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Entrevista com Sérgio Porto

06:00 | Mar. 05, 2016
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O POVO - O que você vê nesse momento na economia brasileira?
Sérgio Porto – Tem um quadro muito complicado associado à questão politica. Na história do Brasil nunca tivemos praticamente todas as principais autoridades da República respondendo a processo. É um quadro institucional delicado. E que leva a uma retração dos investimentos. Para os empresários, há um pouco de surpresa e essa necessidade de esperar. Só que, economicamente, nossas empresas não podem parar, temos investimentos, contratos. Do ponto de vista dos incorporadores, o investimento leva – entre escolha do terreno, projeto, construção e entrega - entre quatro e cinco anos. Então esses empresário precisam continuar trabalhando para cumprir o que foi contratado.
OP – Como o senhor disse, o mercado trabalha com planejamento. E nesse pensamento de mais longo prazo, quando o empresário vislumbra uma melhora?
Porto - O empresário do setor imobiliário por si só é otimista. Nós vimos que 2015 estava difícil, esperávamos que o segundo semestre de 2016 fosse melhor. Pelas notícias atuais, de redução do PIB, acredito que vamos passar todo o ano de 2016 assim. Agora, esperamos por 2017, mesmo que os economistas não estejam apostando nisso. Mas deve ser melhor até do ponto de vista de que já estaremos mais adaptados ao quadro.


OP – O setor imobiliário cearense sofre menos que os demais neste momento?
Porto - O Ceará tem criatividade. Por exemplo, na década de 1990, no Governo Collor, a Caixa Econômica parou de financiar imóveis e os empresários construíram um plano para começar a financiar, eles mesmos. Mesmo reclamando, ressaltando que não eram bancos, fizemos isso e tivemos sucesso. Apostamos muito na criatividade do empreendedor cearense, nessa capacidade de trabalhar com pouco.


OP – Os ônus e bônus da economia nacional costumam demorar a chegar ao Nordeste. Quando o Brasil já mostrava desaceleração, o Ceará comemorava seu PIB. Essa chegada mais tardia da crise, também significa que ela vai demorar mais a ir embora.
Porto - Historicamente é assim. O Ceará demorou a começar a crescer no segmento imobiliário, o que começou pelo Sudeste. Assim, a crise deveria demorar a chegar aqui. Mas não é bem assim porque estamos falando, por exemplo, de crédito. E, nesse aspecto, quando fechou a torneira no Brasil, fechou para todos.

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OP – A crise econômica brasileira tem impacto diferente nos setores e segmentos. No mercado imobiliário cearense, quem vai bem e quem vai mal?
Porto - O Secovi representa toda a parte de comércio e serviços imobiliários, então temos as imobiliárias, loteadoras, aluguel, flats, shoppings, condomínios... Determinados segmentos estão indo bem. O que não vai tão bem, por exemplo, são os alugueis comerciais. Isso porque a economia está retraída, se grandes redes fecham as lojas, reveem planejamento, então você tinha um espectro de loja à disposição que não existe mais. Já o residencial, como os lançamentos estão caindo, as pessoas estão adiando a compra da casa própria e ficam no aluguel. E o número de lançamentos cai porque quando uma empresa não está vendendo bem, ela reduz os lançamentos, posterga. É um ajuste quase imediato.


