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Brasil precisa 'arrumar casa' para reencontrar caminho do crescimento, diz Fraga

13:30 | 01/11/2016
O ex-presidente do Banco Central (BC) e atual sócio da Gávea Investimentos, Armínio Fraga, disse nesta terça-feira, 1º de novembro, que o Brasil precisa dar uma arrumada na casa para reencontrar o caminho do crescimento.

Esse arrumar de casa, de acordo com ele, passa pela arrumação da área micro da economia, corrigindo distorções do sistema tributário. Também, pela macroeconomia, para aos poucos ter uma taxa de juros mais normal e, com isso, passar a não depender das taxas de juros subsidiadas do BNDES.

"Com a queda da taxa de juros aos poucos poderemos ir substituindo as taxas do BNDES por taxas de mercado a taxas mais baixas e trabalhar com spreads bancários mais baixos", disse Fraga.

Ele disse que o spread bancário caiu de 52%, quando ele começou um trabalho no BC, para 30%, mas que continua ainda sendo uma taxa muito elevada. "O Brasil hoje precisa dar uma arrumada na casa para achar um caminho de crescimento. O mais natural seria começar pela infraestrutura porque é a área mais carente do Brasil", disse, acrescentando que apesar de ser muito complicada, a infraestrutura está pronta para receber investimentos se considerar que a indústria não vai investir diante do elevado nível de ociosidade de suas plantas.

Disciplina fiscal

Do governo Fernando Henrique Cardozo ao governo de Dilma Rousseff o Brasil sofreu uma perda de disciplina fiscal da ordem de 6 pontos porcentuais do Produto Interno Bruto (PIB), disse Fraga. O cálculo do economista considera o superávit primário da ordem de 3% em boa parte do governo de Fernando Henrique Cardozo e durante o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a situação atual de déficit.

"Essa perda pode ser decomposta por 3 pontos porcentuais pelo aumento de gastos e metade por perda de receita. E a perda de receita, por sua vez, foi metade por desonerações e metade foi recessão", disse Fraga.

"Na minha cabeça, três quartos foram gastos e um quarto foi recessão. Desse um quarto de recessão, 1,5 ponto do PIB, na medida em que a economia se recupere, nós vamos recuperar. O restante será pela redução dos gastos. Não é à toa que estão focando agora na contenção dos gastos por meio da PEC 241", disse o ex-BC. De acordo com ele, a causa desse "catastrófico cenário fiscal" foi o crescimento na dívida que hoje se mostra o maior desafio para o Brasil.

Fraga lembra que a dívida pública hoje no Brasil está em mais de 70% do PIB, o déficit primário está m torno de 3% do produto e ainda por cima o País tem uma taxa de juro muito alta para qualquer padrão internacional. "Mesmo que as reformas sejam aprovadas (a PEC 241 e uma reforma da Previdência razoável) -e eu acredito que serão-, a relação divida/PIB do Brasil vai a 90%. Então é um quadro delicado", disse o ex-BC.

Juros

O ex-presidente do Banco Central defendeu durante palestra que para o Brasil arrumar a casa, reencontrar o caminho do crescimento, a taxa de juro terá de cair. "Não se sabe onde começou e, eu diria, o porquê dessa taxa de juro no Brasil ser tão alta. É verdade que nós temos problemas fiscais, tivemos problemas de balanço de pagamentos, etc, mas recentemente houve um desvio de rota, que eu acho que foi por um problema de risco, mas o nível é muito alto", criticou.

"Eu tenho a esperança de que um país que arrume a casa, que fique com a situação fiscal em dia, que tem um sistema bancário saudável, que tenha uma taxa de poupança um pouco mais alta, deveria melhorar a taxa de juros", disse Fraga. Ele lembra que o Brasil vinha numa tendência de redução de juros - fazendo a ressalva de que a queda de 2012 foi forçada - mas lamenta que o País tenha se desviado de uma rota de afrouxamento monetário que era global.

Fraga afirmou ainda que muito da elevada taxa de juros no País tem a ver com o que acontece com o câmbio. "Muitas vezes chegamos perto de reduzir o juro, mas não deu. No início do governo FHC, o câmbio estava fixo e defasado, porque foi o único jeito de acabar com a hiperinflação. Eu achava que o juro fosse cair muito naquele período. Caiu de 20% para 10% e começou a cair, cair, cair, mas veio crise, crise e crise e aí o câmbio acompanhou", disse.

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