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Dólar tem dia de queda, mas moeda resiste a cair abaixo de R$ 3,70; bolsa cai

18:11 | Fev. 15, 2019
Autor Agência Estado
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Tipo Notícia
Na esteira do otimismo com a reforma da Previdência e do exterior favorável, o dólar fechou em queda pelo segundo dia consecutivo nesta sexta-feira, 15, e acumulou baixa de 0,61% na semana. A moeda americana terminou a sexta-feira em R$ 3,7052 (-0,39%). Na próxima semana, os investidores vão monitorar dois eventos importantes, o envio ao Congresso do texto que muda a aposentadoria no País, previsto para o dia 20, mesmo dia em que será publicada a ata de reunião de política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), que costuma mexer com os mercados de moedas.
Na mínima, o dólar chegou a R$ 3,7002, mas não conseguiu cair abaixo deste patamar, que tem sido um nível de resistência importante nos últimos dias. Para o diretor da Wagner investimentos, José Raymundo Faria Junior, este nível pode ser considerado, no momento, uma oportunidade de compra, por isso atrai compradores e tem sido difícil rompê-lo. O último dia que o dólar fechou abaixo dessa patamar foi em 5 de fevereiro, quando terminou em R$ 3,66.
Na avaliação do sócio e gestor da Absolute Invest, Roberto Serra, o otimismo de quinta-feira prosseguiu nesta sexta, apesar de, pela manhã, o caso do ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gustavo Bebianno, ter incomodado as mesas, com temor de que a piora da crise pudesse comprometer a tramitação da reforma da Previdência. Com isso, o dólar bateu máximas, a R$ 3,7267. Serra ressalta que o foco das mesas de câmbio vai se voltar para a entrega do texto no Congresso, nas medidas completas da proposta e de como será a recepção inicial dos parlamentares. A melhora da percepção, destaca ele, indica que o mercado está vendo a entrada de fluxo do exterior pela frente.
Além do cenário doméstico, o cenário externo também contribuiu para retirar pressão do câmbio. O Credit Default Swap (CDS) de 5 anos do Brasil, derivativo que protege contra calotes e é um termômetro do risco-país, seguiu em queda nesta sexta-feira, em 163 pontos. Além disso, o índice DXY, que mede o comportamento do dólar perante uma cesta de moedas fortes, também bateu mínimas no final da tarde. O gestor da Rosenberg Asset, Eric Hatisuka, destaca que o DXY tem sido um sinalizador do apetite por risco, ou seja, quando sobe, ajuda a elevar a aversão ao risco. Quando cai, estimula a busca por ativos de emergentes, retirando pressão das moedas desses mercados.
Bovespa - O Ibovespa operou nesta sexta-feira, 15, descolado tanto do otimismo externo quanto dos demais ativos domésticos. A despeito da apreciação do real e da queda das taxas futuras ao longo da tarde, a bolsa brasileira fechou no vermelho, abaixo da linha dos 98 mil pontos, em uma realização de lucros após a disparada do índice na reta final do pregão de quinta-feira.
Com máxima de 98.237,80 pontos e mínima de 97.083,07 pontos, o Ibovespa encerrou os negócios aos 97.525,91 pontos, queda de 0,50%. Apesar da perda de fôlego nesta sexta-feira, o índice acumulou alta de 2,29% na semana e zerou as perdas no mês.
Entre as blue chips mais ligadas ao ambiente externo, os papéis PN da Petrobras caíram 0,41%, na contramão da alta superior a 2% das cotações do petróleo. Já a ação da Vale subiu 0,48%, a despeito da prisão pela manhã de oito funcionários da companhia, envolvidos na investigação sobre o rompimento da barragem de Brumadinho (MG). Entre as maiores queda do Ibovespa, estiveram as ações da Kroton (-6,21%) e da Estácio (-5,20%), abaladas pela intenção de Bolsonaro de dar início a uma "Lava Jato da Educação", para garantir que investimentos na área sejam bem aplicados.
Para o analista da Necton Álvaro Frasson, uma correção do Ibovespa era esperada, já que a alta de quinta foi muito forte e em pouquíssimo tempo, o que acabou gerando excessos. Além disso, o fato de a economia brasileira se recuperar em ritmo mais lento que o esperado - como mostrou o IBC-Br de 2018 (alta de 1,15%, abaixo da mediana de 1,30% apurada pelo Projeções Broadcast)- diminuiu um pouco o apetite dos investidores. "Com a atividade fraca e a possibilidade de revisão das projeções para o PIB, houve espaço para uma realização na bolsa", diz Frasson.
Para um experiente operador, com a proximidade do vencimento de opções de ações, na segunda-feira, e a 'gordura' acumulada na arrancada de quinta, o investidor que acabou deixando de lado o bom humor externo e certo otimismo com o possível desenlace da disputa entre Carlos Bolsonaro, filho do presidente, e o Secretário-geral da Presidência, Gustavo Bebianno. "Os movimentos na bolsa foram mais técnicos, não houve influência do componente político, como se viu no dólar e nos juros", afirma.
O Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, apurou ao longo da tarde que o presidente Jair Bolsonaro teria decidido manter Bebianno no cargo e afastar seu filho Carlos de questões relacionadas ao governo. A pacificação no Palácio do Planalto é vista pelo mercado como essencial para que haja uma interlocução fluida no Congresso. Com os negócios praticamente encerrados, a colunista Sonia Racy informou que a permanência do secretário-geral da Presidência não estava garantida. Mais cedo, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), defendeu mais uma vez a capacidade de articulação política de Bebianno e sinalizou que, caso o governo demore a resolver o imbróglio, há risco para o andamento da reforma da Previdência.
Taxas de juros - Os juros futuros encerraram a sessão regular desta sexta-feira, 15, em queda, mais acentuada na ponta longa, refletindo a repercussão positiva dos principais pontos da reforma da Previdência apresentados na quinta-feira e os sinais de manutenção do ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gustavo Bebbiano, no cargo. Os dados econômicos divulgados nesta sexta, IBC-Br e IGP-10, acabaram ficando em segundo plano. Também ajudou na desinclinação da curva o ambiente externo, dada a melhora na perspectiva de acordo comercial entre China e Estados Unidos.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2020 fechou em 6,370%, de 6,415% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2021 caiu de 7,001% no ajuste de ontem para 6,930%. A taxa do DI para janeiro de 2023 terminou em 8,02%, de 8,122%, e a do DI para janeiro de 2025 recuou de 8,662% para 8,53%.
Na quinta, o secretário da Previdência e Trabalho, Rogério Marinho, informou que o presidente Jair Bolsonaro concordou com as idades mínimas de 62 anos (mulheres) e 65 anos (homens) para a aposentadoria, com período de transição de 12 anos. A proposta garante uma economia de R$ 1,1 trilhão nas despesas. O texto completo será divulgado na próxima quarta-feira, quando será enviado ao Congresso. "Essa economia robusta agrada ao mercado, mesmo que possa ser desaguada no Congresso", disse a gestora de renda fixa da Mongeral Aegon Investimentos, Patricia Pereira.
Interlocutores do presidente afirmam que ele decidiu atender aos apelos políticos e manter Bebianno, o que é visto com alívio pelo mercado. Nesta sexta, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) voltou a defender a capacidade de articulação do ministro da Secretaria-Geral, Gustavo Bebianno, e sinalizou que, caso o governo demorasse a resolver a questão, haveria risco para a reforma da Previdência.

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