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Conselhos de administração seguem homogêneos

09:40 | 07/10/2017
A diversidade na composição dos Conselhos de Administração entrou na pauta dos players atuantes em governança corporativa, tanto no meio acadêmico quanto no empresarial, mas ainda é algo pouco visto na prática. Algumas companhias começaram a trazer as primeiras mulheres para dentro dos colegiados, mas quesitos étnicos, culturais e sociais ainda são deixados de lado na composição desses órgãos.

Estudo realizado pela KPMG aponta que nas empresas listadas no Novo Mercado, segmento de mais elevadas exigências de governança corporativa da B3, apenas 6% dos membros é do sexo feminino, considerando a média de todos os conselhos. Sob outro ângulo, 36% de empresas tem ao menos uma mulher no conselho de administração. Outros itens que mostram diversidade, muito incipientes, não constam no levantamento citado.

Além da importante presença feminina, esse um assunto que ganhou holofotes em diversas esferas da sociedade, a heterogeneidade do conselho de forma mais ampla pode contribuir em todo o processo decisório de uma empresa, tendo em vista que, na prática, um grupo com pensamentos e experiências diversas acaba alcançando uma análise mais detalhada, o que é muito desejável dentro dos conselhos de administração. O próprio código de Melhores Práticas do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) recomenda que o conselho deve ser composto de forma e contemplar diversidade de conhecimentos, experiências, comportamentos, aspectos culturais, faixa etária e de gênero.

Rosalyn Taylor O'Neale, consultora da Cook Ross, destaca que as empresas tendem a buscar em suas próprias redes de conhecidos novos membros aos seus conselhos, o que na prática acaba minando a diversidade dentro desses grupos. "Se sua empresa não debater porque a diversidade é importante, a sua empresa não se sairá bem. O valor da diversidade é quando você traz algo na discussão que ninguém mais poderia", disse O'Neale, em palestra do Congresso do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), com um público formado, em sua grande maioria, por homens brancos.

Outro item muito relevante quando o assunto é diversidade é, ainda, o referente à formação acadêmica. "É muito comum encontramos conselhos com a predominância de membros com experiência na área financeira, por exemplo. O que ocorre nesses casos é que os debates ficam concentrados nas análises econômico-financeiras da empresa, e ficam em segundo plano temas até mais importantes, como estratégia de mercado e produtos", afirma o presidente da Governance Solutions, Carlos Airton.

Segundo ele, essa busca por conselhos que propiciem maior debate é vista, contudo, por um grupo ainda seleto de empresas, que possuem um sistema de governança corporativa mais maduro.

Oscar Bernardes, que atua em Conselhos de companhias brasileiras, afirma que, na diversidade desejada, é fundamental grupos que englobem diversas gerações. "Assim a empresa terá em seu conselho diversos tipos de experiências e com olhar em ciclos do passado, e outros olhando os desafios do futuro", disse.

Os passos para uma maior diversidade dentro dos conselhos de administração das empresas andam a passos muito lentos, mas alguns avanços começam a ser notados. Uma delas foi que, pela primeira vez, esse tema entrou, mesmo que sutilmente, no rol de itens de regras no Novo Mercado, segmento de mais elevadas práticas de governança corporativa da Bolsa brasileira, que acaba de ser revisado.

A diretora de regulação de emissores da B3, Flavia Mouta, lembra que o regulamento aprovado e que entrará em vigor contempla em suas regras a obrigatoriedade de adoção por parte das empresas listadas no segmento uma política de indicação de executivos (administração, Conselho e comitês), sendo que um dos critérios a serem levados em conta é a diversidade. "Esse é um assunto que foi colocado à mesa durante as discussões e que trouxe reflexão para as empresas", disse.

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