Efeito GameStop volta a causar apreensão nos mercados pelo mundo
O mercado continuou reagindo com apreensão ao movimento em que investidores amadores, que fizeram a ação da varejista de jogos americana GameStop disparar e acabaram pressionando megainvestidores nos últimos dias. As Bolsas de Nova York tiveram forte baixa ontem, com o estresse diante do medo de ataques especulativos, por parte desses pequenos investidores nos Estados Unidos.
Em uma sessão de quedas generalizadas, o índice Dow Jones fechou em queda de 2,03%, a 29.982,62 pontos. O S&P 500 caiu 1,93%, para 3.174 pontos. Já a Nasdaq, que concentra as papéis das maiores empresas de tecnologia do mundo, caiu 2%, aos 13.070,69 pontos.
Na Nasdaq, as big techs Alphabet (dona do Google), Amazon, Apple, Facebook e Microsoft se desvalorizaram. Por outro lado, no centro do ataque contra fundos de hedge (multimercado) de Wall Street, as ações da GameStop tiveram ganhos de 1.600% no mês e da AMC Entertainment, acima de 500%.
A alta nos papéis da GameStop aconteceu com a ação dos investidores individuais, do chamado dumb money ("dinheiro burro", na expressão em inglês, em referência à falta de experiência deles). A especulação de investidores de varejo que são membros da rede social Reddit fez com que os preços das ações das empresas disparassem, o que gerou perdas a vários fundos de hedge que apostavam na queda dos papéis.
A BK Asset Management disse, em relatório, que o sistema financeiro "não está preparado" para lidar com variações diárias tão grandes. A gestora avalia que a queda nas bolsas e um avanço em retornos de bônus sugerem que investidores ficaram preocupados com a perspectiva de "risco sistêmico".
Ontem, a corretora americana Robinhood Markets voltou a afrouxar as restrições à negociação desses papéis, assim como os de outras empresas envolvidas no movimento especulativo. A plataforma havia sido criticada durante a semana por colocar restrições aos negócios.
Já o responsável pela corretora WeBull Financial, Anthony Denier, afirmou que a empresa não restringe "nenhuma negociação", em referência aos recentes movimentos especulativos em papéis como o da GameStop, o que levou outras instituições financeiras a impor limites às ações de seus clientes.
"Agiremos para proteger os investidores de varejo quando os fatos demonstrarem atividade comercial abusiva ou manipuladora proibida pelas leis federais de valores mobiliários", disse a SEC (principal regulador financeiro dos Estados Unidos) em comunicado, ontem, prometendo analisar as ações tomadas pelas corretoras.
Brasil
Após forte alta, diante da tentativa de simular o movimento ocorrido nos EUA com a ação da varejista de jogos GameStop, as ações do IRB Brasil Re (empresa de resseguro) caíram. O papel chegou a ter negociações interrompidas ao menos oito vezes. Segundo a B3, foi para reduzir a volatilidade.
Depois de uma arrancada de quase 18% no dia anterior, resultado de um movimento coletivo coordenado via redes sociais por pequenos investidores brasileiros, as ações ordinárias da IRB Brasil Re caíram 6,13%.
Após um movimento de investidores brasileiros, inspirado no caso da GameStop gerar um salto nas ações do IRB, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) divulgou um alerta ao mercado ontem, afirmando que "a atuação com o objetivo deliberado de influir no regular funcionamento do mercado pode caracterizar ilícitos administrativos e penais".
O órgão regulador do mercado de capitais também afirma que tem monitorado os movimentos no mercado e as comunicações nas redes sociais e que, na presença de indícios e conforme exige a lei, cuidará da instauração de um processo administrativo para a apuração das responsabilidades, bem como para a comunicação ao Ministério Público para a devida atuação na esfera penal.
A CVM diz, ainda, que o chamado squeeze - que pode se configurar em situações nas quais um ou mais investidores provocam artificialmente a alta do preço de valores mobiliários, para assim causar prejuízos a terceiros ou obter benefícios indevidos - é uma das modalidades de manipulação.
Os temores despertados pela polêmica levantada de uma suposta manipulação de preços do IRB, além das incertezas políticas internas, tiveram impacto no movimento do mercado ontem. Assim, o Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, fechou com uma queda de 3,21%, aos 115.067 pontos.
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