Entenda como alta na Selic impacta os investimentos, as dívidas e compras no Brasil

Décima alta consecutiva na taxa básica de juros impacta investimentos e aumenta rentabilidade de algumas modalidades, mas complica vida do consumidor brasileiro

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central subiu em um ponto percentual a taxa básica de juros do Brasil, a Selic. Com o reajuste, sendo o décimo aumento consecutivo, o percentual de juros saiu de 11,75% para 12,75%. A elevação impacta diretamente na vida dos brasileiros e deve beneficiar alguns investimentos, mas dificultar a vida financeira daqueles que possuem dívidas.  

O POVO explica abaixo o impacto real da elevação de juros na vida dos consumidores; confira:

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O que muda com a taxa de juros em alta?

Os efeitos do maior índice em cinco anos levam à restrição do consumo, maior cautela nos investimentos e ainda retração pelas empresas, o que traz impactos sobre emprego e renda em todo o País. Os impactos serão negativos e mais intensos para aqueles que acumulam dívidas e possuem longos financiamentos. 

O cenário é de alerta já que mais de 12,5 milhões de pessoas estão endividadas no Brasil. Número total corresponde a 12.518.169 de brasileiros, representando 76,6% das famílias do País. O grau de endividamento registrado é o maior nos últimos 12 anos, conforme revela a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), divulgada no 3 de março, pela Confederação Nacional do Comércio (CNC).

 

Como a Selic é a taxa básica de juros do Brasil, qualquer variação dela afeta os percentuais de juros praticados pelas instituições financeiras em atividades no País. Assim, quem precisar comprar parcelado vai pagar um volume maior de juros e pagar uma conta bem maior do que o referente ao seu próprio consumo.  

A alta da Selic pode ainda aumentar os juros de dívidas com o cartão de crédito, cheque especial, crediário, empréstimos, entre outros financiamentos a média e longo prazo. De modo geral, o poder de compra da população é reduzido ainda mais e dívidas com várias prestações cuja taxa de juros não é fixa podem ter uma hiperinflação no valor final do débito.

"O momento é de muita cautela e precaução, pois a saúde financeira e a realização dos sonhos das famílias dependerão dessa conscientização. É preciso reestruturar o orçamento financeiro e assumir o controle da situação, antes que se torne insustentável", avalia Reinaldo Domingos, pós-doutor em Educação Financeira e presidente da Associação Brasileira de Profissionais de Educação Financeira (Abefin). 

Como a Selic a 12,75% afeta a poupança?

A poupança é a linha de investimento de renda fixa mais buscada pelos brasileiros, especialmente por aqueles com menor renda mensal. Ainda que influenciada pela Selic, como forma de minimizar perdas e garantir uma maior segurança no investimento, o Governo Federal criou ainda em 2012, uma nova metodologia de cálculo do rendimento da poupança. 

Com a mudança, ficou fixado que o rendimento seria devido com base na Selic mais a a Taxa Referencial (TR) — que é uma taxa de juros atualizada todos os dias pelo Banco Central, servindo como base de rentabilidade de diversos investimentos.

Desse modo, se a Selic estiver em patamar igual ou inferior a 8,5%, o rendimento da poupança será de 70% da Selic mais a TR, porém, caso a Selic ultrapasse esse patamar, deverá ser considerado o rendimento fixo de 0,5% ao mês e de 6,17% ao ano. Logo, a caderneta não deverá sofrer grandes impactos, nem positivo, nem negativos da alta da Selic. 

Alta da Selic e a rentabilidade dos investimentos:

Com a alta de Selic, os investimentos de renda fixa, sejam títulos públicos ou privados, atrelados a taxa básica de juros, se tornam mais rentáveis e atraentes, já que possuem a segurança da rentabilidade fixa. Exemplos de aplicações que são influenciadas diretamente pela Selic e apresentam maior rentabilidade com juros em alta são:

  • Linhas de investimentos do Tesouro Direto
  • Certificado de Depósito Bancário (CDB) pós-fixados
  • Debêntures (títulos emitidos por empresas para financiar seus projetos e operações)
  • Letras de Crédito Imobiliário (LCI)
  • Letras de Crédito do Agronegócio (LCA)
  • Letras Financeiras do Tesouro (LFT)
  • Fundos DI

"É hora de repensar os investimentos, pois até pouco tempo atrás com a queda da taxa Selic a recomendação era para buscar linhas que não estavam atreladas a essa. Agora essa orientação muda. O que não significa que, quem tem um dinheiro em mãos para investir, deve colocar integralmente nessas modalidades", alerta Reinaldo. 

