Bolsa dispara com Previdência e fecha em alta de 2,27%; dólar cai

O mercado doméstico de ações celebrou a divulgação dos primeiros pontos do projeto da reforma da Previdência do governo Jair Bolsonaro e levou o Ibovespa a subir mais de 2% e retomar o nível dos 98 mil pontos nesta quinta-feira, 14. Depois de uma manhã e início de tarde no vermelho, em meio a dados fracos do varejo nos Estados Unidos e o "caso Bebianno", o índice mudou de sinal e passou a subir a partir das 15h, com o início da reunião entre o presidente, o ministro da Economia, Paulo Guedes, e outros expoentes do primeiro escalão. O Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, havia apurado que, caso Bolsonaro batesse o martelo, as principais diretrizes da reforma seriam divulgadas. E foi o que aconteceu.
Pouco depois das 17h, o secretário especial de Previdência e Trabalho, Rogério Marinho, anunciou que o presidente havia aprovado a idade mínima de 65 anos para homens e 62 para mulheres, com período de transição de 12 anos. Não era a proposta defendida por Guedes - com idade mínima de 65 anos para todos e transição de 10 anos -, mas era melhor que o cenário aventado na quarta pelo próprio Bolsonaro em entrevista, de 60 anos (homens) e 57 (mulheres). Uma reforma considerada insuficiente para o ajuste das contas públicas poderia esvaziar o otimismo do mercado.
Segundo Luiz Roberto Monteiro, operador da corretora Renascença, o fato de a idade mínima não ter sido estabelecida na faixa inferior mostrou que Paulo Guedes mantém seu prestígio com o presidente. "O mercado comprou Guedes, e não Bolsonaro. E essa idade mínima mostra que Guedes tem força", afirma.
Com uma arrancada no fim do pregão, o Ibovespa fechou em alta de 2,27%, aos 98.015,09 pontos - cerca de 3 mil pontos acima da mínima (94.915,48 pontos). Os papéis PN da Petrobras, já em alta com o petróleo, avançaram 3,45%. Até mesmo a Vale, que passou a maior parte do dia no vermelho, ganho fôlego e subiu 0,37%. No bloco financeiro, o Banco do Brasil, único papel em alta desde o início do dia com a divulgação de resultados, liderou os ganhos (+5,11%). Outros gigantes do setor também fecharam em forte alta: Bradesco (+3,81%) e Itaú (2,66%).
Passada a euforia inicial, o mercado vai se debruçar sobre outros aspectos do projeto. Falta saber, por exemplo, se o governo pretende introduzir o sistema de capitalização. Também há dúvidas sobre a articulação com o Congresso. Não houve ainda desenlace para o caso do secretário-geral da Previdência, Gustavo Bebianno, acusado de envolvimento em esquema de candidatura laranja do PSL e desmentido pelo filho do presidente Carlos Bolsonaro em uma mensagem no Twitter replicada pelo próprio Bolsonaro. Nesta quinta, o líder do PSL na Câmara, Delegado Valdir (GO), disse que o presidente Jair Bolsonaro não tem hoje uma base no Congresso para aprovar a reforma da Previdência. As informações são de que Bolsonaro vai assinar o texto no próximo dia 20 e enviá-lo ao Congresso.
"O mercado gostou da questão da idade mínima. Mas ainda falta muito. O que está aí não é ruim, mas realmente não basta", afirma Álvaro Bandeira, economista do Modal Mais.
Dólar - Os primeiros pontos da reforma da Previdência divulgados pelo governo no final da tarde desta quinta-feira, 14, agradaram aos investidores do mercado de câmbio e o dólar ampliou o ritmo de queda, bateu sucessivas mínimas perto do fechamento e terminou em R$ 3,7198 (-0,89%). As mesas de câmbio passaram o dia focadas na reforma, mas também sem descolar dos eventos no exterior, e teve dois momentos distintos. Em dia de forte volume de negócios, o dólar subiu pela manhã e chegou a superar R$ 3,79 com preocupações de que a crise envolvendo o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gustavo Bebianno, possa comprometer o avanço da reforma. Pela tarde, a moeda americana começou a cair já na expectativa da reunião entre Jair Bolsonaro e os ministros para discutir a proposta de mudança de regras de aposentadoria e acelerou o ritmo após os anúncios, que fez os investidores desmontarem rapidamente posições mais defensivas.
Do que foi divulgado nesta tarde, o ponto que mais agradou aos investidores na proposta de reforma foi a definição da idade mínima para a aposentadoria de 62 anos para mulheres e 65 anos para homens, após um período de 12 anos de transição, de acordo com o secretário especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia, Rogério Marinho. Na proposta do governo Michel Temer, o tempo de transição era de 20 anos. O temor era de que a idade na proposta de Bolsonaro fosse menor - de 57 para mulheres e 62 para homens - como chegou a circular no meio da semana, o que acabou pressionando o câmbio, segundo o operador da CM Capital Markets, Thiago Silencio. Para ele, a definição da idade mínima junto com a economia fiscal da reforma eram os dois pontos mais aguardados pelo mercado.
Antes das declarações de Marinho, sem informações novas sobre a Previdência, operadores destacavam que investidores evitaram a montagem de apostas claras no dólar e a moeda acabou oscilando entre um intervalo de R$ 3,73 a R$ 3,79. No mercado futuro, um gestor de renda fixa destaca que o temor de que o texto pudesse vir mais desidratado levou os fundos a reduzirem nos últimos dias as posições vendidas em dólar, ou seja, que ganham com a queda da moeda americana. Somente entre quarta e o dia 11, estes investidores reduziram o estoque em quase US$ 1 bilhão, considerando o dólar futuro e cupom cambial. O estoque caiu para US$ 24 bilhões, um dos menores níveis desde dezembro. Já os estrangeiros aumentaram a posição comprada, que ganha com a alta da moeda, em US$ 900 milhões no mesmo período.
Se a reforma da Previdência passar no Congresso, o grupo financeiro holandês ING vê o dólar testando temporariamente níveis de R$ 3,30 a R$ 3,40, abaixo do valor justo da moeda de acordo com os fundamentos brasileiros - R$ 3,60 a R$ 3,70. O banco ressalta que ainda não está claro se Bolsonaro terá apoio no Congresso para aprovar um texto mais ambicioso, mesmo tendo conseguido aliados no comando das duas casas. Assim, as dúvidas sobre a tramitação da reforma devem provocar episódios de volatilidade no mercado pela frente, prevê em relatório o economista do ING em Nova York, Gustavo Rangel.
Taxas de juros - A perspectiva de que o texto da reforma da Previdência seria fechado e divulgado ainda nesta quinta-feira, 14, colocou os juros futuros em trajetória de baixa na última hora da sessão regular, renovando mínimas.
No fechamento da sessão regular, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2020 fechou em 6,415%, estável ante o ajuste de quarta, e a do DI para janeiro de 2021 caiu de 7,061% para 7,00%. A taxa do DI para janeiro de 2023 terminou em 8,12%, de 8,182%. A taxa do DI para janeiro de 2025 fechou em 8,66%, de 8,722%.

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