Demanda externa e concessões em infraestrutura devem resgatar economia em 2017
Conforme analistas afirmaram ao Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, a base de comparação fraca com o PIB de 2016, que segundo o mais recente Boletim Focus deve cair 3%, pode favorecer a expectativa de recuperação em 2017. Além disso, já existem evidências de que a queda da atividade chegou ao fundo do poço, como a estagnação da piora da confiança dos empresários e da alta nos níveis dos estoques da indústria. A recuperação, contudo, deverá ser lenta uma vez que a indústria, bastante debilitada, ainda tem de se reestruturar, retomando investimentos, para reconquistar mercados no exterior.
"Nos próximos anos o que vai puxar o crescimento é a demanda externa. Alguns indicadores antecedentes já mostram alguma estabilidade do pessimismo, entre eles os de demanda por exportação", diz o presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e Globalização Econômica (Sobeet), Luis Afonso Lima, cuja previsão para o PIB de 2017 é de alta de 1,5%. "Alguns empresários já estão conseguindo fazer a transição para mercado externo, diante do consumo interno baixo. O câmbio desvalorizado também ajuda", completou.
Num primeiro momento, diz o economista, a retomada das exportações deve vir pelos produtos básicos, commodities agrícolas e metálicas, em que o País já tem tradição, uma vez que itens de maior valor agregado exigem investimentos que levam tempo para maturar.
Lima também vê o plano de concessões em infraestrutura como uma boa janela de oportunidade para o crescimento, que deve estimular o investimento estrangeiro. "No mundo todo, as empresas estão buscando oportunidades de expansão. Em 2015, o volume de IDP (Investimento Direto no País) foi elevado e houve melhora qualitativa, passando de serviços para indústria e agropecuária. O plano de concessões em 2016 abre as portas para estes investimentos", disse.
Para o economista-chefe da Kinea Investimentos, Luis Fernando Horta, "sem sombra de dúvida", o setor externo deve evitar uma deterioração adicional do PIB à frente. "A alta do dólar ajuda um pouco, já que aumenta a competitividade das empresas brasileiras, mesmo diante de problemas com custo Brasil, que se mantém elevado", avaliou.
A partir do segundo trimestre deste ano, Horta estima que a economia brasileira começará a dar algum sinal de melhora, com o PIB se estabilizando até o quarto trimestre. "A confiança da indústria e do consumidor parou de piorar. Parece que há um início de melhora nas variáveis de confiança", justificou. Apesar de reconhecer que o nível dos estoques ainda está elevado, o economista da Kinea ressalta que o setor industrial sinaliza estar fazendo alguma correção, na tentativa de retomar a produção.
Para a Kinea, o PIB deve fechar este ano com queda de 3,00% e pode voltar a crescer em 2017, com taxa positiva estimada entre 0,80% e 1,00%. No entanto, pondera que há risco de a estimativa ser revisada para baixo. Horta afirma que se algumas medidas implementadas pelo governo no passado, que "não deram certo", como as de estímulo ao crédito e as demais medidas "não convencionais" de estímulo à economia, forem retomadas, pode prevalecer o chamado 'voo de galinha'.
Simão Silber, professor da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP), acredita que a economia irá atingir o fundo do poço em algum momento do terceiro trimestre deste ano para, depois, dar início a um processo de melhora paulatina. "As empresas estão começando a se organizar para aumentar as exportações, por causa do câmbio e devido ao enfraquecimento da demanda interna", disse. Em sua visão, o País também conta com alguns estímulos em andamento, por meio de concessão de aeroportos, rodovias e ferrovias, além de gastos do governo que podem injetar recursos no longo prazo.
Trava política
Mas Silber, por enquanto, não enxerga possibilidade de grande virada de 2016 para 2017, dada a condição econômica e política frágeis. "Do ponto de vista político, o País tem uma estratégia estritamente de sobrevivência. Nessas condições, o setor privado se retrai", sugeriu.
E, na contramão do mercado, o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, não vê retomada em 2017 "em um cenário que a presidente não saia". "Temos queda de pelo menos 1% no ano que vem e isso continuará sendo dado pelas dificuldades políticas que estarão ainda mais escancaradas caso a presidente Dilma Rousseff passe este ano", disse. "São tantos riscos em conjunto que será muito difícil reconquistar a confiança e, por isso, a razão de acreditar que a recessão se mantém ano que vem", afirmou. Entre os riscos, Vale cita as dificuldades na área fiscal - "Ela não conseguirá aprovar absolutamente nada no Congresso".
Em seu cenário, caso haja mudança de presidente, "tudo muda". "Em 1992, quando o Collor saiu houve uma expectativa tão positiva que a indústria disparou no ano seguinte. Por isso, uma saída da presidente poderia melhorar um pouco a economia, nada demais, mas poderia ser um modesto crescimento de 0,5%", comentou.
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