O momento pede cautela redobrada e, acima de tudo, planejamento. A aplicação a ser escolhida, além de considerar a rentabilidade e segurança do investimento precisa ponderar a evolução do título ao longo do tempo. 

No atual cenário global, investimento de rendas variáveis se apresentam instáveis, fortemente influenciados pelas tensões políticas ao redor do mundo e também pela inflação global em decorrência da guerra entre Rússia e Ucrânia no leste europeu. Porém, títulos privados em geral enfrentam momentos de queda e de expressiva recuperação e crescimento posteriormente.

Investimentos guiados pela Selic, porém, tem data certa para reajustes, sendo definidos em cada reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central. A próxima, inclusive, já está marcada e deve ocorrer entre os dias 14 e 15 de junho deste ano.

O Comitê, porém, já expressa tendência de novas altas na taxa Selic com elevação de 0,5% já na próxima reunião. Não há perspectiva de redução na taxa antes de 2023, ainda assim, conforme projeções do próprio Banco Central, a redução esperada deve estabilizar os juros no patamar de 8% ao ano. 

“Entendo que Renda Fixa e Variável são formas distintas de aportes, a alta nas taxas de juros levam muitos investidores a sair da volatilidade da Variável e ir para a Fixa, no entanto se a Selic sobe é porque a inflação está alta e se a descontarmos do ganho da Renda Fixa, teremos o ganho real, que pode não ser tão expressivo quanto a taxa contratada”, explica Paulo Saad, sócio da WFlow, empresa especializada em assessoria de investimentos credenciada à XP investimentos.

Nesse cenário, Reinaldo argumenta que o principal é se ater ao tipo de investimento a ser feito. Para aqueles de curto (até um ano) e médio (de um a dez anos) prazo, aplicações em renda fixa, atrelados a Selic e com rendimentos pós-fixados se tornam mais atrativos e seguros. Porém, para aplicações à longo prazo, o momento pode ser ideal para aquisição de novas ações e títulos de investimento variável já que estes enfrentam instabilidade e baixa nos preços atualmente.  

Como ficam os rendimentos líquidos dos investimentos com a Selic a 12,75%?

Para aplicações com retorno em 1 mês:

  • CDB com rendimento de 104% do (Certificado de Depósito Interbancário) - passa a render 0,88%
  • Fundo DI com 100% do CDI - passa a render 0,84%
  • CDB com 100% do CDI - passa a render 0,84%
  • Tesouro Direto abaixo de R$ 10 mil - passa a render 0,85%
  • Tesouro Direto acima de R$ 10 mil - passa a render 0,84%
  • Poupança - passa a render 0,61%

Para aplicações com retorno em 6 meses:

  • LCI/LCA com 90% do CDI - passa a render 5,76%
  • CDB com 104% do CDI - passa a render 5,34%
  • Fundo DI com 100% do CDI - passa a render 5,13%
  • CDB com 100% do CDI - passa a render 5,13%
  • Tesouro Direto abaixo de R$ 10 mil - passa a render 5,19%
  • Tesouro Direto acima de R$ 10 mil - passa a render 5,14%
  • Poupança - passa a render 3,71%

Para aplicações com retorno em 1 ano:

  • LCI/LCA com 90% do CDI - passa a render 11,57%
  • CDB com 104% do CDI - passa a render 11,12%
  • Fundo DI com 100% do CDI - passa a render 10,61%
  • CDB com 100% do CDI - passa a render 10,67%
  • Tesouro Direto abaixo de R$ 10 mil - passa a render 10,80%
  • Tesouro Direto acima de R$ 10 mil - passa a render 10,69%
  • Poupança - passa a render 7,57%

Para aplicações com retorno em 2 anos:

  • LCI/LCA com 90% do CDI - passa a render 21,49%
  • CDB com 104% do CDI - passa a render 21,44%
  • Fundo DI com 100% do CDI - passa a render 20,26%
  • CDB com 100% do CDI - passa a render 20,52%
  • Tesouro Direto abaixo de R$ 10 mil - passa a render 20,81%
  • Tesouro Direto acima de R$ 10 mil - passa a render 20,56%
  • Poupança - passa a render 15,58%

Fontes: Trading Eeconomics, Banco Central do Brasil, Associação Brasileira de Profissionais de Educação Financeira (Abefin), WFlow assessoria financeira da XP investimentos 

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