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Análise: o que pode afetar o desenvolvimento socioeconômico do Brasil

Em artigo enviado ao O POVO, o economista Gilberto Barbosa, sócio do Escritório Arêa Leão, fala sobre o choque econômico causado por medidas no País em tempos de pandemia
13:38 | Mai. 21, 2020
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Tipo Opinião

Enquanto o Brasil vive uma crise seríssima de Covid-19, já figurando como o sexto país no mundo em número de casos oficiais, estamos vivendo uma situação política complicada e as expectativas com relação a economia não são boas.

Nas últimas semanas, observamos uma série de indicadores econômicos no Brasil e no mundo que mostram a gravidade do choque econômico causado pelas medidas de lockdown para conter a pandemia. Nos Estados Unidos, a taxa de desemprego já bateu 14,7% (no pico da crise de 2008 esse número foi de 10%) e no Brasil não deve ser diferente.

É provável que a economia brasileira contraia mais de 10% no segundo trimestre desse ano e, assumindo que vamos começar a sair gradualmente do lockdown a partir do terceiro trimestre, o Produto Interno Bruto (PIB) no ano deve contrair algo entre 5% e 7% e o desemprego pode se aproximar de 18%.

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Em linha com o resto do mundo, tanto o Governo Federal quanto o Banco Central (BC) estão adotando medidas para estimular a economia e aumentar a liquidez dos mercados.

O BC cortou a Selic em 0,75% na última reunião do Copom, surpreendendo o mercado e deixando a porta aberta para um novo corte de 0,75% na próxima reunião, o que pode levar a Selic para 2,25% a.a.

Além disso, foi aprovada recentemente no Congresso Nacional a possibilidade do BC comprar diretamente títulos públicos e privados no mercado, com o objetivo de proteger o país de uma crise de crédito e de uma depressão econômica.

Do lado do Governo, vimos uma injeção de 5,5% do PIB em medidas de estímulo fiscal, que devem levar a dívida do setor público para o patamar de 93% do PIB. Adicionalmente, o pacote de ajuda aos estados e municípios está sendo costurado no Congresso.

Piora nas contas públicas

O pacote tem gerado animosidade na equipe econômica, principalmente no tocante ao reajuste dos servidores e, caso o auxílio emergencial aos trabalhadores informais seja estendido até o fim do ano, devemos ver uma piora ainda mais expressiva das contas públicas.

Finalmente, adicionando um sério componente de incerteza, também estamos vivendo uma crise institucional ligada à saída do ministro Sérgio Moro, que acusa o presidente Jair Bolsonaro de tentar interferir na PF para proteger sua família.

Com isso, não é surpresa que os mercados brasileiros tenham performado muito mal em comparação aos seus pares. O real é, disparadamente, a moeda que mais se desvalorizou contra o dólar, tendo desvalorizado mais de 40% no ano e se aproximado dos R$ 6, e o EWZ (referência global em dólar da bolsa brasileira) está tendo uma performance bastante inferior aos índices de outros países emergentes.

Apesar do cenário extremamente desafiador para o Brasil no curto e médio prazos, crises econômicas são eventos passageiros em um horizonte de longo prazo. Estamos vendo um esforço tremendo para o desenvolvimento de uma vacina para o Covid-19. E, com isso, devemos superar a incerteza que impede uma retomada mais pujante da atividade à medida em que a ameaça à vida das pessoas cessar.

Porém, é importante que na luta contra essa crise exista coordenação, com padrões para testes, compras de equipamentos e planos bem definidos de reabertura para retomarmos a economia sem atropelos e sem expor a população a riscos.

Precisamos evitar que decisões ruins tomadas hoje impactem negativamente nosso potencial de longo-prazo e nossa trajetória de desenvolvimento social e econômico.

Gilberto Barbosa, economista e sócio do Escritório Arêa Leão

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