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Guedes propõe venda de prédio do IBGE para bancar censo

19:14 | Fev. 22, 2019
Autor Agência Estado
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O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) poderia vender prédios onde funciona e aplicar os recursos na realização do Censo de 2020, especulou nesta sexta-feira, 22, o ministro da Economia, Paulo Guedes, sinalizando que a instituição precisará enxugar o seu orçamento nos próximos anos. Ao discursar na posse da nova presidente do órgão, Susana Cordeiro Guerra, Guedes disse também que é preciso "simplificar" o Censo - que, por lei, deve ser feito a cada dez anos - e insinuou que há má administração dos recursos, com gastos excessivos com edifícios.
"Tem um enigma ainda não resolvido por vários economistas que passaram aqui, que são três sedes, em seis prédios. Falta dinheiro para o Censo, mas o presidente fica de frente para o Pão de Açúcar", afirmou Guedes, numa referência a uma das sedes do IBGE, localizada na orla do Centro do Rio: "Quem sabe a gente vende uns prédios e, vendendo os prédios, a gente vai e coloca dinheiro para complementar e fazer o Censo."
A tesoura do ajuste fiscal ronda o Censo de 2020 desde o ano passado. Como antecipou o Estadão/Broadcast em agosto, a equipe econômica do governo Michel Temer já defendia um censo mais enxuto e, por isso, cortou os recursos para a pesquisa no orçamento deste ano. O IBGE pediu R$ 344 milhões para investir em equipamentos e software este ano, mas conseguiu R$ 240 milhões. Para 2020, a previsão é gastar R$ 3,056 bilhões para viabilizar a coleta dos dados, mas Guedes não garante o valor.
O ministro falou sobre o Censo de 2020 após o discurso de posse de Susana, economista de 37 anos com doutorado no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês) que trabalhava no Banco Mundial, nos Estados Unidos. A nova presidente do IBGE disse que, "com respaldo" de Guedes, o Censo de 2020 será prioridade, mas citou "a situação fiscal atual do País e suas dificuldades" e cobrou "criatividade e coragem", para entregar um censo "aderente às melhores práticas".
Para "simplificar" o Censo, Guedes recomendou reduzir o questionário. "Vamos tentar, pelo amor de Deus, simplificar. O censo de países ricos tem dez perguntas. O censo brasileiro tem 150. O censo do Borundi tem 360 (perguntas). Uma pessoa muito cara a mim diz que quem pergunta quer saber. Se você perguntar demais, vai acabar descobrindo, coisas que você nem queria saber", afirmou.
Desde a revelação das dificuldades em garantir o orçamento para o Censo de 2020, especialistas vêm alertando que não é simples reduzir o escopo da pesquisa. Muitos lembram que a disponibilidade de dados administrativos controlados pelo governo é menor no Brasil do que em outros países, o que exige um Censo mais abrangente.
Segundo um economista que acompanha o IBGE e pediu para não ser identificado, o Brasil tem vários problemas relacionados à pobreza que não existem em países desenvolvidos, por isso, o escopo dos dados levantados é mais abrangente.
Em nota, a ASSIBGE-SN, entidade que representa os servidores do IBGE, repudiou as declarações de Guedes. "O ministro aparenta não ter ciência plena das dimensões, dificuldades e, sobretudo, da importância da operação censitária", diz a nota.

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