Alta de ônibus e metrô já pressiona inflação
Boa parte desse efeito será sentido em janeiro, mas até o fim do ano outras cidades promoverão reajustes no transporte. O impacto final deve chegar a 0,31 ponto porcentual na inflação em 2016, estima a LCA Consultores. O cálculo exclui passagens aéreas e transporte escolar, que não têm preços controlados.
Em 2015, a inflação no primeiro trimestre deu um salto com a alta de tarifas até então represadas, como energia elétrica, combustíveis e transporte público. Esses itens deram uma contribuição e tanto para que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) chegasse a 10,48% em 12 meses até novembro.
Agora, as tarifas de transporte público dão um novo salto, efeito secundário da inflação de dois dígitos que já penalizou o bolso dos brasileiros em 2015. Isso porque muitos contratos tomam como base índices de preços, como IGP-M ou o IPCA. "Claramente é um belo exemplo de como a inflação passada afeta os reajustes do presente. Há essa ideia de carregamento, que é um empecilho para o Banco Central na batalha contra o aumento de preços", afirma o analista Marcio Milan, da Tendências.
Em São Paulo, região com maior peso no índice oficial de inflação, as tarifas de ônibus, trem e metrô vão passar de R$ 3,50 para R$ 3,80 no dia 9 - alta de 8,57%. No Rio, o ônibus aumentou de R$ 3,40 para R$ 3,80, avanço de 11,7%. "Uma parte desses reajustes era esperada. O que não se esperava era a magnitude, especialmente no Rio", conta Milan.
Os reajustes de ônibus no Rio e em São Paulo terão, cada um, impacto de 0,07 ponto porcentual na inflação, calcula a LCA. Com menor peso em termos nacionais, Belo Horizonte teve alta de 8,82% na tarifa de ônibus, de R$ 3,40 para R$ 3,70, no dia 3. Em Salvador, o valor subiu 10% no dia 2, de R$ 3 para R$ 3,30.
Há também aumentos de táxi no Rio, no Recife e em Porto Alegre, além de reajuste no ônibus intermunicipal no Rio e em Belo Horizonte. O Rio ainda verá suas tarifas de trem e barcas ficarem mais caras em fevereiro.
O ônibus urbano, sozinho, responde por 2,55% dos gastos de uma família média brasileira, aponta o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para os consumidores de baixa renda, essa fatia beira os 10%. Por isso eles são, como em 2015, os mais penalizados por esses aumentos.
Ano eleitoral
Aparentemente, nem o ano eleitoral tem persuadido as administrações públicas a aliviarem a mão nos reajustes. Embora, do ponto de vista político, as eleições municipais sejam motivo para amenizar aumentos, a pressão sobre os cofres públicos parece ter prevalecido. "Havia expectativa de que os reajustes fossem mais tímidos, mas isso não se concretizou. Há pressão de custos, e algumas prefeituras estão com caixa apertado e não podem dar subsídios", diz André Braz, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).
Entre os custos estão o óleo diesel, que subiu 12,75% no ano até novembro, segundo o IPCA, e a mão de obra. O economista da FGV lembra que o salário mínimo - que guia boa parte das remunerações do setor de transporte - avançou 11,6% neste ano, para R$ 880. "Até agora, quem tinha que dar reajuste o fez. Não conseguimos perceber processo de represamento", afirma o economista Étore Sanchez, da LCA Consultores.
A LCA projeta que a inflação ficará em 7,1% em 2016 - mais um ano, portanto, acima do teto da meta de 6,5%. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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