'Made in Brazil' perde vantagem do câmbio
No período de junho de 2014 para junho de 2016, o dólar subiu de R$ 2,20 para R$ 3,20. Se fossem feitos ajustes em relação à inflação brasileira e à americana no período, o dólar era para estar valendo R$ 2,58 no fim de junho deste ano. Na prática, a cotação de mercado (R$ 3,20) estava 24% acima do valor ajustado pela inflação (R$ 2,58). Este porcentual representa uma "vantagem" para o produto brasileiro no exterior, em função do câmbio.
O problema é que, ao se avaliar o dólar australiano e o dólar canadense no mesmo período, considerando a inflação desses países, os porcentuais eram semelhantes no fim de junho deste ano, de 25% e 20%. É como se a vantagem do Brasil tivesse desaparecido.
Os cálculos foram feitos pelo economista José Faria Júnior, diretor da Wagner Investimentos, a pedido do Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, com cotações da base de dados do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) de Saint Louis e com a inflação oficial dos países.
Como alguns índices de inflação são atualizados apenas trimestralmente, a avaliação foi feita até o segundo trimestre deste ano. Em 2015, o Brasil foi mais competitivo. No fim do terceiro trimestre do ano passado, quando os receios em torno da política e do ajuste fiscal fizeram o valor nominal do dólar ante o real disparar, a "vantagem" trazida pelo câmbio ao Brasil no mercado externo chegou a 62%, contra 31% da Austrália e 24% do Canadá. Era o paraíso para o exportador.
Ajuste
"Nesta fase de cotações mais elevadas, os exportadores aproveitaram. Isso começou basicamente a partir de julho de 2015, em meio às mudanças em torno do ajuste fiscal no governo Dilma Rousseff, que culminaram com a perda do rating do País. O dólar disparou, porque o mercado viu que a economia estava sem controle", destaca Faria Júnior. "Só que o processo de impeachment em 2016 fez o risco país diminuir e o dólar voltar ante o real. A vantagem dos exportadores foi diminuindo."
Para Faria Júnior, os exportadores brasileiros têm certa razão em reclamar, já que o efeito do câmbio sobre as exportações no ano passado quase desapareceu em 2016. Ele pondera, no entanto, que isso é comum na história econômica brasileira. "O dólar sempre fica mais alto por um período em função de uma crise. Mas aí a taxa de juros sobe, os preços das commodities se recuperam, o Brasil fica barato e os investidores voltam pra cá. O dólar acaba caindo", acrescentou.
Dólar flutuante
Para o economista Silvio Campos Neto, da Tendências Consultoria Integrada, é natural que os exportadores achem a queda do dólar ruim. "Mas o importante é que o dólar está flutuando. O Banco Central, quando faz os leilões de swap cambial reverso, para reduzir sua posição (em swaps tradicionais), está limpando a sujeira anterior."
Para parte do mercado financeiro, há chances de o dólar, no curto prazo, cair para abaixo dos R$ 3,10 ou mesmo R$ 3,00 - o que, na prática, representaria uma desvantagem cambial para as exportações brasileiras. "O Brasil passa por uma fase de reprecificação de ativos", pondera Campos Neto. "Mas avaliamos que um dólar a R$ 3,10 está fora do que sugerem os fundamentos."
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