C6 quer 'divórcio' da TIM, sua sócia, mas operadora não concede separação

A lua de mel durou pouco. Um ano após firmarem parceria para captação de clientes em troca de ações, o C6 Bank e a TIM entraram em um processo que pode resultar no fim do casamento. O Estadão/Broadcast apurou que o C6 encaminhou à TIM, há algumas semanas, uma notificação pedindo a rescisão do contrato. A resposta da tele foi um "não", acompanhado de uma liminar judicial garantindo a manutenção do acordo.
Sem entendimento entre as partes, a TIM decidiu recorrer à arbitragem para assegurar que o contrato continue de pé. O processo corre no Centro de Arbitragem e Mediação da Câmara de Comércio Brasil-Canadá. Enquanto não há desfecho da arbitragem, o contrato entre as partes continua vigente graças ao efeito da liminar.
O que está em jogo é uma parceria firmada em março de 2020, pela qual os clientes da tele que abrem uma conta no C6 ou pagam suas recargas e faturas por lá ganham bônus no pacote de dados. É uma forma de incentivo para aumentar a base de usuários no banco digital. Em troca, a operadora recebe ações do C6. A fatia no bolo aumenta à medida que a tele encaminha clientes para o parceiro.
O Estadão/Broadcast apurou que a TIM pode atingir até 14,5% no C6. Com um detalhe precioso: a tele não pode ser diluída em caso de potenciais aumentos de capital ou entrada de novos sócios - algo sensível para o banco, que vislumbra uma abertura de capital em Bolsa no futuro.
Desde o começo do acordo, 3 milhões de usuários da operadora já abriram contas no C6, o que representa um terço do total de seus 9 milhões de clientes. Isso já garantiu à tele 2,9% na instituição financeira. Mantido o ritmo atual, de 400 mil clientes convertidos por mês, a operadora pode atingir a fatia de 14,5% em cerca de três anos.
Aos olhos do C6, a sócia não está mobilizando todos os investimentos para fazer impulsionar a parceria. Apesar do ganho de 3 milhões de contas, o movimento estaria muito abaixo do potencial, pois a operadora tem 50 milhões de clientes no País.
A escala é um passo vital na estratégia de crescimento do C6, banco digital jovem, fundado em 2018 pelo empresário Marcelo Kalim, e que até a metade do ano passado contava com 2 milhões de clientes.
Para as fintechs - startups do ramo financeiro -, a escala é necessária como forma de diluir os custos das operações. Essas empresas não têm lojas físicas e, em geral, se diferenciam dos "bancões" por não cobrarem tarifas por manutenção de conta ou cartões. A tática é ganhar dinheiro com os juros das operações de crédito e outros serviços.
Já a TIM não quer nem ouvir falar em rescisão de contrato porque o negócio está se revelando extremamente lucrativo. No último trimestre, a companhia pagou R$ 12,4 milhões pelo direito de subscrição de 2,9% de ações no C6 - ativo contabilizado no balanço a R$ 323 milhões.
A parceria ficou ainda mais atrativa depois de o banco americano de investimentos JPMorgan comprar 40% do C6, por cerca de R$ 10 bilhões, segundo apurou a reportagem - o que implica valor de mercado de R$ 25 bilhões para o C6. Portanto, se a TIM chegar a 14,5% de participação no negócio, isso representaria R$ 3,6 bilhões.
Com as receitas de telecomunicações estagnadas, as operadoras têm buscado parcerias para usar sua gigantesca base de clientes como vitrine na venda serviços de outros setores, em troca de comissões ou ações. A TIM fechou este mês acordo com a Kroton para a criação de uma empresa de cursos a distância.
Procurados, TIM e C6 disseram que não comentam a arbitragem. A TIM informou, em seu balanço, que o processo de arbitragem servirá para discutir a "interpretação de determinadas cláusulas dos contratos que regem a parceria".
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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