ABDI vai aproximar indústria de startups, diz novo presidente da entidade
Em entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo", ele disse ter conversado com entidades como a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e ouvido a opinião "unânime" que a ABDI deveria ser fechada, caso não se reaproximasse da indústria.
O presidente da ABDI pretende lançar um programa, ainda em agosto, para selecionar startups que tenham projetos úteis para a indústria. "Não são só boas ideias, são coisas que estejam funcionando", frisou. E, a partir daí, fazer uma ponte com as empresas. "Hoje, elas não se falam: o pessoal das startups acha que a indústria é velha, os industriais acham que as startups só fazem jogos para videogame." A agência pretende estabelecer parcerias com grupos que apoiam startups e scaleups (empresas de médio porte), como a Endeavour, a Startup Weekend e a Wira.
Para convencer as indústrias a adotar inovações, a ideia é bancar pilotos dentro das próprias empresas "para mostrar que funciona mesmo". Os recursos para isso, explicou ele, podem vir de fundos. Ele pretende estruturar um fundo privado, inicialmente de R$ 150 milhões, para financiar essa aproximação entre a indústria e a ponta inovadora. "As indústrias importam tecnologia da China, dos Estados Unidos, da Índia, e aqui tem uma molecada fazendo a mesma coisa."
Para facilitar a aproximação, a ABDI pretende montar um escritório dentro da Fiesp. "Não adianta ficar aqui em Brasília, porque aqui não tem indústria", afirmou Ferreira.
A ABDI é subordinada ao Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC), comandada por Marcos Pereira, um bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus. O viés religioso do ministro levantou dúvidas sobre como ele comandaria a área de inovação tecnológica da pasta. "As pessoas olham o lado da igreja e não o lado gestor do ministro", minimizou Ferreira, que diz ter ligação "zero" com a Universal.
Antes de assumir a ABDI, ele presidia o conselho de administração do Confia, "o maior banco de microcrédito da cidade de São Paulo". Foi também responsável pela área de empreendedorismo da prefeitura paulistana entre 2010 e 2013, na gestão de Gilberto Kassab.
A ABDI vai defender, dentro do governo, que sejam suspensas as fiscalizações que o Ministério do Trabalho faz em indústrias com base na Norma Regulamentadora (NR)12, um conjunto de regras sobre segurança em operação de equipamentos que é duramente criticado pela indústria. "A NR12 é idiossincrática, só tem no Brasil", disse Ferreira. "Ela encarece o custo dos equipamentos em pelo menos 15%, por isso a posição da ABDI é pela suspensão da fiscalização com base na NR-12."
Ele afirmou que "há boa vontade" por parte do Ministério do Trabalho em discutir a questão. "Não se pode precarizar as condições de trabalho, mas se o custo for muito elevado a indústria vai demitir", frisou. "A posição da ABDI é em defesa da indústria nacional."
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Até há pouco tempo, funcionários da ABDI que viajavam ao exterior tinham direito a uma diária de US$ 700 ou 700 euros, dependendo da moeda, independente do destino. E viajavam de classe executiva até para destinos próximos, como Buenos Aires. Nessas viagens, algumas autoridades levavam até a secretária.
"Nem sei como gastavam isso tudo", espantou-se Ferreira, que relatou ao jornal o padrão da gastança que encontrou. As diárias já foram cortadas pela metade e os voos em classe executiva foram proibidos para deslocamentos com duração inferior a 12 horas sem interrupção.
Os gastos com pessoal da agência tomavam 60% do orçamento de R$ 92 milhões anuais. "Se fosse uma empresa privada, estaria quebrada", comentou. Com a demissão de 37 funcionários, seis deles com os mais altos salários, de R$ 25 mil por mês, a despesa baixou para 43% do orçamento e a meta é chegar a 37% até o final de agosto.
"Era um grau de aparelhamento muito grande", disse o presidente, que contou já estar sofrendo oposição dentro da agência por causa dessas medidas. "Tinha gente do PT, do PMDB, mas 80% eram ligados ao Alessandro, o 'mister Bumbum'", afirmou. Ele se referiu a Alessandro Teixeira, que ficou conhecido nas redes sociais por ser casado com a miss bumbum Miami 2013, Milena Santos. A tia de Milena trabalhava na ABDI.
Ferreira assegurou que as demissões não tiveram corte partidário. A lista, explicou ele, foi elaborada pela área de Planejamento da agência com base em critérios técnicos e administrativos. "Meu assessor de imprensa tem foto no Facebook com a Dilma", exemplificou.
Dos demitidos, 14 eram do quadro da agência e haviam passado por concurso público. Por se tratar de uma agência, esses servidores são contratados segundo as regras da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e não possuem estabilidade.
A ABDI convocou para retorno ao trabalho cinco funcionários que estão afastados há bastante tempo. "Não é por doença, é por um entendimento da agência que eles podiam ficar assim para cuidar de outras coisas da vida", comentou o presidente. "Tem gente morando nos Estados Unidos e não é para fazer doutorado nem nada parecido." Essas pessoas não recebem remuneração, mas ocupam postos sem efetivamente trabalhar para a agência.
Os cortes atingiram até as horas extras dos motoristas. "Havia muito gasto por falta de planejamento", afirmou Ferreira. "Agora, se eu fico trabalhando depois das 19 horas, meu motorista vai embora e eu volto a pé ou pego um Uber." Com isso, ele acredita que conseguirá economizar algo como R$ 100 mil a R$ 200 mil por ano.
Procurado, Alessandro Teixeira preferiu não comentar.
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