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Não adianta baixar juro a 7,25% e depois voltar a 14,25%, diz presidente do BC

14:00 | 10/10/2017
Em uma referência direta à condução da política monetária no governo Dilma Rousseff, o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, rebateu senadores da oposição que reclamaram do que consideram uma "redução lenta" dos juros básicos da economia brasileira. "Não adianta baixar juro a 7,25% e depois voltar a 14,25%. Tem de ser um movimento sustentável", disparou o presidente do BC em audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado.

Antecessor de Ilan Goldfajn, Alexandre Tombini foi o responsável por levar a Selic ao menor patamar histórico, de 7,25% ao ano, em 2012. Mas a decisão foi apelidada de "cavalo de pau" pelos agentes do mercado, uma vez que resultou numa reversão drástica de um ciclo de aumento dos juros que estava em curso em meados de 2011 para o ciclo de flexibilização. O reflexo dessa decisão foi a aceleração da inflação, que ficou em dois dígitos no ano passado e fez com que o BC voltasse a elevar juros, ainda na gestão Tombini.

O atual presidente do BC foi cobrado pela senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) pelo que ela considerou como lentidão no corte dos juros. Segundo ela, a inflação está desacelerando muito mais rapidamente do que a queda nos juros básicos, o que faz com que o juro real aumente.

Ilan Goldfajn alertou, entretanto, que não se pode baixar juros sem um movimento sustentável, "se não ele volta". O presidente do BC defendeu que o atual movimento de flexibilização, por sua vez, é sustentável uma vez que a inflação deve permanecer baixa.

Inflação baixa

O presidente do Banco Centra disse também que, após "clarear o horizonte", a inflação desacelerou, o que abriu espaço para a redução dos juros. "Agora, é trabalho de manter a inflação baixa", destacou.

Para ele, a condução da política monetária teve "algum papel" na melhora dos dados da economia. "Nos papéis de um ano, o Tesouro já está captando a 7%. São dados positivos", apontou.

Questionado pelos senadores, Ilan Goldfajn disse ainda que o sistema financeiro brasileiro, embora tenha sofrido um "teste de estresse real" em meio à recessão, é provisionado e tem liquidez.

Reservas

Diante dos pedidos de senadores para que o País use suas reservas internacionais para aplacar a grave situação fiscal, o presidente do Banco Centra afirmou considerar que "não é o momento de usar as reservas". "Compramos um seguro, estamos no meio do sinistro. Não é hora de se desfazer do seguro", explicou em audiência pública na CAE do Senado.

Ele lembrou que as reservas foram constituídas com endividamento do País. Portanto, quando houver alguma decisão de usá-las, os recursos serão aplicados exclusivamente para abater a dívida brasileira. "No médio e longo prazo sim podemos discutir o tamanho e o custo das reservas", afirmou.

Segundo o presidente do BC, embora o País tenha voltado a crescer, as reservas têm se mantido estáveis, sem aumentar de volume. "O espaço que tivemos recentemente foi usado para reduzir os swaps cambiais", detalhou. "Essa é a forma de ser precavido", disse, lembrando que o cenário internacional favorável pode não ficar assim para sempre.

Indexação

Apesar de considerar que ainda não é o momento de discutir o volume das reservas, Ilan Goldfajn afirmou que o cenário atual é favorável a um debate sobre os mecanismos de indexação da economia. Pela indexação, muitos preços da economia, inclusive salários, são corrigidos com base na inflação passada, o que pode contribuir para retroalimentar a dinâmica de preços em episódios de inflação elevada.

"Acho que é momento de discutir mecanismos de indexação da economia. É sempre mais difícil discutir indexação com inflação de dois dígitos", ressaltou o presidente do BC, lembrando que os preços avançaram 2,5% nos últimos 12 meses.

Cadastro positivo

Ilan disse ainda que a MP 784, que deverá ser votada nesta terça-feira, é importante para modernizar instrumentos do Banco Central e da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). A MP regulamenta acordos de leniência com instituições financeiras no âmbito do Banco Central, entre outros pontos. "Esperamos que logo mais venha para o Senado", afirmou, durante audiência na CAE da Casa.

Ele ressaltou medidas adotadas no âmbito da chamada agenda BC+, como aprovação da nova Taxa de Longo Prazo (TLP), da lei que permite registro de ativos de crédito em ambiente eletrônico e o projeto que moderniza a relação entre o Banco Central e o Tesouro Nacional. "A TLP dá maior potência à política monetária e incentiva queda da taxa de juros estrutural", afirmou.

O presidente do BC destacou também a medida que limitou o crédito rotativo no cartão de crédito que, segundo ele, levaram a queda nos juros nessa modalidade de pagamento.

Ele também afirmou que o projeto que cria o cadastro positivo de bons pagadores, ainda em tramitação, deverá estimular maior concessão de crédito para os consumidores, de forma mais barata. "Precisamos de um cadastro que seja completo", concluiu.

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