Ferreira sai por resistência à capitalização da empresa

Diante da dificuldade para aprovar a capitalização da Eletrobrás, o presidente da estatal, Wilson Ferreira Júnior, renunciou na noite de domingo ao cargo. Ontem, o executivo confirmou a sua ida para a presidência da BR Distribuidora, no lugar de Rafael Grisolia. Ferreira Júnior vai, porém, permanecer no Conselho de Administração da companhia de energia e se comprometeu a ficar no comando da empresa até 5 de março. A data da entrada na BR, porém, vai depender de se terá de cumprir quarentena, como ocorre com todo servidor público que vai para uma empresa privada. Em alguns casos, o período pode ser de até seis meses.

"O que ficou faltando fazer na Eletrobrás foi aumentar a capacidade de investimentos. Se eu não consigo ter uma perspectiva para o processo acontecer, a minha função fica perdida", disse a jornalistas em entrevista online, avaliando que o seu sucessor pode vir da própria empresa.

Ferreira Júnior assumiu a presidência da Eletrobrás em 2016, com a missão de capitalizar a principal holding do setor elétrico. A companhia é responsável por 40% da geração de energia elétrica do País e quase metade das linhas de transmissão. Na época, a empresa registrava alto endividamento e sucessivos prejuízos, o que foi revertido pelo executivo. O quadro de empregados foi reduzido: saiu de 26 mil pessoas para 12 mil em 2020.

O projeto de lei de capitalização da Eletrobrás enfrentou desde o início a resistência de parlamentares. Sofreu novo revés no fim da semana passada. Foi quando o senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG), que concorre à presidência do Senado, afirmou que a venda da empresa não era prioridade da Casa. Diante do impasse, Ferreira Júnior afirmou na coletiva online, horas após a renúncia, que o processo se tornará ainda mais difícil nos próximos anos, com a proximidade das eleições.

O executivo afirmou ter tido o apoio dos ministros da Economia, Paulo Guedes, e de Minas e Energia, Bento Albuquerque.

Bolsonaro

Destacou, porém, que para o processo avançar seria desejável maior participação do presidente Jair Bolsonaro: "Para ter o reforço dessa mensagem (de capitalização), é importante que Bolsonaro se envolva."

A politização da venda da Eletrobrás foi o principal fator da saída de Ferreira Júnior, na opinião do professor Nivalde de Castro, coordenador do Grupo de Estudo do Setor Elétrico (Gesel) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Segundo ele, a fragilidade política do governo está impedindo a venda da estatal, e a vaga deixada deve ser ocupada por algum membro do Centrão. O grupo parlamentar, conservador e de baixa nitidez ideológica, se aproximou mais do governo no ano passado.

Para a economista, advogada e sócia do Sérgio Bermudes Advogados, Elena Landau, o processo de privatização da Eletrobrás começou errado e a saída de Ferreira Júnior não muda nada. Ex-diretora do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), ela avalia que o principal erro foi dar ao Congresso o poder de escolher o modelo de capitalização. "O processo foi errado desde o início, porque deu ao Congresso o poder de definir o modelo, isso nunca aconteceu na privatização. Só tinha de pedir ao Congresso para incluir de volta no PND (Programa Nacional de Desestatização), não tem de discutir tudo com o Congresso."

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