OP- Esse é o momento de comprar?
Porto - A dinâmica é a seguinte: o preço do terreno, em função de pouca demanda, tende a cair. Agora, quem tem o terreno, que normalmente é uma pessoa capitalizada, pode postergar essa venda, esperar o mercado retornar. Mas também tem aquelas pessoas que precisam vender, aquele terreno retalhado, então esse preço a gente acredita que vai cair. Aí, como lógica, você pensa que o preço do imóvel novo vai cair. Só que o imóvel novo tem uma série de setores de materiais de construção, em que há poucas empresas dominando o mercado, e eles mantêm o custo. Não deixam, por exemplo, a saca de cimento despencar muito. Então eu não vejo como o preço do imóvel, nesse sentido, cair. Agora, por que é vantagem comprar agora? É porque muitas incorporadoras entenderam que é o momento de fazer feirões, promoções, para vender o que não foi vendido no lançamento. Ou, algumas que retornaram por ocasião do destrato. Então, nessas ofertas, nesses feirões, nessas promoções, que são feitas, você encontra ótimas oportunidades para poder realizar a sua compra. Então, a compra está muito associada, eu vejo, à necessidade da pessoa. Por exemplo, as pessoas não vão deixar de casar. A pessoa está acomodando, mas ninguém vai deixar de casar por conta disso. Até pode pensar “vou diminuir a festa, mas vou ficar com meu apartamento próprio”. Então, eu vejo com bons olhos, nesse sentido, o momento de compra. Se você tem a necessidade de comprar, é um momento bom para adquirir. Já se você pensa em investir, como estava acontecendo no passado, que a pessoa comprava na planta para revender no futuro... é um mercado incerto. Pode ser exatamente o momento, mas aí, você vai correr o risco.


OP - Este é o melhor momento para alugar ou comprar?
Porto - O casal que planejou, que fez poupança, está no melhor momento para comprar. Um casal que não fez essa poupança, que contou com crédito, então seria oportuno, talvez, alugar e fazer uma poupança para comprar.


OP – O Ceará e Fortaleza já passaram por coisas piores?
Porto - Sim! Hoje temos segurança jurídica muito melhor, os prédios com patrimônio de afetação. Ou seja, se fosse o caso, de uma empresa ter problema, outra assume porque o patrimônio está desafetado. Foi colocado ao longo dos anos, principalmente de 2004 pra cá, uma série de segurança juricias para o comprador. Outra coisa, nossas empresas saíram se um período excelente, sustentado por dez anos. Das outras vezes, nós estávamos numa situação mais ou menos e entramos num decréscimo. Então, dessa vez, as empresas estávamos capitalizadas, tecnologicamente avançadas, mais produtivas. Então elas tem essa musculatura para enfrentar uma crise. Não vemos uma crise maior que as que já tivemos. O mercado está melhor porque há mais empresas e empresas mais sólidas, preparadas. Essa é minha visão, com 33 anos de mercado.


OP - Por isso que a crise não é pior? Pela resistência ou pela situação do País?
Porto - O Nordeste, sem dúvida, foi muito beneficiado por essa circulação de dinheiro nas classes mais baixas. Isso irriga todas as áreas da economia. Mas as nossas empresas também estão melhores. Na minha ,opinião, é a conjunção de todos esses fatores.


OP - Alta renda passa ao largo e as classes baixas são o foco de programas assistenciais do Governo, como o Minha Casa, Minha Vida. Isso quer dizer que essa crise é da classe média?
Porto – Historicamente, quem sofre mais é a classe média. Anteriormente, quando não havia esse programa, o mercado de baixa renda sofria. Mas ele já era subofertado. Acredito que Minha Casa, Minha Vida vai sofrer, como já está sofrendo. Porque não tem dinheiro com esse quadro orçamentário. Mas a classe média sempre sofre.


OP – Qual o papel de uma entidade de classe como o Secovi nesse momento de crise?
Porto - A crise é um momento de união maior, quando você sente que sua empresa não vai resolver o problema sozinha. Então é hora de se juntar a uma entidade de classe, no caso o Sindicato, para que juntos promovam mudanças ou segurem o que estava indo bem. A função da entidade de classe é essa, ser porta-voz do mercado para que as autoridades ouçam o que está acontecendo.
OP – o empresário cearense é unido, engajado?
Porto - Vou sempre dizer que poderia ser melhor. Os estados do Sudeste e Sul têm uma presença mais maciça. Embora nossa presença seja boa, estamos sempre chamando para essa discussão. Não faz sentido ter um sindicato sem as vozes deles. E digo isso na questão política, porque na financeira, de pagamento, estamos muito bem.

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