Demanda fraca altera expectativa da indústria para próximos meses, diz FGV
O especialista ressalta que a avaliação sobre a demanda interna, sobre a demanda agregada, o ímpeto de contratações para os três meses à frente e o nível de utilização da capacidade instalada caíram para os menores níveis de suas séries, iniciadas em 2001. "A pesquisa mostra que a fraqueza da demanda interna suprime os efeitos positivos de fatores que poderiam atenuar o pessimismo no setor, que são o nível do câmbio e o ajuste dos estoques,", disse Campelo.
Segundo o economista do Ibre, a percepção sobre a demanda interna é tão ruim que gera pessimismo para os próximos meses. Não por acaso, o Índice de Expectativas (IE) foi determinante para o recuo da confiança em fevereiro, ao cair 2,8 pontos, para 72,6 pontos, também o menor nível nos 15 anos da série. "Apesar de a percepção sobre a demanda externa estar acima da média histórica, o indicador de demanda interna está tão baixo que derrubou a demanda agregada ao menor nível histórico", pontuou.
Mesmo em um nível mais alto, já não há o mesmo otimismo que havia antes em relação ao cenário externo, que já foi considerado uma espécie de tábua de salvação para algumas empresas devido ao aumento de competitividade com a desvalorização do real ante o dólar. "Em relação à construção, aos serviços e ao comércio, a indústria é a que pode se beneficiar mais da frente externa. Mas pode ter havido uma limitação deste efeito positivo devido ao cenário global um pouco duvidoso", disse Campelo, em referência à desaceleração da China e dúvidas sobre o crescimento nos Estados Unidos.
Dos 19 segmentos pesquisados, apenas cinco registraram aumento na confiança na passagem de janeiro para fevereiro: indústria química, limpeza e perfumaria, metalurgia, máquinas e equipamentos e outros equipamentos de transportes. Quanto ao emprego previsto, a proporção de indústrias que pretendem contratar está no menor nível desde 2001. "Apenas 7,9% das 1.101 empresas pesquisadas dizem que pretendem aumentar o total de pessoal ocupado nos próximos três meses", revela Campelo. Por outro lado, o nível das que pretendem demitir avançou de 21,0% para 29,1% entre janeiro e fevereiro. "A proporção é alta, mas já foi mais elevada", ponderou.
De maneira geral, a indústria está sinalizando mais uma diminuição da produção no primeiro semestre de 2016, na avaliação do especialista. "Se a indústria ficasse estável a queda na produção em 2016 já seria de 6,2%. Se houver mesmo essa redução no primeiro trimestre, vai ser preciso algum crescimento ao longo do ano para não haver um desempenho ainda mais fraco neste ano", estimou.
Campelo considera que o desempenho do mercado interno será determinante para concretizar uma melhora na confiança da indústria. "Se o consumo das famílias parar de piorar tão fortemente, o setor pode ver confirmado um cenário de ligeira melhora que parecia esboçar até a virada do ano", avaliou.
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