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No Senado, Ilan destaca avanço no combate à inflação e flexibilização monetária

14:06 | 04/04/2017
O presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, considerou nesta terça-feira, 4, que houve avanço no combate à inflação no País e citou que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) estava em 11% em um pico recente e deve fechar o ano "em 4%, 4,5%". "Isso está permitindo uma flexibilização monetária talvez não da forma que pensávamos", afirmou, em audiência na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado.

Esse processo de flexibilização monetária, acrescentou, abriria espaço para se discutir com mais aprofundamento outras questões, como o spread bancário. "Isso que se torna mais fácil quando a taxa básica começa a recuar", completou.

Ilan Goldfajn reafirmou a perspectiva de que o juro real da economia brasileira deve continuar em tendência de queda. Para isso, o banqueiro central defende a continuidade da agenda de reformas. "Hoje, quando comparamos com a inflação projetada em 12 meses, o juro real caiu para 5%. Entendemos e queremos avançar mais", disse.

Durante audiência pública na CAE no Senado, o presidente do BC lembrou que no passado recente o juro real chegou a tocar os 9% ao ano e tem caído gradativamente. Para continuar esse processo, Ilan Goldfajn defende "continuar com a agenda de reformas".

Ainda sobre o custo do crédito, o presidente do BC defendeu que a adoção da Taxa de Longo Prazo (TLP) - em substituição à Taxa de Juro de Longo Prazo (TJLP) - também ajudará a economia ao oferecer mais previsibilidade e segurança. "Estamos convencido de que isso vai levar à redução da taxa estrutural. Portanto, a própria TLP deve ter trajetória positiva ao longo do tempo", disse. "A TLP terá uma transição lenta e há espaço para fazer reformas ao longo do tempo", completou.

Estabilização

O presidente do Banco Central repetiu que já existem sinais de estabilização na economia brasileira, e citou não apenas a volta da geração de empregos, como também a melhora da produção industrial.

"A situação ainda não é a que vamos ter daqui a um ou dois anos. Mas há sinais de estabilidade e de que o pior pode ter ficado para trás", afirmou. "Há projeções de que o ultimo trimestre de 2017 crescerá 2,7% em relação ao fim de 2016. E a previsão de crescimento é maior para 2018", completou.

Inadimplência

Questionado pelos senadores sobre as altas taxas de juros e spreads cobrados pelos bancos no Brasil apesar da queda na Selic, o presidente do Banco Central alegou que não há uma única razão, mas a soma de vários motivos. Ele citou que o Sistema Financeiro Nacional tem inadimplência maior e taxa de recuperação menor que o verificado o resto do mundo, além de impostos e exigências de depósitos compulsórios mais altos. Ele admitiu que é preciso também "trabalhar a questão da concorrência" no mercado bancário.

Ilan citou que os calotes a bancos no ano passado causaram um prejuízo de R$ 125 bilhões. Ainda assim, as instituições registraram um lucro de R$ 80 bilhões em 2016. "Ou seja, o bom pagador paga taxas maiores para compensar os maus pagadores. Temos que defender os bons pagadores", avaliou.

Segundo ele, quando existem garantias as taxas de juros podem ser muito menores. Por isso, ele citou instrumentos como Letra Imobiliária Garantida (LIG), que está em audiência pública e pode melhorar o financiamento de longo prazo. "O cadastro positivo também é um instrumento nesse sentido, mas hoje é uma lista incompleta. Por isso propomos que a entrada no cadastro seja automática", completou.

Ele elencou ainda a ação do BC em "fazer uma limpa" nos compulsórios, mas admitiu que ser difícil reduzir os impostos para o setor em um contexto de ajuste fiscal.

Por fim, reconheceu ser preciso incentivar que os grandes bancos concorram entre si, e com os pequenos e médios, inclusive com as cooperativas de crédito. "Existem muitos bancos pequenos e médios e temos que dar condições para que eles concorram. Segmentamos os bancos em cinco camadas e, quanto mais complexo for o banco, mais exigências e regulação haverá. A única coisa que não pode é aumentar o risco do sistema", afirmou, citando que iniciativa também está em consulta pública.

O presidente do BC criticou ainda o fato de o Brasil ser o único país do mundo que depende de decreto presidencial para autorizar entrada e saída de bancos estrangeiros do mercado nacional. "Podemos facilitar isso, passando essa atribuição para o Banco Central. Quem quiser vir para o nosso sistema poderá vir e será bem vindo", afirmou.

Ele relatou que apesar de bancos de países avançados estarem saindo do Brasil, há instituições de países emergentes que entram. "Com a economia se recuperando e o risco caindo, isso vai incentivar mais bancos a entrarem no Brasil. Claro que há um tempo de defasagem, mas a tendência é por aí", concluiu.

Câmbio

Ilan Goldfajn disse ainda que a autoridade monetária permite a livre tendência do mercado de câmbio, mas isso não impede a instituição de realizar uma drástica redução do estoque de contratos de swap cambial. Ao todo, disse, a estratégia teve efeito equivalente à compra, pelo BC, de US$ 90 bilhões do mercado. "O estoque de swap caiu de US$ 108 bilhões para US$ 18 bilhões no fim de março. Isso significa que o BC acabou comprando esses US$ 90 bilhões de diferença. Deixamos a tendência do sistema funcionar, mas estamos reduzindo o estoque de swap, o que significa comprar dólar ao longo do tempo", afirmou.

Ele explicou aos senadores que o câmbio no Brasil tem oscilado conforme "variáveis fundamentais". O presidente do BC lembrou que o real se desvalorizou durante a crise recente, mas tem se valorizado conforme a dissipação do risco Brasil. Mais recentemente, o real voltou a se valorizar alinhado com a alta do preço das commodities. "O câmbio reflete essas variáveis fundamentais", disse. "Mas é claro que taxa de câmbio não agrada sempre a todos."

O presidente do BC citou ainda que a volatilidade implícita do mercado de câmbio no Brasil dos últimos meses tem sido uma das menores da história.

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