Greenpeace acusa Londres de ignorar acordo climático para garantir comércio com Austrália
O Reino Unido apresentou em junho o acordo comercial com a Austrália, que elimina as tarifas comerciais entre os dois países. John Sauven, diretor executivo do Greenpeace no Reino Unido, afirma que o pacto tem um alto custo ambiental
A organização ambientalista Greenpeace acusou o governo britânico de mentir para o público, após tomar conhecimento de mensagens vazadas que mostrariam que Londres voltou atrás em seus compromissos climáticos para garantir um acordo comercial com a Austrália.
O Greenpeace Reino Unido revelou nesta quarta-feira que, nas mensagens, os ministros britânicos Liz Truss, David Frost e Kwasi Kwarteng "são nomeados como tendo concordado em excluir referências aos compromissos de temperatura no Acordo de Paris sobre o clima para garantir a aprovação do acordo comercial com a Austrália". Em resposta, Londres insistiu em que "não assinará acordos comerciais que comprometam nossas altas proteções ambientais".
É + que streaming. É arte, cultura e história.
O primeiro-ministro Boris Johnson prometeu em carta a ONGs ambientalistas que o acordo com a Austrália "incluirá um capítulo sobre comércio e meio ambiente que não apenas reafirma os compromissos com os acordos ambientais multilaterais, incluindo o Acordo de Paris, mas também compromete ambas as partes a colaborar em matéria climática e ambiental". O Greenpeace, no entanto, afirmou que "detalhes das mensagens vazadas mostram que o que Boris Johnson escreveu na carta é mentira".
"A realidade dos planos do governo de ignorar os compromissos de temperatura do Acordo de Paris destrói completamente a confiança no governo como anfitrião da próxima reunião de cúpula climática da ONU, a COP26", acrescentou a organização.
A reunião, de 12 dias, será realizada em novembro, em Glasgow, Escócia. Ela é vista como um passo crucial para a definição de novas metas de emissões, a fim de conter as mudanças climáticas. A Austrália, no entanto, recusou-se a aprovar uma meta de emissão zero e é um dos maiores exportadores mundiais de combustíveis fósseis.
O ministro do Comércio australiano, Dan Tehan, disse que o acordo de livre-comércio com o Reino Unido "incluirá compromissos em vários temas ambientais", sem citar as metas de temperatura. Ele acrescentou que os dois países concordaram em trabalhar juntos na pesquisa da redução de emissões e no desenvolvimento de tecnologias de hidrogênio limpo, pequenos reatores modulares e captura de carbono.
O Reino Unido apresentou em junho o acordo comercial com a Austrália, que elimina as tarifas comerciais entre os dois países. Mas John Sauven, diretor executivo do Greenpeace no Reino Unido, afirma que o pacto tem um alto custo ambiental.
"O governo britânico cedeu à Austrália em matéria climática, o que se soma à lista de problemas desse acordo comercial em matéria de alimentos e agricultura", apontou Sauven, observando que a Austrália ainda usa métodos de crescimento hormonal proibidos no Reino Unido desde 1998.
A Austrália "continua a usar 20 pesticidas que não são mais usados aqui. Nenhum alimento que utilize métodos banidos do Reino Unido deveria ser importado", criticou o diretor.
Dúvidas, Críticas e Sugestões? Fale com a gente