante o pós-parto. São demandas como mãe, como mulher, como profissional. O acompanhamento psicológico pode auxiliar nas preocupações”.