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Coronavírus e crise ambiental reduzem investimentos estrangeiros no Brasil, contrariando discurso de Bolsonaro

Incertezas com a economia global e preocupações quanto às políticas de meio-ambiente do governo Bolsonaro motivam menor injeção de capitais e até retirada de valores do País
23:56 | Set. 23, 2020
Autor O Povo
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Tipo Notícia

O volume de investimentos estrangeiros no Brasil tem reduzido em ritmo similar ou superior ao de outros países. A constatação contradiz afirmações do presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), em discurso na Assembleia Geral das Nações Unidas, na terça-feira, 22.

Em sua fala, Bolsonaro afirmou que houve aumento nos investimentos estrangeiros no primeiro semestre de 2020, comparado ao mesmo período de 2019. Dados do Banco Central (BC), no entanto, mostram que o valor nos primeiros seis meses do ano foi de US$ 22,8 bilhões, queda de 26,6% dos US$ 31,1 bilhões registrados nos meses de janeiro a junho do ano passado.

Outros indicadores também mostram retração no aporte de capitais do exterior. A fuga de dólares, faturamento obtido por empresas estrangeiras que operam no Brasil, mas decidem enviar o dinheiro às matrizes em vez de reinvestir no País, foi de US$ 15,2 bilhões entre janeiro e agosto. É o maior valor registrado desde quando o BC começou a coletar esse dado, em 1982.

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No mercado de ações, a situação também mostra receio de investidores estrangeiros em manter dinheiro no Brasil. Em todo o ano de 2019, este grupo retirou R$ 44,5 bilhões da Bolsa de Valores. Em 2020, até a metade de setembro, já foram quase R$ 90 bilhões em ações vendidas e dividendos liquidados, que não retornaram como aplicações no País. Também para este indicador, é o pior valor da série histórica, que começou em 2008.

Os impactos não se restringem ao Brasil. A economia mundial deve ter retração de 3,8% em 2020, devido à pandemia de coronavírus - a doença já infectou mais de 32 milhões de pessoas no mundo, com quase 1 milhão de falecimentos; No Brasil, são mais de 4,6 milhões de infectados e quase 140 mil óbitos.

Outros aspectos, no entanto, também têm influenciado na situação do País. A crise ambiental, com constantes desmontes nos órgãos governamentais que atuam na área e aparente inércia do Governo Federal em atuar contra a destruição de ecossistemas do País, tem afetado a imagem do Brasil no exterior. O discurso de Bolsonaro na Assembleia da ONU recebeu, neste sentido, críticas de diversas organizações ambientalistas, do governador de São Paulo, João Doria Jr (PSDB), e até mesmo do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso.

Até mesmo pecuaristas, que formam parte da base de apoio de Bolsonaro, têm registrado prejuízos com as queimadas que assolam o Pantanal há meses. Segundo o próprio presidente do BC, Roberto Campos Neto, a sustentabilidade deverá ser um mote para guiar investimentos no País. Entre os riscos à injeção de capital estrangeiro no Brasil, o governo da Alemanha afirmou ter preocupação com o desmatamento, e que este ponto pode ser decisivo na formação de um acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul. 

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