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Ilan descarta meta ajustada e diz que centro para 2017 é 'ambicioso e crível'

12:20 | Jun. 28, 2016
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O presidente do Banco Central (BC), Ilan Goldfajn, descartou nesta terça-feira, 28, qualquer possibilidade de a instituição adotar um ajuste da meta de inflação do ano que vem. Pouco depois da divulgação do Relatório Trimestral de Inflação (RTI), ele repetiu trechos de seu discurso de posse para deixar claro que não havia cogitado essa possibilidade e fez questão de enfatizar que o objetivo do BC é atingir o centro da meta de inflação de 4,5% em 2017. Segundo o presidente, o centro da meta em 2017 é "ambicioso e crível ao mesmo tempo".

Goldfajn enfatizou que a meta é ambiciosa porque o País vem de uma inflação de quase 11% em 2015, mais do que o dobro da meta. "Temos condições de atingir o centro da meta em 2017, em 18 meses", garantiu. Ele disse que muito se falou os últimos dias de metas ajustadas. "No passado, já as adotamos, e foram úteis para dar transparência, além de ajudar a ancorar as expectativas, mas não parece ser neste caso no momento", declarou.

O presidente disse que as expectativas do BC para a inflação estão em torno da meta em 2017. Ele considerou que alguns analistas consideram que pode ser um pouco acima disso. "Mesmo neste caso, a magnitude do desvio não necessita ajustar a meta. Para deixar claro: a meta de 4,50% em 2017 é o nosso objetivo."

Ao repetir parte do discurso de posse, Goldfajn disse que no regime de metas de inflação, o objetivo é cumprir plenamente a meta do Conselho Monetário Nacional (CMN), mirando seu ponto central. Ele também afirmou que os limites de tolerância servem para abrigar choques inesperados quando não se permite a volta rápida dos preços e que é fundamental o gerenciamento das expectativas no sistema de metas. Para ele, este é um "fator chave". "É importante que as expectativa indiquem no presente a trajetória de convergência para a meta em um futuro não muito distante", reforçou nesta terça novamente.

Ele voltou a acrescentar que o único alvo é o centro da meta e ressaltou a importância do adequado gerenciamento de expectativas que possam vir a levar a inflação para fora do intervalo de confiança da meta, como em 2015.

Elevação marginal

O presidente do Banco Central explicou que a diferença entre as projeções para a inflação de 2017 no RTI desta terça e na ata da última da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) se deve a mudanças nas estimativas para este ano, que serão carregadas para o próximo. Na ata publicada há 12 dias, o Copom informou que o cenário de referência do BC para 2017 previa a inflação chegando ao centro da meta de 4,5%, mas o documento desta terça mostra que o cenário agora prevê a taxa em 4,7% ao fim do próximo ano.

"Estamos com uma preocupação um pouco maior com os preços agrícolas no atacado. Acreditamos que pode demorar um pouco mais para esses preços voltarem (ao patamar anterior). Isso faz com que a projeção de 2016 suba e com que 2017 tenha uma elevação marginal", disse Goldfajn.

O presidente do BC destacou ainda que a alteração de projeções também ocorre em função do aumento da estimativa de alta dos preços administrados em 2016 (de 6,1% para 6,7%) e em 2017 (de 5% para 5,3%). "As projeções são vistas, são revistas, e vão continuar a ser feitas desse jeito. Esse é o nosso trabalho contínuo", afirmou.

Para Goldfajn, a inflação de 2015 foi elevada justamente por conta dos preços administrados, além da depreciação forte do real. "Desde então, o objetivo do regime de metas tem sido fazer a convergência da inflação de volta ao centro da meta, mas o horizonte não pode ser muito distante. Me parece que 2017 é um horizonte adequado, não muito distante do choque de 2015", completou.

O presidente do BC reforçou que, ainda que a inflação real possa ter choques e desvios ao longo do caminho, é importante que as projeções da autoridade monetária mirem o centro da meta. "No RTI já estamos muito próximos da meta para 2017 no cenário de referência (4,7%). Dentro das incertezas que vivemos, estamos dentro da margem de erro", avaliou.

Já no cenário de mercado, a estimativa do IPCA para 2017 ainda está acima do centro da meta, em 5,5%. Para Goldfajn, porém, os ajustes propostos pelo governo, se aprovados pelo Congresso, criam as condições para quedas dessas projeções no futuro. "Estamos no início de ajustes da economia que, se aprovadas, têm potencial para continuar reduzindo incertezas, com a melhora da confiança e do custo Brasil. Outras medidas estão sendo estudadas e negociadas com a sociedade, e tenho a convicção de que as projeções do BC tendem a cair", acrescentou.

Mas, questionado pelos jornalistas, Goldfajn disse que não condiciona o retorno da inflação ao centro da meta apenas às medidas fiscais. "As medidas fiscais não são o único fator. Temos vários fatores que influenciam a inflação e isso continua valendo. Temos uma economia que está começando a mostrar melhora, além do retorno da confiança. Acredito que as projeções de inflação têm toda a chance de cair também", respondeu.

Ele evitou ainda comentar a reação do mercado ao RTI desta terça. "Sempre estamos dando o recado do Banco Central, qual a nossa meta, onde estamos mirando. Não comento aqui o que acontece no mercado após a nossa comunicação", concluiu.

Cenário global desafiador

Ilan Goldfajn voltou a dizer acreditar que o cenário global é desafiador, conforme descrito no RTI. Ele citou especialmente a decisão do Reino Unido em deixar a União Europeia após referendo na última sexta-feira, no chamado "Brexit". "Acredito que o cenário global é desafiador. Vamos enfrentar volatilidade e choques ao longo dos próximos anos", afirmou.

Segundo ele, o Brexit terá implicações para a economia global, principalmente para o comércio e crescimento da atividade no mundo, com reflexos no Brasil. "Ainda não estão completamente mapeadas as consequências para o futuro, o que produz incertezas para frente com as quais vamos ter que conviver. Sabemos que é um impacto que deve reduzir de alguma forma o crescimento global e deve influenciar o crescimento no Brasil, mas não sabemos a magnitude", acrescentou.

Goldfajn reforçou que, caso seja necessário, o BC adotará medidas adequadas para o bom funcionamento do mercado financeiro no País. Ele lembrou que o Brasil tem condições para enfrentar essa volatilidade, como o saldo das reservas internacionais, o regime de câmbio flutuante e um sistema financeiro sólido e com baixa exposição internacional. "Acredito que impacto de curto prazo (do Brexit) está sendo contido, vamos observar impactos de médio e longo prazos no mundo e no Brasil", concluiu.

Exceção

Goldfajn abriu sua primeira apresentação oficial com jornalistas de forma bastante informal e prestando uma homenagem ao diretor de Política Econômica, Altamir Lopes, que deixará o cargo nos próximos dias. Ele deixou claro, no entanto, que sua participação em uma entrevista de apresentação de um RTI é exceção e que não se deve esperar que o presidente compareça em outras ocasiões.

"Este é o primeiro relatório da minha gestão. A ideia é prestigiar os documentos do BC e, como disse em meu discurso de posse, comunicação é parte importante do regime de metas de inflação e o Relatório Trimestral de Inflação é o documento mais relevante do BC com a sociedade", destacou. "Normalmente não vou descer para apresentar o RTI. O RTI é apresentado por diretor de Política Econômica e vai continuar sendo, estou abrindo exceção por ser o primeiro", reforçou.

Em seguida, Goldfajn disse que este é o último RTI com Altamir, que vai se aposentar do BC após 40 anos de carreira. O presidente ressaltou o currículo do diretor, dizendo que ele é de Formosa (GO), acompanhou a constituição do BC, da estabilidade econômica e também viveu crises, trabalhando na negociação da dívida externa. "Ele tem esse passado", resumiu.

Goldfajn disse ainda que Altamir ficou 16 anos no Departamento Econômico e que é a "cara mais conhecida" do BC. "Queria fazer homenagem a Altamir", terminou.

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